25.12.07

Lembrancas de Natal...

Meio que sem querer, vem sempre na cabeca...




papai noel velho batuta

garotos podres


Papai Noel filho da puta
Rejeita os miseráveis
Eu quero mata-lo
Aquele porco capitalista
Presenteia os ricos
E cospe nos pobres
Presenteia os ricos
E cospe nos pobres
Papai Noel filho da puta
Rejeita os miseráveis
Eu quero mata-lo
Aquele porco capitalista
Presenteia os ricos
E cospe nos pobres

Presenteia os ricos
E cospe nos pobres
Pobres
Pobres

Mas nos vamos sequestrá lo
E vamos mata-lo
Por que?

Aqui não existe natal
Aqui não existe natal
Aqui não existe natal
Aqui não existe natal

Por que?

Papai noel filho da puta
Rejeita os miseráveis
Eu quero mata-lo
Aquele porco capitalista
Presenteia os ricos
E cospe nos pobres
Presenteia os ricos

20.12.07

" - Como é que nunca viemos a esse lugar?
-É que não prestamos a devida atenção.
- Em nada.
- É verdade."

18.12.07

Para, pelo menos de vez em quando, lembrar de esquecer...

- Está tudo estranho...
- Não... Está tudo igual ao que sempre foi.
- É.

17.12.07

Sobre a melancolia...

"Quando eu penso em escrever, logo me vem algo ligado ao plano da melancolia. Então, pensei por um momento se isso seria vitimização. Se o culto a melancolia seria apenas fonte de inspiração íntima, ou se a melancolia é mesmo algo que me constitui. Afinal, o que é a melancolia senão uma brecha dentro de nós preenchida por um nada que de tão significativo não sabemos o real sentido. Eu não sou melancólico, eu acho. Mas eu trago a melancolia em mim. Dentro de algum lugar, tenho uma brecha preenchida por uma lava branca e inexplicável e que, volta e meia, emerge e me transborda. Na verdade, acho que todos temos. Mas o exercício de investigá-la, na tentativa de entender sobre ela o que representa em nós, ainda que saibamos nunca ser possível atingir tão complexo nível de auto-conhecimeto, nos faz um pouco tristes e maduros. Permitir-se à melancolia é saber reconhecer que ela existe, nos constitui, e é inevitável. A maturidade é pouco isso. Saber dosar parcelas saudáveis de dor sem que elas possam nos tomar por completo o tempo todo. É a busca por saber medir o quanto cada coisa pode e deve nos render de efeito. Mas a maturidade, ainda assim, não pode nos fazer absortos na racionalidade, e esse será mais um limite a ser administrado. Isso está ligado ao lance de que a maturidade não pode nos embrutecer diante dos fenômenos que nos cercam, pois, afinal, poucas são as verdades universais. O amor, por exemplo, é algo que maturidade alguma poderá suprir por completo. Ela poderá até criar um mecanismo de preenchimento sintético para aquela brecha, que temos, destinada ao amor, mas a artificialidade não suprirá a complexidade orgânica. E a falta da prática amorosa nos fará completamente melancólicos, e, logo, pouco maduros. Tenho amores tão grandiosos em mim. E eles ora me fazem mais melancólico, ora me distraem dela." P. Salvetti in: palavra do olhar.

Querido,,, O tempo passa e continuo me lendo em você.

Do cuidar e ser cuidada

"Meu coração não sabe.
Estúpido, ridículo e frágil é meu coração.
Só agora descubro como é triste ignorar certas coisas.
(Na solidão de indivíduo
desaprendi a linguagem com que homens se comunicam.)"
C.D.A

Às vezes, se passa tanto tempo sozinha, só cuidando da própria vida, que a gente esquece as delicadezas e cuidados com o outro. E como é bom recebê-las também. A gente se acostuma a grosseirice e solidão da existência de tal forma, que cuidado pode parecer uma invasão, um dedão metido na sua privacidade e individualidade.
Então um dia, alguém, depois de muito tempo, te faz um café, forte e amargo como a vida, só que dessa vez para dividir com um chocolate.
Linda vida... De só amarga e forte, para agora, meio amarga, meio doce...

Daí você se lembra... Meu Deus, há quanto tempo ninguém me faz um café...

De vez em quando minha mãe me acorda com um beijinho dizendo...
- Neguinha, acorda, vem tomar café com a mãe.
E reclama depois porque fez o café muito mais forte do que ela gosta, porque é como eu gosto. E diz que meu estômago não vai aguentar muito tempo e que tenho que parar de fumar. E me lembra que ela é minha mãe.
Não um companheiro.

Triste coisa essa de esquecer o carinho. De ficar tão chucra com tudo, de esquecer como se lida com as pessoas, a ponto de ficar com uma vontade enorme de só viver com cavalos. Triste ser ingrata e rude por inabilidade.
Triste chorar por não saber mais falar o que sente. Quando choro é recurso de linguagem.
Por nao conseguir agradecer o café e a companhia.
Por ter tanto medo do outro, pavor de se acostumar com o carinho e, quando perdê-lo, tudo ficar muito pior do que antes.

A ponto de, sinceramente,desejar a solidão, velha conhecida.

Acho que na verdade, eu não desaprendi nada.
Eu nunca soube a linguagem com que os homens se comunicam.


Apesar do esforço....

11.12.07

Primeiro dia em que me senti de férias... Normalmente, semanalmente, a terça- feira é um dia em que falo feito uma radialista louca no breve período entre 9 da manhã e 7 da noite. Saio rouca, mal humorada, não consigo ler... E quanto mais trabalho, mais dá vontade de beber no fim do dia. Nunca consigo ir para casa na terça - feira...
Hoje não... acordei tarde, tomei um café meio esfumaçado demorado, fui até a feira comprar peixe ( e voltei correndo... gosto, mas me atordoa), dormi um pouquinho, li um texto e depois me joguei em um romance que está há um tempo me olhando da prateleira.
"A Dor"- Marguerite Duras. Adoro romances de fundo histórico militante, e esse é biográfico. Principalmente aqueles da série que tem amores entre companheiros comunistas. Esse é outro. Sobre a resistência francesa.
No entanto, depois que a moça sofre metade do livro esperando a volta do seu companheiro preso em um campo de concentração, toda a agonia pós desocupação da França pelos exércitos nazistas, todo o desespero de não saber se o moço está vivo ou não... O que mais me impressionou, foi a segunda parte.
A mocinha quase fofa do começo, tortura violentamente um delator colaborador da Gestapo. Impressionante. Parece outra pessoa. Brava. Sem pena.Com ódio. Dura. Faz o que tem que ser feito e acabou.

Parei na última parte, quando ela começa a se relacionar com outro companheiro. Não consegui.

Não consegui parar de pensar se eu seria capaz de torturar alguém. Mesmo que esse alguém seja um filha da puta. Achava até agora a pouco que tinha uma listinha de pessoas que eu mataria com requintes de crueldade por questões pessoais e políticas sem pestanejar. Já não sei mais.

Se acho tão certo que algumas pessoas não merecem viver (e eu acho), então teoricamente, deveria também ser capaz de executar tal função, com os meios que precisar.
Mas hoje, pensei que nem com todo minha raiva acumulada, eu seria capaz de algo tão violento. Talvez fosse capaz de matar com arsênico, tiro na nuca ou coisa assim. Mas tortura é outra pegada.

Me senti covarde. Não é porque não temos agentes da Gestapo pelas ruas, que vivemos em um mundo muito melhor.
E se o caos chegar? E se eu precisasse pegar em uma arma? Ou pior: ter nas mãos alguém que sabe e precisa falar.
Por agora, tudo bobagem da minha cabecinha que vive um pouco no mundo de agora, um pouco no mundo da literatura .

Mas e se fosse uma guerrilha? Será que eu pediria para ficar só na ala da enfermagem?

2.12.07

Muito bem... Agora foi...
Corinthians na segundona... Justamente durante o jogo, muita gente a minha volta sofrendo e outros comemorando. Isso porque o Timão não admite meio termo, ele é meio como o Maluf. Ou se vota sempre, ou não se vota nem para síndico.
Enfim, vi até o Rubão, um puta negão gigante, chorandinho de canto. Bom, nessa, eu e um companheiro resolvemos criar algumas justificativas para aqueles chatos, principalmente são paulinos e palmeirenses que vão passar o ano enchendo o saco...

- Vai ser muito legal dar rolê pelo interior... Jogar contra times tradicionais e injustamente pouco reconhecidos como o Ipatinga, o Ponte Preta, o Ituano. Quer dizer, o Ituano não porque ele foi para a terceira.
- Se continuarmos assim, logo, logo, poderemos ir fazer um churrasco em Piedade e assistir o Corinthians jogar contra o glorioso Caveira dos Anjos.
- Primeira divisão é pra burguês que gosta de espetáculo. Legal é time de várzea, segundona... Tipo o grande "Bem Bolado" do Parque Edu Chaves...
- Os pais que torcem para times diferentes, tipo pai corinthiano e mãe santista, agora não precisam mais disputar: Torce para um de primeira divisão, e um de segunda, ué!
- A Globo não tem mais o público da Gaviões garantido. Se quiser, agora vai ter que transmitir de Marília.
- Os ingressos são mais baratos.
- O futebol da série B, por serem times considerados de menor importância, são menos visados pela máfia da Cartolagem.

