11.9.06

Piedade II


Passei três dias seguidos em Piedade. Há muito tempo eu não fazia isso. Muita coisa perdeu o sentido de alguns anos para cá, não me reconheço e chego a esquecer que morei 18 anos naquele lugar, minha única referência de mundo até então. Tentei me integrar, eu tinha vivido tudo aquilo, não era possível não sentir-lembrar. Mas o que faz o lugar são as pessoas, porque o resto sempre muda... as pessoas também mudam, mas mudavamos juntas. No limite de tudo, os bares sempre mudam. A Casa da Cultura não é mais aquela onde passei as angústias, descobertas e amarguras da adolescência. Foi reformada, tomada pela prefeitura e agora mais parece um clube de mães que passam a vida pintando guardanapos. O teatro, a música, nossas bebedeiras se foram. Não tínhamos quase nada, tudo meio despencava, os cupins almoçavam cotidianamente nosso palco e o dinheiro era sempre muito curto. Mas tínhamos a chave da casa, um grupo de companheiros (um tanto quanto fechados, é fato, mas funcionava pra gente), um texto,um palco, música.... e vinho XV de novembro (carcanhá de grilo, carchera de fósfro, 10 + 5 é quinze, já que tá que fique...XVXVXVXV! Esse é mais ou menos o hino do glorioso XV de Piracicaba, sempre reverenciado após algumas garrafas) e Derby solto vendido no bar do Paulo por módicos 0,10 centavos cada.
Saudades de Piedade.... daquela que a maioria de nós abandonou. Nós crescemos e ela ficou apertada. Nós fomos embora e ela se modernizou. Mas, me perdoem o talvez excessivo conservadorismo, não consigo enxergar que as coisas melhoraram. Um mercado grande com açougue, padaria e quitanda que faliu todos os pequenos comerciantes e uma Casa da Cultura reformada,linda, moribunda e quieta, a meu ver e tendo minha memória como critério, não são exatamente sinais de progresso...