E principalmente: Agora eu quero ver quem é quem. Na hora da merda é que dá pra ver quem é corinthiano mesmo.
Gostar do que está em alta é fácil... Quero ver ser leal nas dificuldades e fudidas. Esses geralmente são os momentos mais fortemente registrados na trajetória...
E como será que vamos lembrar disso?

29.11.07


Fui muito educada pela dor. Pelo menos é assim que minha memória coloca as coisas. Realmente nunca achei a alegria muito pedagógica. Nem nunca gostei muito de gente muito feliz. Achava-as medíocres. Como podiam parecer tão alegres em um mundo tão ruim? Será que só a minha vida era uma merda?
Minha alegrias momentâneas sempre foram os resultados da dor, seus produtos. Tentar ser artista quando ainda era jovem, escrever, ler, beber, ter relações confusas que acabavam em reencontros calorosos... Tudo muito. Tudo intenso. Não tinha medo não. Não tava nem vendo porque tudo valia a pena.

Sempre preferi a dor ao tédio. Sempre achei que podia ser mais forte do que ela porque a sensação de superação, deixava um ar de heroísmo. Era como se o tempo todo eu dissesse: Pode vir, mas vem com toda a força porque não é qualquer merdinha que me derruba. E não derrubava. Podia me jogar na lona por uns dias, mas dali a pouco, lá estava eu caçando confusão. Andando com gente errada. Brigando até as lágrimas. Provocando deuses e pessoas.

Mas acho que cansei. Não da tristeza, porque ela é minha e sempre vai ser. Nunca vou saber viver sem ela. Nunca vou ser alegre. Não seria eu, seria outra que faria outras coisas, de outra forma. Mas cansei de tentar ser maior do que ela. Depois de anos de árduas batalhas, perdi e não quero mais brincar. Quero que ela saiba que perdi e assim me deixe em paz, fique quieta, ali no cantinho dos que existem, mas nem sempre são lembrados.

Ontem ouvi uma voz da sapiência que me perguntou: Por que você se castiga?
E hoje li um texto de alguém que me faz muita falta que falava de medo. Medo da morte.
No fim, o medo explica muita coisa.
Sempre tive muito medo da morte em vida. Daquela morte lenta que se constrói todo dia. De ficar anestesiada, transparente no mundo, burocrata com a emoção.


Talvez a felicidade me passe essa idéia. De que estar feliz é estar morrendo para todo o resto. É acomodar-se e definhar no desejo satisfeito. Parar de buscar saídas, coisas novas, alegrias intensas momentâneas e que trazem a ressaca da dor que ensina.

Meu amor da pequena Londres... Como estou errada e cansada disso tudo. Como eu queria agora estar frágil, fraca e feliz no teu colo. Sem superar nada...

Queria só que nosso sal compartilhado, redimisse nossa tristeza e nos desse a mediocridade dos que riem feitos bobos para o mundo. Só isso. Besta assim.

23.11.07

Como a noite descesse...


Como a noite descesse e eu me sentisse só, só e desesperado diante dos horizontes que se fechavam
gritei alto, bem alto: ó doce e incorruptível Aurora! e vi logo
só as estrelas é que me entenderiam.

Era preciso esperar que o próprio passado desaparecesse,
ou então voltar à infância.
Onde, entretanto, quem me dissesse
ao coração trêmulo:
- É por aqui!

Onde, entretanto, quem me dissesse
ao espírito cego:
- Renasceste: liberta-te!

Se eu estava só, só e desesperado,
por que gritar tão alto?
Por que não dizer baixinho, como quem reza:
- Ó doce e incorruptível Aurora...

se só as estrelas é que me entenderiam?

Sobe
Emilio Moura

21.11.07

O Rio continua lindo...

Pois é... O Rio, além de lindo dá dessas... 500,00 paus e você sai limpo da delegacia, de onde você também ligou para pedir o resgate. Reprimir classe média (principalmente a alta) nos termos da lei não dá e não compensa: Se matar, o pai e mãe fazem passeata pela paz, pela redução da menoridade penal, a favor da pena de morte e o escambau.

Se levar para a delegacia, em meia hora tem um advogado, "dotô", que vai lá, humilha, faz um escarceu e solta o menino porque filho de pobre é viciado e ladrão, portanto tem que ir preso. Já filho de classe média e rica vai para a clínica de recuperação.

E nessa a galera, quer dizer, os puliça, resolvem aplicar sua própria punição que além de dar menos trabalho e dor de cabeça, ainda rende o complemento do orçamento. E desconfio que, em termos de "eficiência" pedagógica, até funcione melhor.
Cada um correndo como dá... Uns pagando pra não ter preocupação. Outros recebendo pelo mesmo motivo... E ainda ficando momentaneamente menos pobre ...
Até aqui nenhuma novidade... Mas é que escutar uma história assim, em primeira pessoa vivida e experimentada, num churrasco de amigos, sempre faz pensar de que lado que a gente tá mesmo no mundo... Goste ou não.
E quando ferver, não vai adiantar levantar bandeirinha de socialista não ....
O que é o que é??

Clara e salgada,
cabe em um olho e pesa uma tonelada,
tem sabor de mar,
pode ser discreta,
inquilina da dor,
morada predileta.,
na calada ela vem,
refém da vingança,
irmã do desespero,
rival da esperança,
pode ser causada por vermes e mundanas
ou pelo espinho da flor,
cruel que vc ama,
amante do drama,
vem pra minha cama,
por querer, sem me perguntar me fez sofrer,
e eu que me julguei forte,
e eu que me senti,
serei um fraco,
quando outras delas vir,
se o barato é louco e o processo é lento,
no momento,
deixa eu caminhar contra o vento,
do que adianta eu ser durão e o coração ser vulnerável,
o vento não, ele é suave, mas é frio e implacável,
(é quente) borrou a letra triste do poeta,
(só) correu no rosto pardo do profeta.
Verme sai da reta,
a lágrima de um homem vai cair,
esse é o seu B.O. pra eternidade,
diz que homem não chora,
ta bom, falou ou vai pra grupo irmão ai
Jesus chorou !

O post é repetido... como a minha vida.

19.11.07


O Silêncio

Na sombra cúmplice do quarto,
Ao contacto das minhas mãos lentas
A substância da tua carne
Era a mesma que a do silêncio.
Do silêncio musical, cheio
De sentido místico e grave,
Ferindo a alma de um enleio
Mortalmente agudo e suave.
Ah, tão suave e tão agudo!
Parecia que a morte vinha…
Era o silêncio que diz tudo
O que a intuição mal advinha.
É o silêncio da tua carne.
da tua carne de âmbar, nua,
Quase a espiritualizar-se
Na aspiração de mais ternura.


Dá-lhe grande amigo Bandeira...

Fiquei encanada com esse quadro (O Beijo- Gustav Klimt)... Aparece no filme "El passado". Bem bonito o quadro e o filme. O quadro inspira aquela vontade de viver tudo, loucamente. Mas o filme te deixa com a sensação de que o presente tem um custo: Ele se torna seu passado. E quando fizer parte do seu passado, não tem mais jeito porque, mesmo que só na memória, não nos livramos mais dele... Uma hora ou outra, o passado se faz presente.


15.11.07

Então é natal...


Pois é... chegou de novo. Adoro as renas e a neve que domina a região da Paulista... Dá assim um ar civilizado, meio primeiro mundo pra gente. Só povinho subdesenvolvido mesmo para passar o natal no calor, tomando cerveja e fazendo churrasco.
Além disso, legal é a quantidade de coisas inúteis que todo mundo compra no Natal... Aquela festa de 13º salários se apertando na 25 de março, pessoas disputando a tapa bonecas que fazem xixi ... E o companheiro agente inflitrado do socialismo de mercado chinês, Law King Chong enchendo as burras de grana.

Bacana também no natal, é um certo surto de bondade e solidariedade nas pessoas... A polícia Federal por exemplo fica muito solidária e louca para distribuir renda, principalmente a de chineses que garantem o abastecimento das pechinchas e alegrias do natal.
Os caras prendem o chinês, apreendem uma caralhada de coisas fundamentais para o espírito natalino como bolsas chanel falsificadas e carrinhos de controle remoto que sobem paredes. Aí eles já fazem o Natal da mulher e das crianças da casa deles.
E o que sobra, o Estado doa para ong's, de forma que elas possam organizar bazares, e as pessoas mais pobres possam comprar, comprar, comprar.... E serem felizes também. Assim, o capitalismo se transforma um pouquinho mais em para todos. No natal as promessas se realizam. O nascimento do menino jesus e as roupas novas, redimem qualquer merda de ano.

É por isso que eu adoooorrroooo o natal... é quando mais de verdade se vê que quando os ricos gastam mais, os pobres sofrem menos.
O medo é que enclausura as pessoas. É ele que faz todo mundo viver nisso aqui e achar que tudo bem. Ele delimita até onde podemos ir. Dos nossos termomêtros, ou faro, é um dos que mais costumam ser respeitados.
O medo me lembra também uma animalidade incrível. Gente com medo faz besteira, fica arisco que nem bicho acuado. Medo dá frio no estomâgo, dá vontade de chorar e sair correndo para que aquela tortura acabe. Ele é a tortura em si.
Medo pode ser promovido por um fator coletivo, mas ele só pode se realizar individualmente. Só eu tenho aquele medo específico, sentindo-o do meu modo e provocado pelas minha trajetória, minhas histórias e marcas. Muitas pessoas compartilham medos genericamente, tipo medo de barata. Mas só eu sei qual é o tamanho da minha barata. A minha existência condiciona meu medo.
Sempre temos algumas sensações de infância que voltam... A minha pior sensação dessa epóca da vida, é o medo.
Depois que o medo foi passando na exata proporção em que a idade foi aumentando, fiquei folgada. Sabe quando você acha que já passou o pior medo da sua vida e que se sobreviveu, então não há mais nada que possa realmente te assustar?

Pois é, mais uma que eu me enganei.

Tipo achar com 4 anos que com 10 anos você vai ser super grande.
Que com 20 anos você vai ser mais tranquila, quando se tem 14.
E que achar que sentimento cria imunização, tipo rubeóla, aos 25.

12.11.07

Contenção

Sempre fico meio triste quando acabo um romance... É besteira, mas durante um tempo, eles viram meus amigos, meus companheiros de vida e busão. Começo a viajar como tal figura se sairia em x situação. Aprecio alguns valores dos personagens e detesto outros, prometendo sempre não fazer igual. Enfim, por meio do mundo criado pela narrativa do romance, acabo por entender um pouco mais minha própria narrativa...

Hoje o Martin Eden me abandonou. Fazia exatamente um mês que divídiamos angústias. Tentei economizar as últimas páginas, reduzi o ritmo de leitura, me afastei durante uma fase de leituras obrigatórias, li um outro romance mais curto no meio... Mas não deu. Hoje fiquei ansiosa para saber como ele solucionaria a vida que ele se esforçou tanto, todo o livro para conseguir.

E foi uma tristeza só ...

Tudo o que ele queria não passavam de coisas vazias. O amor que ele achava que sentia, na verdade era a idealização criada sobre uma mulher "pálida e burguesa", egoísta e que o abandonou quando ele mais precisava. Quando a fama chegou, quando ele se tornou "rico, bonito, famoso e solteiro", a imbecil voltou, confirmando a menina idiota e mimada que sempre foi e a idéia de que a pessoa amada por ele, na verdade, nunca existiu.

Sempre admirei e respeitei bastante os suicidas. Principalmente os suicidas ditos "vitoriosos". Eles escolheram, não tem porque não ser um decisão digna como as outras...

No outro romance que intercalou as aventuras do rapaz em questão, existia o Miguel que ficou comigo só alguns dias... Ele era quase um suícida. Passou a vida sofrendo por achar que amava e se casou com uma mulher que sempre gostou de outro. Preparou a partida para uma segunda - feira, e só então se deu conta de que a data foi escolhida porque era depois do futebol de domingo... E então desistiu.

Miguel não era um suicida. Era só um infeliz incapaz de lidar com o amor. No fim, se descobre que sua mulher o amava muito. Ele é que só era capaz de acreditar no que lhe alimentasse o pessismo.

Mas o Martin Eden não buscava motivos para ser infeliz. Ao contrário. Lutava com todas as patinhas por coisas que acreditava que lhe fariam feliz. Era pobre, fudido e queria ser escritor e ganhar dinheiro só para poder casar com a imbecil que não foi capaz de nada para lhe retribuir todo o amor que ele lhe destinava. Dizia que o amava, mas não bancou o universo diferente e mal visto ao qual ele pertencia. E, não aceitar o universo do outro e pior, tentar mudá-lo, é gostar de alguém que não existe.
Enfim, o vazio foi maior do que o gosto nas coisas que possuía a sua volta: dinheiro, fama, mulherada pra todo o lado...

Mas esse mundo não é feito de Martin Edens e sim de Migueis.

E a pergunta que me ficou na cabeça: Até quando o futebol de domingo vai continuar segurando essa vida?

Respeito realmente os suicidas. Acho sinceramente bem fácil entender os que se vão... Interessante realmente é entender como, nesse mundo, tantos ficam ...

Qual é o futebol de domingo de cada um?

9.11.07

Viva a butecada!

Butecada que é butecada tem que ser no bar de algum Seu João ou seu Zé. Geralmente um tiozinho figura que faz parte do cenário do buteco, junto com as conservas de queijo no óleo, e os pacotinhos de torcida.

Dar uma butecada só com mulheres tem suas especificidades. Butecada feminina tem sempre o fator exótico que deixa tudo meio bizarrão. Uma mesa só de mulher nunca passa impune no buteco.
Butecada de mulher, principante depois da oitava garrafa quando todo mundo começa a falar alto, chama a atenção daqueles figuras que vão todo santo dia no Seu João, portanto nós, e não o buteco, somos a quebra da rotina. Daí os figuras querem pagar cerveja, recitam poema no meio da rua, vira uma festa...
A gente já tá falando alto de sexo, silicone, crianças, universidade pública e vai embora...
Butecada que é butecada termina com as mocinhas saindo, visivelmente embriagadas, empolgadas com a discussão sobre a privatização do mundo e soltando aquela fascistada etílica, xingando os estudantes da FFLCH de vagabundos, só pra finalizar a conversa.

Esbarra em um samba.

E faz a gente acordar de ressaca achando que era mesmo o melhor a se fazer naquele fim de tarde.
Tenho achado bonitinho tanta coisa que eu não achava...
Será que estou ficando mais velha?
Ou mais tolerante?
Ou mais bundona?
Ou tudo, no fim, quer dizer a mesma coisa?

7.11.07

Tchuva cai, o porco mete, dá uma tristeza na gente...

Sempre se leva pessoas pela vida... aquelas que apesar de distantes, sempre te trazem lembranças, coisas boas, vontade de ver.
A Dani Doms é uma delas. Esse era o nome artístico de uma das minas mais do caralho que eu conheci. Forte, bonita, sensível.
A Dani me protegia na escola quando eu arranjava encrenca. Vai lá pro ginasião pra ver se o bicho não pega...ainda mais pra mim que era, digamos, um pouco odiada. Depois melhorou, mas quando eu fui pra lá, a fofinha que vinha da escola particular de volta para o Estado... hum... problemas de classe mesmo.

Os fudidos X classe média limbo.

Jogaram minha carteira na privada do banheiro masculino imundo na primeira oportunidade. A vida é essa bosta assim. As coisas tomam esse rumo. Eu virei universitária. As moças viraram caixas de supermercado.
Mas quando a Dani veio para me fazer companhia fiquei folgada. Arranjava tretinha, pagava de muita louca, porque sabia que ela trincava comigo. Sempre. Nós duas.
Todo dia eu andava um dez minutos a mais só para passar na casa dela. Casa de fumantes onde tinha o café da tia Vilma e, na falta de recursos, um delicioso Continental roubado do digníssimo Vardão, ou como é mais conhecido, o Vardão da Sabesp.

A vida andou, eles ficaram mais juntos, eu tomei um rumo diferente.

E hoje, quando li o blog da companheira (http://insipidoeinodoro.blogspot.com/), me deu uma saudade grande de tudo. De quando a gente enchia a cara na pastelaria pra não morrer de tédio. Li essa frase do título e me veio toda a nostalgia do que é morar em Piedade. Da melancolia. Do não ter o que fazer. Do ser meio roça meio cidade.

Dani, bom saber que você está mais perto. E valeu por ainda lembrar dessa peróla do tempo que a gente se enxergava um no outro.

5.11.07

Nossa catchola, como você é ranzinza.... passou, passou... não faz drama vai, também não é assim...

Era isso o que eu queria escutar... esquizofrênica que sou, falo para mim mesma....
Vixê.... São 5 horas da manhã, de uma segunda -feira, e já estou sentada na frente do computador. Daqui há 3 horas horas entrego um trabalho e faço prova.

Sou absolutamente incapaz de fazer qualquer coisa útil e racional depois das 10 horas da noite... E mais incapaz ainda de recusar uma cervejinha com amigos depois de uma tarde infernal e 2 horas de discussão inútil sobre a historiografia da Guerra do Paraguai.

É isso. Agora bota na minha conta. Eu pago. Essa tem sido minha filosofia de vida já faz um tempinho. Estou fazendo merda? Foda-se, bota na minha conta. Se eu não aguentar, parcelo num super crediário estilo Casas Bahia... Demora, pago uns juros, mas tudo bem. Ninguém morre por essas. Talvez aprofunde o alcolismo, mas morrer não morre não.

Bom, no fim, não sei o que é mais imbecil: Eu, o ser sem disciplina. A Licenciatura que é inútil. A Guerra do Paraguai sem imperialismo britânico segundo revisionistas mal intencionados.

Enfim... leve raiva de tudo.

Mais ainda da cafeteira que passou dois dias ligada (porque eu esqueci), torrando o restinho de café do fundo, o que virou uma crosta que simplesmente a inutiliza.


Olá Mundo.... boa semana para você também...

2.11.07

Dia dos mortos...

Hoje é feriado de Finados. Feriados só me dizem respeito quando posso pensar sobre o que fazer deles. Hoje trabalhei. Portanto não foi feriado... Apenas os ônibus demoraram mais para passar.

Depois de me sentir um tanto quanto desgraçada pela manhã, fiquei lembrando da conversa levemente pesada que tive ontem com a minha mãe. É o primeiro dia de finados em que ela se preocupa em arrumar o túmulo da mãe... Uma mãe da qual ela nunca se separou. Quando casou, fez um puxadinho no quintal. Quando construiu uma casa, fez na extensão do terreno. E quando construiu uma maior e mais distante 10 minutos a pé, fez uma casa nos fundos e levou os pais que já estavam mais velhos e desfeitos do bar em que trabalharam durante anos.
Enfim, ela estava especialmente sofrida. Pegou a foto e as flores para decorar o lugar onde minha vozinha está enterrada, e passou o dia de ontem, mais provavelmente o dia de hoje sofrendo por ter que lidar com a materialidade da morte.

Mas então por quê?

Hoje é um dia para, por meio da lembrança e da ida ao cemitério, mantermos presente os que se foram. Como se eles fossem ficar infelizes caso não fossem lembrados. Ou mesmo, viessem puxar o pé de alguém...


Entendo o sofrimento e o ritual da dor. Depois que a gente vem para a universidade virar intectuário e alcólatra, o simples foda-se qualquer, religião, jesus cristo ou o caralho, não contemplam mais. A gente quer tocar foda-se, mas também quer entender.

E eu não tenho mais nem idade para falar isso para a minha mãe. Não tenho mais 15 anos e nem vontade de ficar fazendo outro tipo de pregação, no caso, convertê-la ao ateísmo.

Mas sem querer, num surto de indignação, acabei voltando a ser, para a minha mãe, a adolescente passa mal... acho que eu nunca deixei de ser na verdade.

Ela me falando e chorando... relatando como era difícil, que era foda e traus, que foi ruim ir pegar flores e lálálá...

- Mas então porque você faz? Se é tão sofrido, arruma as paradas em outra hora, tem que ser agora, só para todo mundo ver que você não é uma filha relapsa para com o túmulo da sua mãe, o que aliás é uma puta besteira porque você sabe que a vó não tá lá e nem nunca esteve... que o que foi para lá é só um corpinho que a essa altura já não diz muita coisa sobre a pessoa também... Desencana, vai para a praia, larga essas porra aí que estão te fazendo sofrer.

Eu poderia ter dito isso a um amigo. Não para a minha mãe.

Para a minha mãe, quando você não sofre, não chafurda, você não sente. Só existe amor no sofrimento. E o sofrimento por tabela vira termomêtro quantitativo do amor...

Por essa lógica, se eu me recuso a tortura do Dia de Finados, quer dizer que não amava minha vó. A vozinha cuja lembrança me água os olhos quando como um pastel murchinho parecido com os que ela deixava frito dentro do forno do fogão. Ela que me emociona cada vez que vou até a Vila Élvio e penso que ela era uma das mocinhas operárias começando a vida. A velhinha que me criou...

Mas na sociedade cristã tudo é sofrimento e dor. Não existe espaço para simpesmente sentir a ausência, sem que isso ganhe uma conotação negativa.

Não se pode amar a lembrança. Só sofrê-la.

29.10.07

O engano que é acerto.

Algumas pessoas me chamam de intolerante. Admito, tenho dois pesos e duas medidas: Sou extremamente dura com algumas pessoas e absolutamente maleável com outras. Mas não se trata obviamente de algo aleatório. Trata-se dos meus critérios. Do meu termomêtro do que dá para engolir, e do que só resta meter o pé... Mas também venho tentando, depois de algumas puxadas de orelha, a aprender enxergar um sentido além do que está óbvio nas impressões superficiais. O problema é que muitas vezes, quando estou quase caindo numas de tentar achar todo mundo legal a princípio, acontece alguma coisa que mostra que a gente também não se engana tanto assim...
E também os equívocos não são inocentes, talvez seja uma espécie de perseverança... sei lá.

O fato é quando me engano, quando sou intolerante e faço mal juízo de determinadas pessoas e situações e, do além, elas me mostram o contrário e que fui profundamente simplista e linear, enfim, mudar de uma idéia ruim para uma sensação boa, costuma me agradar muito.
Mostra que eu me enganei. Nesse caso, é muito gostoso estar errado. Errar a idéia sobre a expectativa individual, renova um pouco a crença no ser humano. Tenho a sensação de que estou aprendendo um pouco mais da existência louca e ramificada de cada um.

Ontem, depois de um ano e traus, meus livros do Focault reapareceram. Eles que eu achei que estavam perdidos por aí, não apenas criaram a expectativa da volta, como renderam uma linda discussão sobre o amor e as relações de poder e expectativa que o cercam. Ou seja, voltaram lidos e de uma forma muito melhor do que a minha. De uma forma bem mais prática. De muita água que rolou...

Eu, que me pensava esquecida por algum motivo, não estava não. Minha lembrança só estava em um cantinho. Eu e os livros não éramos um nada.

E num domingo a noite chatinho, foi bom ouvir um simples e sincero : Poxa, sonhei com você. Sei lá , mas queria te ligar, te ver.... Saber se você está bem, como está sua vida....

Tem vezes que é assim mesmo... ninguém está errado, ninguém foi filha-da-puta. É só mesmo assim que é a vida, a gente também não queria mas também está por aí magoando meio mundo.

Bom me enganar... Me faz bem perdoar um pouco mais o mundo.

25.10.07

Olha nossa grande educadora Xuxa, formadora de uma geração e que continua dando das suas... Agora ela gosta do MST? Será que ela virou comunista depois dos 40?
E o mundo cada vez mais estranho....


http://video.globo.com/Videos/Player/Entretenimento/0,,GIM738734-7822-VOCE+SABE+QUEM+SAO+OS+SEM+TERRA,00.html

22.10.07

Depois de uma noite mal dormida (no sentido literal) em que todos os seus monstros resolvem te visitar. Uma manhã com uma aula de Freud pra iniciantes em que fica todo mundo tentando fazer auto análise e se encaixar em categorias como neuróticos, psicóticos e paranóicos (talvez eu fique entre os últimos). E uma tarde com adolescentes te sugando...
Bom, o que resta para um dia desses senão pegar um dos livro de cabeceira, as obras completas do Bandeira (de novo!) e abrir aleatoriamente, no melhor estilo "Minuto de sabedoria".
Eis o que me cai.... Encantadora de gatos, lembrei de você....

Arte de Amar

Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.
A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
Não noutra alma.
Só em Deus — ou fora do mundo.
As almas são incomunicáveis.

Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.

Porque os corpos se entendem, mas as almas não.

21.10.07

O que significam coisas simples se justamente elas é que são as mais complicadas de serem atingidas?

Quando penso no que gosto de ter na vida, tudo parece tão elementar e óbvio, que não tê-las me dói como se me faltasse conhecer a lua...

Parece que quanto mais besta o desejo, mais difícil é chegar na plenitude.

Como as poesias do Manuel Bandeira. De tão simples, dão é uma bruta vontade de chorar...
Por mim e pelo mundo.



Assim eu quereria o meu último poema.

Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais

Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas

Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume

A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos

A paixão dos suicidas que se matam sem explicação.

18.10.07

Hoje foi aniversário do meu pai. Liguei para falar parabéns mesmo sabendo que ele talvez não faça idéia de qual o dia exato do meu aniversário, e que, em decorrência do afastamento, eu também tenha esquecido o dia dele. Me lembraram e então eu liguei. Nos falamos por exatos 35 segundos. E foi o máximo que conseguimos conversar nos últimos meses....
Entretanto, esses 35 segundos me comoveram tanto, que me lembraram o quanto eu já gostei, gosto e admiro esse sujeito. Um cara bronco, um ogro que mal me conhece. Mas que, mesmo distanciado, opaco, me ensinou coisas como ombridade, dignidade e vergonha na cara.
Eu poderia muito bem odiar nossa história e dizer o quanto ele me faltou nas coisas básicas como carinho, compreensão, ou simplesmente, o quanto muitas vezes esqueceu o dia do meu aniversário.... Mesmo assim sou incapaz de tal acusação porque mesmo com todo o rancor, o amor existe para mim de forma tão clara que, para outros, isso só poderia ser explicado do ponto de vista daquele amor imbecil, incondicional, que somente a família é capaz de manter.
E não é isso.
Não é tão simples.

O ogro me inspira raiva, mas também um respeito e amor tão grande (respeito por carinho, e não pelo patriardo), que simplesmente não pode ser explicado.
Me comoveu perceber que ele se comoveu com a minha voz. Só isso me basta.
Eu também não sei quem ele é. Como sente determinadas coisas e o quanto o meu jeito de ser também o agride.
Mas não consigo simplificar e reificar a situação dizendo que ele é uma merda de sujeito e de pai.
Talvez chamá-lo de insensível o enquadrasse em uma categoria que me permitisse racionalizar todo o resto.... ( dá até pra justificar uns poblema por conta disso).

Só que ele não é só insensível, nem só quadrado, nem só ogro, nem só digno, nem só engraçado, nem só ausente, nem só nada....

Ele não é nada disso e é também tudo isso.

Ele é.

Nós somos.

E é isso que me parece tão díficil, na maioria das vezes, de entender.

As pessoas são bem mais e a gente não faz idéia do que é a existência do outro....

8.10.07

Angústia....

O que se faz, quando não se pode fazer nada?




7.10.07

Imagina o que a gente nem desconfia...

Influenciada por um companheiro parmerense sobre as possiveís consequências caso o Corinthiase caia para a segundona e de assistir de novo o já famigerado Tropa de Elite, fiquei imaginando uma conversa que poderia ter acontecido antes do jogo, no meio daquelas relações espúrias de que a gente tanto desconfia...

Secretário de segurança pública: - Puta merda, se o corinthians rebaixar vai ser foda. Imagina aquela massa de preto, pobre, maconheiro e ex presidiário, putos da vida tendo que passar a humilhação de ir para Sorocaba assistir Corinthians e São Bento? Fudeu Governador, vai dá merda! Pobre já tem pouco, não pode tirar esse restinho, essa merdinha de futebol no domingo e na quarta que os cara grita.

Governador: Tudo bem, tudo bem... vou ligar pro pessoal lá do Morumbi que eles ajeitam... Já praticamente ganharam o Campeonato mesmo, né? Que custa contribuir um pouquinho com a ordem decente das coisas?

28.9.07

O espírito caipira

Estava olhando umas letras de música caipira, daquelas que cresci ouvindo, mas que por me acompanharem sempre, nunca me importaram tanto. Na adolescência, eu sempre dizia que gostava, que achava bacana e traus... Na onda "os mocinho da Casa da Cultura", pegava bem gostar dessas coisas de raiz, povo ... cultura popular, manja?

E é claro que não gostava de verdade. Respeitava. Era legal gostar, racionalmente, sabia que aquilo era interessante. Mas o que me tocava mesmo, o que me fazia companhia no meu quarto de angústias de jovenzinha meio perdida, eram outras músicas, outras temáticas, outras crises que em absolutamente nada tinham a ver com épicos caipiras tristes, com amores perdidos, criancinhas mortas por um boi, pés de ipês junto a cela, e muitas saudades do interior, do sertão...

Ora, o meu amor não estava perdido (mas dava um trabalho...), as criancinhas me sensibilizavam abstratamente ( como índices de fome no mundo), nunca tinha sido presa, e tudo o que mais queria era sair daquele sertão....

Mas quando, ao chegar do interior, inocente, pura e besta, me vi perdida mesmo, em uma cidade maluca, como pessoas estupidamente blasés que pareciam não se importar com aquele absurdo todo, um sistema de transportes confuso, e mais o anonimato que eu tanto queria com muita, muita solidão.... Ai sim, me peguei chorandinho, sofrendo, ouvindo num buteco da Santa Cecília (de Piedade para o Minhocão, tranquilo...), uma música bem manjada, mas que ainda me emudece, me mareja os olhos...

"De que me adianta, viver na cidade, se a felicidade não me acompanhar, adeus paulistinha do meu coração, lá pro meu sertão eu quero voltar..."

(hehehe... foda, mas juro que chorei com isso, com uma música que ouvi trilhões de vezes...)

Foi aí que entendi porque a viola caipira, na maior parte das músicas, fala do que perdeu... Da vidinha tradicional, do amor que foi embora, do respeito e valores que mudaram. Enfim, dessas modernidade que o capitalismo trouxe...
E senti de verdade o que eles estavam dizendo. Eu estrangeira, forasteira, desenraizada.
Numa cidade cuja maior qualidade e o pior defeito é justamente o não se importar com os outros.

Ai meu sertão...

Sofria por falta de uma identidade. Mas também não queria ir na Vila Madalena comprar uma nova.

- A senhorita deseja ser do pessoal do samba, das rodas de capoeira ou prefere algo mais adaptado a cidade, mais modernozo? Nesse caso, sugiro que vá a Augusta....

Mas só ali percebi que a que eu tinha, só agora, longe dela, é que me doia. Doia porque não cabia nesse mundo em que agora eu estava. E que eu teria que inventar um jeito de não me perder, de não virar nada...

Eu que estava, naquela hora, detestando tudo isso aqui. Mas que também, não queria como a música dizia, voltar para o meu sertão.

Nessa vaguei um bom tempo pela capitar... pelo monstro que me atraia muito, mas que me comia um pouco mais cada vez que eu me aproximava...

E assim por um bom tempo, eu chegava na segunda, sofria até quinta aqui. Voltava para Piedade, e sofria até segunda lá...


26.9.07




Momento utilidade pública ...

25.9.07

Na praça da república, ainda cedo, muita gente já caminha....
Muita gente com roupa de quem vai a uma festa e expressões de quem vai a um velório.
Literalmente abaixo deles, esparramados ou encolhidos sob o chão, o horror do ser humano degradado, sujo. Muitas outras gentes para quem não existe lugar no mundo.

Na democracia liberal, o controle e a manutenção da escrota ordem da coisas, não vem só de cima.
Vem de baixo, dos que sobraram.
São eles que ajudam a garantir um mundo de gente infeliz e obediente. Morrendo de medo de ser o entulho de gente, o tropeço, o obstáculo na praça.


Gente triste que come com medo de ser aquela gente triste que não come.

Mano Brow no roda viva

Finalizando, depois de soltar algumas numa entrevista cheia de dedos. Falando de igualdade de oportunidades para competição ao mesmo tempo em que defendia a sua gente lembrando o óbvio, ou seja, que eles também são gente....

Paulo Markun, o imbecil: Na minha época, a onda era ser paz e amor. Você se considera paz e amor?

Mano Brow, o Jacobino : Não. Eu quero paz e amor, mas vida não é assim não.

24.9.07

Bem vinda menina Alice!

A Alice nasceu... e é linda!
Hoje, do alto da minha destreza e utilizando todo meu instinto maternal inerente e natural à toda mulher (pode parar de rir agora...), eu peguei a pequenina no colo... tudo bem que no começo foi sentada, meio como se coloca bebês no colo de crianças... mas tudo bem... tô pegando o jeitão.
Mais alguém que vem para descobrir os horrores e as delícias de ser mulher nesse mundo....

Olha que coisa mais fofinha...

http://www.youtube.com/watch?v=Osh1i8Z6-Dw



21.9.07

Hoje sonhei com você. Sei que é piegas começar qualquer frase assim... Parece música do João Bosco na fase sem a Elis Regina. Mas é assim que por vezes acontece. Durmo pensando em qualquer coisa e então você aparece, sem ser convidado, bagunça meu sono, e me deixa sem querer acordar.

Então, quando a manhã vem, os olhos se abrem e a primeira reação é olhar para o lado da cama.
Sei que você não está lá. Mas quase que num reflexo fantasiado, olho.

Não, você não está lá com aquele barulhão de quem não respira pelo nariz.
Mas o seu cheiro domina os meus sentidos. A memória que mareja os olhos.

Levanto, bebo o meu café que eu mesmo faço. Sempre.
E então começo a retomar a aventura noturna. A lembrar. Meio olho chora, meia boca sorri.
O café esfria e ninguém me pergunta nada. Não tem ninguém por perto. Estou mais sozinha do que quando dormia.

Quando a vida a ser levada me arranca violentamente dos meu próprios pensamentos, me despeço dos meus devaneios.
Há muitos anos te namoro assim, nos meus sonhos.

E continuo tudo, como todo dia, como máquina que cumpre sua função. Vazia


20.9.07

Os olhos dos pobres

Quer saber por que a odeio hoje? Sem dúvida lhe será menos fácil compreendê-lo do que a mim explicá-lo; pois acho que você é o mais belo exemplo da impermeabilidade feminina que se possa encontrar.

Tínhamos passado juntos um longo dia, que a mim me pareceu curto. Tínhamos nos prometido que todos os nossos pensamentos seriam comuns, que nossas almas, daqui por diante, seriam uma só; sonho que nada tem de original, no fim das contas, salvo o fato de que, se os homens o sonharam, nenhum o realizou.

De noite, um pouco cansada, você quis se sentar num café novo na esquina de um bulevar novo, todo sujo ainda de entulho e já mostrando gloriosamente seus esplendores inacabados. O café resplandecia. O próprio gás disseminava ali todo o ardor de uma estréia e iluminava com todas as suas forças as paredes ofuscantes de brancura, as superfícies faiscantes dos espelhos, os ouros das madeiras e cornijas, os pajens de caras rechonchudas puxados por coleiras de cães, as damas rindo para o falcão em suas mãos, as ninfas e deusas portando frutos na cabeça, os patês e a caça, as Hebes e os Ganimedes estendendo a pequena ânfora de bavarezas, o obelisco bicolor dos sorvetes matizados; toda a história e toda a mitologia a serviço da comilança.

Plantado diante de nós, na calçada, um bravo homem dos seus quarenta anos, de rosto cansado, barba grisalha, trazia pela mão um menino e no outro braço um pequeno ser ainda muito frágil para andar. Ele desempenhava o ofício de empregada e levava as crianças para tomarem o ar da tarde. Todos em farrapos. Estes três rostos eram extraordinariamente sérios e os seis olhos contemplavam fixamente o novo café com idêntica admiração, mas diversamente nuançada pela idade.

Os olhos do pai diziam: "Como é bonito! Como é bonito! Parece que todo o ouro do pobre mundo veio parar nessas paredes." Os olhos do menino: "Como é bonito, como é bonito, mas é uma casa onde só entra gente que não é como nós." Quanto aos olhos do menor, estavam fascinados demais para exprimir outra coisa que não uma alegria estúpida e profunda.

Dizem os cancionistas que o prazer torna a alma boa e amolece o coração. Não somente essa família de olhos me enternecia, mas ainda me sentia um tanto envergonhado de nossas garrafas e copos, maiores que nossa sede. Voltei os olhos para os seus, querido amor, para ler neles meu pensamento; mergulhava em seus olhos tão belos e tão estranhamente doces, nos seus olhos verdes habitados pelo Capricho e inspirados pela Lua, quando você me disse: "Essa gente é insuportável, com seus olhos abertos como portas de cocheira! Não poderia pedir ao maître para os tirar daqui?"

Como é difícil nos entendermos, querido anjo, e o quanto o pensamento é incomunicável, mesmo entre pessoas que se amam!

Baudelaire


E é então que percebo minhas próprias barreiras para amar o diferente...

17.9.07

Bombom de formatura

Hoje me lembrei, tentando comprar uma roupa para um casamento, de quando eu tinha vergonha e muita raiva de ser mulher.
Dos peitos que apareciam
e não cabiam

da vontade de sumir quando alguém me olhava

do ódio profundo do mundo e de mim quando me vi vestido como um bombom numa festa de formatura

e de como na festa, fiquei bêbada de vergonha, não de alegria

e de que a formatura era a minha!

e que chorei em muitos provadores de lojas

até comprar qualquer coisa para aquela tortura acabar.

Assim virei um bombom preto, de cabelo esticado e cara pintada.

Tudo para tentar ser igual porque não aguentava mais me sentir diferente
para passar desabercebida, para ser mais uma

Antes ridícula do que o destaque da escola de samba

Hoje quando vesti coisas feias, que todo mundo diz ser bonito, tive a mesma sensação de ridiculeza.
de feiura
de violência
de opressão estética
de canseira de um mundo tosco que te mede por esses valores...

e decidi que uma calça e uma blusa bonita e discreta são uma saída sóbrea no meio daquela aberração estética e fugaz, coloridez cafona, e decotes que não cabem nem um dos meus seios.

E sapato sem salto, claro.

E dessa vez, encher a cara com velhos amigos, contente, sendo só eu.

16.9.07

Gosto e não gosto...

Tem algumas coisas que a gente ama e odeia. Assim, ao mesmo tempo mesmo. Eu (como, penso eu, todo mundo)tenho algumas coisas assim na minha vida: Por exemplo São Paulo. Ela tanto me fascina quanto me irrita. Coisa de caipira talvez...

Outras:

O individualismo da metrópole: É tão desesperador quanto protetor. Como é bom não precisar falar sempre com todo mundo a nossa volta... E por vezes como é triste não
poder conversar com todo mundo a nossa volta.

Experiência de morar sozinha: Nossa que legal, tudo está exatamente como eu deixei!
Ou: Que bosta, tudo está exatamente como eu deixei!

Solidão: Tem dias que dá uma tristeza imaginar que, se eu sumir, apenas se darão conta disso depois de alguns dias. E provavelmente vai ser do trabalho... Agora, como é bom poder sumir por alguns quantos dias eu quiser...menos no trampo, claro!

Bom... tem uma lista... Agora, de todas, provavelmente a menstruação é o fenômeno mais contraditório que existe. É uma bosta, mas é bom pra caramba. É horrível passar dias dolorida e sangrando... mas é muito pior passar muitos outros dias inchada, triste, mal humorada, acima do peso e agoniada. Quando ela vem, traz desconforto. Quando não vem, dá uma agonia da porra! Só de pensar em ficar 9 meses sem ela, já me dá arrepios...

Então, ruim com ela, muito pior sem... E viva os ciclos! Nós mulheres não funcionamos de forma linear, somos biologicamente cíclicas e todo o mês ele se renova.

A vantagem é que, pelo menos a gente tem certeza absoluta de que uma hora, vai passar...
Mas também só por um tempo...

Os personagens eternos também morrem...


Poxa, eu sei que não é para tanto.... Mas fiquei realmente triste. Pedro de Lara foi uma figura importante da minha vida. Eu cresci como boa parte dos brasileiros educados pela Xuxa e pela moral do Silvio Santos, acompanhando essas porcarias todo domingo...
E eu só fiquei sabendo hoje...
Tá aí, vale o post... com foto e tudo... só pela palhaçada da mediocridade dominical.

Ainda que tardia....

A palavra liberdade, a idéia de liberdade, a busca por liberdade, ou mais, o que é afinal liberdade? No nosso mundo, esse que a gente já pegou meio novo, meio pronto e meio acabado, num ritmo tudo ao mesmo tempo agora. E que evoca o tempo todo em propagandas, em modelos de vida, em questões filosóficas, enfim, em grande parte da nossa vida nos deparamos com milhões de idéias sobre o que se concebe como liberdade.
Enfim, o apelo pode ser desde desejos muito bonitos até propagandas escrotas que colocam liberdade como um subproduto consequente do consumo. O indíviduo livre é aquele que consome.Ponto.

Muito bem, e nisso, a liberdade sugere uma opressão fudida para aqueles que não se encaixam por algum motivo.

Mas e no amor? Por que muito da liberdade hoje propagada, e que se afirma no indivíduo, simplesmente desaparece quando se trata de relacionamentos, a não ser aqueles ditos superficiais e que também se colocam como parte do consumo?

Por que "em nome do amor", convertido em relacionamento "sério", tirânica e sadicamente, pessoas se dão ao trabalho de limitar a liberdade de outra pessoa, que não é ela? Liberdade e relacionamentos são palavras opostas (já dizia o pagode... "o que é que eu fazer com essa tal liberdade, se estou na solidão pensando em você?" hehehe) Não acho obviamente que o amor não seja sincero, nem que as intenções sejam ruins. Mas parece que se quer conhecer o outro tão profundamente que passa ser impossível cogitar que ele faça, ou mesmo pense, coisas não reveladas, no limite, que ele tenha "pedaços" de vida do qual o parceiro não faz parte.
Aí me ocorre a pergunta: E quando é que nessa vida podemos conhecer alguém por inteiro?
Ou melhor, quando podemos deixar de ser indivíduos, para nos tornarmos um casal, como se existisse um fenômeno psíquico e biológico que permitisse tal união plena? Como assim, agora dois são um? Ahn?

Só pensando... falar de fora é sempre fácil. Pensar sobre relacionamentos sem se estar vivendo plenamente um, são apenas confabulações sem aplicação prática...

Mas daí caiu um livrinho de muito tempo atrás na minha mão. Sobre o amor. Quando minha cabeça está assim, normalmente quem socorre e ilumina algumas idéias é a poesia. Mas não hoje... Hoje a poesia não dá conta. A cabeça está fritando demais...

"Há um meio, um desesperado meio, de conhecer o segredo: é o do completo poder sobre a outra pessoa; poder que a obrigue a fazer o que quisermos, pensar o que quisermos, que a transforme numa coisa, nossa coisa, posse são nossa." p. 42

Credo.... horror... assim eu também não quero...

Mas, adiante:

"O outro caminho de conhecer o "segredo" é amar. O amor é a penetração ativa na outra pessoa, em que meu desejo de conhecer é distilado pela união. No ato da fusão, eu te conheço, eu me conheço,conheço a todos - e nada "conheço".

(...)O amor é o único meio de conhecimento que, no ato da união, responde a minha pergunta. No ato de amar, de dar-me, no ato de penetrar a outra pessoa, encontro-me, descubro-me, descubro-nos a ambos, descubro o homem", p.44

Erich Fromm - A arte de amar.


Pois é... talvez essa conversa não deveria ter começado por liberdade. Começar por respeito me parece um caminho mais concreto para a partir daí poder pensar o que é liberdade. Respeito aos sentimentos, à auteridade, ao ser humano, aos desejos... enfim, respeito para com tantas coisas que estão em baixa.

12.9.07

Uma pausa maestro



Às vezes o corpo está satisfeito e o coração vazio...
Às vezes o coração está cheio e a cabeça confusa...
Às vezes eles não se entendem de jeito nenhum
Às vezes, chega a hora de fechar para balanço...

E pensar direito sobre o que se anda fazendo com o corpo, a cabeça e o coração.

10.9.07

Essa eu copiei.... mas é tão bonito...

Para amar alguém esse alguém deve ter a medida certa. Um pouco menos é insuficiente, um pouco mais põe tudo a perder. Isso acontece porque amar é uma arte do mesmo tipo que comer: um prato que não está no ponto de acalmar o apetite mas não satisfaz o paladar. Tem gente que come para encher o bucho e estes podem viver sem amor mas não se companhia. Outros morreriam de fome antes de aceitar uma coisa mal preparada. Estes últimos serão eternos solitários a menos que encontrem a medida certa. Quando se pensa no amor as idéias não têm consistência e talvez por isso os grandes filósofos evitaram o tema, mas embora seja indigesto é óbvio que nossa pequena vida gira em torno de alguém que nos transformou em idiotas felizes ou sábios ressentidos.

(Efraim Medina Reyes em Era uma vez o amor mas tive que matá-lo)

4.9.07

Tem coisas que não dá pra saber, outras só não vê quem não quer

Tem dias que as coisas boas vem de onde a gente menos espera... daquela balada sem graça sai uma noite mal dormida (essenciais para manter aquele sorrizinho besta...),daquela pessoa que nem falava com você sai uma amiga ou amante, daquela comida esquisita sai um novo gosto na vida. Enfim, é por causa da esperança de encontar coisas que nos dispomos a continuar vivendo mesmo diante de tudo o que nos indigna, diante da vontade de, às vezes, mandar tudo para o inferno mesmo!
Só que as coisas boas nos surpreendem na maioria das vezes. É quase um tapa na cara, vem sei lá de onde e não adianta tentar encontrar muita razão. Acontece, pronto, agora vive... e aproveita.

Em compensação as ruins, com um pouquinho de desconfiomêtro e leiturinhas de mundo, dá para pelo menos ficar esperto. Não se trata de esteriótipos, nem de julgar sem conhecer, mas as pessoas se contam nas pequenas coisas e atitudes diante do mundo e dos outros.

Um amigo biólogo me dizia o seguinte:

Percebemos facilmente o grau de filha da putagem de um ser humano, percebendo como sua capacidade de se preocupar com os grandes problemas do mundo (fome, tédio, vazio, guerras, injustiças, desesperança...)é inversamente proporcional a de se preocupar com os pequenos problemas da vida alheia (homossexualismo, drogas, putarias, e animaizinhos de estimação do vizinho). Ou seja, quanto mais ele se importa com o mínimo que não lhe diz respeito, menos ele se importa com o que realmente importa (importante é o que importa, já diria o filósofo Barba).

Muito bem, diante disso, velhinhas fascistas tropeçam em crianças zoadas na sua calçada, mas se incomodam mesmo é com dois homens se beijando na boca (bem na sua frente? Ora, que pouca vergonha). Se incomodam mais em saber com quem você dormiu, do que em saber se está feliz ou não.

Não se incomodam com a sujeira de São Paulo, a poluição, o barulho, a secura do ar... e vão na sua porta dizer que vão envenenar seu gatinho porque ele fez cocô na sua garagem.


Morram fascistas!

Que se vayam todos!

E que fique registrado... briga comprada. Se alguém encostar nos meus gatinhos, vão descobrir a delícia de acordar com um carro pichado e riscado com prego.

Já que é só com isso que essa gente se importa. Já que é só essa linguagem que esses putos entendem...

28.8.07

Essa eu ouvi hoje dos meus queridos lá do Henfil... em tom de galhofa, claro...

- É, aqui no Henfil, quando a gente conhece os professores de humanas, você pensa: Olha, que legal, professores jovens e que não são chatos.

Aí um dia, você sai mandar um com as figuras e pensa: Nossa, que legal, fumar um com o (a) professor (a)doidona ... que dá hora!

Daí na segunda vez você fala: Nossa, que legal, essa galera é doidona mesmo.

Daí na terceira você já fica só no "legal"....

Depois de um tempo você já dá uma intimada: Que palhaçada é essa? Quando se vai apresentar um, hein?

Hehehe...fiquei imaginando eles na porta do cursinho...

- E ai, vamo aí?
-Vamo... mas vamo na míuda porque senão o professor cola, ele é cabeçudo, daí é foda, já estamos em cinco cabeças e tal...

23.8.07

E lá vamos nós....


"Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias,
a que se deu o nome de ano,
foi um indivíduo genial.


Industrializou a esperança,
fazendo-a funcionar no limite da exaustão.

Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar
e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação
e tudo começa outra vez, com outro número
e outra vontade de acreditar
que daqui para diante,
vai ser diferente. "


Carlos Drummond de Andrade

Eita porra !!!



Uma verdade dita

Uma verdade ouvida

O coração de novo doído

a pontada que parece mesmo uma faca

a rê bordosa

O alívio....

Doer, dói

mas que liberta, liberta!

21.8.07

O povo quer saber...

Muito bem... esses dias atrás, alguém, numa mesa de bar, com aquele ar de "eu tenho informações quentes", e em meio as notícias chavistas de que o camarada está para aprovar a reeleição eterna, me solta a pérola:

-Tem gente lá em Brasília articulando o terceiro mandato do Lula...


Até sonhei com isso...fiquei pensando o que poderia acontecer. No outro dia, me aparece aquele horror que foi a tal da passeata dondocas-fazendo-beicinho auto proclamada "Cansei".

Talvez seja por aí...
Talvez seja pior...

E ai, amigos queridos... vocês, os seis fiéis leitores desse blog poderiam me ajudar a fazer uma previsão política à la João Bidu....

O que vocês acham que vai acontecer nesse país se o camarada Lula ousar tentar tal façanha anti-democrática (tudo bem, pode parar de rir agora...)?
Será o tal do centralismo democrático? hehehe

19.8.07

Só pensando...

É impressionante como somos "enformados" na universidade de um jeito que passamos a só considerar determinadas coisas e desprezar todo o resto. No auge da imaturidade e do deslumbre com o conhecimento, achamos que encontramos algum tipo de verdade lógica na vida. E dá-lhe vomitar Marx... ele e todos os materialistas históricos que nos sobra tempo para ler entre uma cerveja e outra que rega as acalouradas discussões em torno do tal do povo brasileiro, o agente histórico da revolução....

Primeira questão:

Quem é o tal do povo brasileiro?

É o operário? Não, esse ai, quando tem um registro em carteira e um plano de saúde treme na base... já tem o que perder, lembrando o fim do manifesto comunista...

É o camelô? Não, esse não tem consciência revolucionária. Pode eventualmente se organizar (uma falsa consciência, como diria Luckás), mas seus interesses são por demais individualizados...precisam ainda de muita auto-crítica revolucionária para abandonar esses vestígios de ideologia pequena burguesa.

O estudante?
Háhahahahahaha.... por favor, não me venha com churumelas.... a estudantada ainda tá gritando abaixo a repressão. Isso com um mandato de reintegração de posse da reitoria já expedido e não cumprido. Bater em moleque criado a leite A e sucrilhos é foda. Sem contar que ali todo o mundo é alternativo. Como o nome já diz, ele tem alternativa...se der errado eu volto para o chuveiro quente e para a canja que só minha mãe sabe fazer...

É a Angela, a moça que está ajudando na faxina lá em casa, já que estamos às vésperas de receber mais um pequerrucho nesse mundo doido? Não, acho que ela tá mais preocupada em trocar o celular por um que tira fotos, canta, dança e sapateia. E ainda te diz que você está bonita naqueles dias de carência...

Enfim, ando bem cansada dessas discussões chatas. Cansada de falar. Cansada de ouvir pessoas citando Marx, como os padres citam a Bíblia. Marx, capitulo 3, versículo 2... E disse Marx: Deixai vir a mim os operários porque deles é o Estado!

Enfim... para mim deu.

Ando gostando é de pensar as pessoas a partir de sua subjetividade, seus sonhos, tudo aquilo que a academia despreza porque supostamente não tem objetividade científica. E então me pergunto... Toda essa ladainha surreal, desses jogos partidários de merda, dessa molecada que acha que o materialismo histórico é o elo perdido entre a astrologia e a arte de jogar búzios...O que tem de efetivamente objetivo nisso tudo? Já tá tudo lá, o futuro, o presente e o passado... a gente só precisa aprender a ler nas entrelinhas... Marx e seus amiguinhos do século XIX já previram tudo... a gente é que é burro e não entendeu.

Não quero com isso dizer que nego radicalmente tudo isso. Nem de longe. O que não consigo conceber é como a gente não se liga que muita coisa mudou, que essas diretrizes revolucionárias não servem mais para explicar um tempo em que a velocidade de transformação é bizarra. As tais forças produtivas se desenvolveram de forma bizarra. A tecnologia configura o mundo à sua imagem e semelhança, de forma rápida e rasteira. Fenômenos acontecem e acabam em poucos anos....

A lógica do capital continua sendo sua reprodução. Agora como isso acontece, e o quanto essa lógica já está naturalizada é que é questão. O consumo (seja o de luxo, ou a cópia piorada que os pobres consomem) unificou a todos. As classes se separam, mas o nike fajuto do moleque da favela é esteticamente o mesmo que o original do moleque dos jardins. O catador de papelão que tá entre os carrões no meio da paulista, para todo o trânsito para atender um super celular. A novela diz o mesmo discurso para todos...

Enfim... amargurinhas acadêmicas à parte, o que estou tentando é ler o mundo com outros olhos que não sejam tão condicionados. Tentando ser menos ranzinza, enxergar a realidade a partir da poesia de cada ser humano, e não simplesmente classifica-los em categorias.
Afinal, acho que quem quer humanizar o mundo, tem que começar humanizando o cara que está do seu lado no busão....

14.8.07

E dizem que isso é a comunicação

As novas formas que surgem dia a dia para a manutenção do moedor de carne movido a consumo, cada dia mais eficientes e precisas, ainda conseguem me assustar. Não pela sua maneira de ser em si. A doideira já é tanta que elas somente se somam.. Quem pensava que existiriam muitas pessoas que passariam boa parte de sua vida presente com um telefone, daqueles que até pouco tempo atrás eram exclusividade da Madona? E pior, atendendo outras muitas pessoas que estão pouco a pouco aprendendo a também fazer tudo pelo telefone e pelo computador, de forma que o contato humano, se houver algum, seja necessariamente mediado por uma máquina. Uhuulll.... chegou galera, é o futuro...
Bom, além de colaborar para a consolidação de uma classe média gorda, enclausurada no seu apezinho financiado pela caixa e escrota, o fabuloso mundo do telemarketing, emprega mocinhas e mocinhos sem experiência no mercado, afinal operar uma daquelas máquinas e decorar sete falas exige uma super qualificação. Daí a função social da empresa que gentilmente oferece uma primeira oportunidade e a chance de que esses jovens aprendam uma profissão, como se fosse um estágio. Isso justifica que sua remuneração seja em torno de 400,00 para uma jornada de seis horas diárias, seis dias por semana. É quase um investimento no futuro.
Agora pense só o universo que se cria entre todas essas pessoas que se encontram todo dia e se sentam lado a lado para persuasivamente dizer:
-A senhora acabou de ganhar um cartão de crédito adicional para qualquer pessoa de sua família!!!
- Eu não tenho família. Inclusive vou cancelar o cartão porque ele só era usado para comprar remédios para o meu pai que faleceu esta manhã.
- Muito bem, nesse caso a senhora pode dar de presente para um amigo.
-Eu não tenho amigos.
-Namorado!
- Então me arranja um namorado.

E desata a chorar dizendo que vai se matar. Imagine a cara da mocinha do outro lado lembrando que no curso haviam lhe dito para ser insistente, que a maioria das vendas antes de se realizarem, haviam passado por negativas do cliente. Mas ninguém tinha lhe ensinado a lidar com suicidas....

Ou então pense um sábado de manhã. Sem ressaca, mas devidamente compensada por uma gripe. Não tenho telefone fixo na minha casa, mas não estava lá. Por ocasião da vida, esses dias atrás me lembrei de umas das coisas que eu mais detesto em telefone fixo: aquelas pessoas chatas que ligam e desligam na sua cara sabe deus por que... Para celular é caro, agora no fixo não pega nada ficar te atormentando.... e dá para ligar de orelhão, já que o intuito não é comunicar, mas sim te fazer espumar...
Bom, eu, não na minha casa, ainda meio dormindo e com o telefone tocando. Atendo. Escuta meio segundo a voz e desliga na minha cara. Faz isso por mais 5 vezes seguidas.
Eu já espumando, toca de novo. Atendo de novo, mas dessa vez quero sangue....
- Escuta, vai se foder, para de ligar aqui. Se você quer falar com alguém fala logo ou então...
- Bom dia senhora, aqui é Luciana da Net Virtua...
-Ai, desculpa moça, é que estavam ligando aqui e...
-A senhora entrou em contato com nosso serviço de atendimento e...
-Eu? Eu não.... mas eu não moro aqui também... peraí vou passar o telefone.
-Net Virtua agradece senhora.

Nossa, ela nem alterou o tom de voz com a confusão que eu fiz. Fiquei pensando com quantas malucas como eu, que atendem o telefone daquela forma, esses trabalhadores se deparam por dia. Eles se relacionam com máquinas e como máquinas se portam. Não sabem o contexto do que está acontecendo do outro lado da linha, mas nem se surpreendem. Nem quando recebem um foda-se já de cara.
E aposto que eu não fui nem comentada no horário de lanche, porque alguma outra moça deve ter recebido uma ligação de um passa mal que queria aumentar os canais pornôs de sua assinatura, e parecia se masturbar enquanto falava, perguntando como eram os programas que ele estava comprando e....
Parece bizarro?
Bizarro é o mundo. Isso aí é só uma suposta ilustração.

8.8.07

A mente quieta, a espinha ereta e o coração tranquilo

Sequindo os conselhos da companheira Raquel...
Quando a vida gira mais rápido do que nossa cabeça acompanha, o melhor é parar, respirar, tomar uma cerveja, e tentar ver claramente tudo o que está acontecendo.
Perguntar algumas vezes para nós mesmas:

-Mas que porra é essa agora?

Depois de constatado que é apenas sua vida, tentar não dar tanta importância assim...
Depois repetir algumas vezes o mantra:

- Ainda vou rir disso, ainda vou rir disso, ainda vou rir disso....

E ainda, se for o caso, consulte uma seleção musical apropriada para ajudar a pensar...

Vai lá Tom Zé...só sua confusão me redime.


HAPPY END

(TOM ZÉ - ANTONIO PÁDUA)

Você fala que sim,
que me compreende;
você fala que não,
que não me entrega
que não me vende
que não me deixa
que não me larga.

Mas você deixa tudo
deixou
você deixa mágoa
deixou
você deixa frio
deixou
e me deixa na rua
deixou.

Você jura, jura,
jurou,
você me despreza
prezou,
você vira a esquina
esquinou
e me deixa à toa
tô, tô, to.

Você passa mal
toma Sonrisal
se engana, mas vai em frente
pra mim não tem jeito
não tem beijo final
e não vai ter happy end
e não vai ter happy end
e não vai ter happy.

1.8.07

E se ?

Quando eu era criança, lembro que minha mais frequente viagem era me pensar sendo outra pessoa... qualquer outra. Pirava muito com isso. E se eu fosse ela, como eu pensaria, como eu veria o mundo, se seria mais feliz tendo outra vida que não a minha. Como seria ser aquela menina bonita, que o pai era um funcionário da CESP, chegava do trabalho e brincava com ela, morava em uma casa pequena, tinha vestidos bonitos que a mãe dela fazia? Ou ser uma prima que morava em um sítio e cuidava dos cavalos todo dia... Ou ser menino, isso sim parecia encantador, mais livre e com a quadra para eles na educação física. Nunca gostei de jogar vôlei na grama... Nunca gostei de vôlei na verdade...

Depois de grande, do alto dos 10 ou 11 anos, a piração virou outra. Gostava de inventar outra história para a minha vida. Já que eu nunca saberia o que é ser outra pessoa, sentir e viver como um outro, resolvi sentir diferente sendo eu mesma. Passava horas tentando pensar como eu poderia ser se minha história fosse outra. Quais seriam meus sonhos durante a madrugada. Meus medos. Minhas reações... Batia a cabeça tentando esquecer tudo e começar de novo. Outra história, outra vida.

Claro que nunca consegui. Nem se eu esquecesse do antes, do já passado, ainda existiria sempre o presente, o cotidiano, a vida a ser levada para lembrar. As amarras não se desfaziam, parecia que eu nunca ia me livrar de nada. As noites seriam sempre ruins, os pesadelos sempre os mesmos.

Então um dia eu me apaixonei por História. Comecei a achar fabuloso que as coisas tivessem acontecido de um jeito e agora acontecessem de outro. Lembro até da matéria manjada: Ditadura militar. Meu professor doidão contava da luta contra o governo, de como eles não se conformavam com a situação.E dizia que agora eramos uma democracia na qual o povo votava e tudo, mas que antigamente as pessoas viviam com medo de tudo, não pensavam que um dia ia ser diferente. E assim a história passou a me consolar.

Se eu não podia mudar como tudo tinha sido até então, decidi que iria mudar dali para frente.

Cresci e sai de Piedade. Como eu sempre quis. Achei que assim deixaria para trás coisas ruins, que eu não queria mais lembrar. Seria uma chance de tentar começar de novo. Outra vida, outras pessoas, ninguém me conhecia, eu não era a filha de fulano de tal. Eu não era ninguém! Pela primeira vez achei que tinha conseguido não ser ninguém.

Mais um engano.

Não podemos prescindir de nossa memória sem deixar de ser o que somos. Nossa história é a forma como o passado invade o nosso presente por meio da lembrança, e que nos constitui como ser. Ele nos formou. Nunca poderiamos tirar um pedaço de nossa vida, sem nos tornarmos outra pessoa.

Ou seja, por mais que eu fuja, os sonhos de noite ainda são os mesmos. Não dá pra fugir da gente. Nem passar a vida tentando ser o que não se é.

Talvez tentar ser melhor. Mas essa construção já tem uma base, uma fundação.

E essa não afunda, não some. Nem com um maremoto. Nem estando longe. Nem sabendo que agora, porque eu quis, a vida mudou. Mas lá no fundo, quem eu era me espreita, me observa, me lembra de tudo mesmo se eu não quiser lembrar. Ela não desapareceu, nem vai desaparecer.

Mas agora, eu já aprendi um pouco mais a lidar com ela.

E não acordo mais chorando...

Só de vez em quando.

26.7.07

E onde ficam os limites?

No mundo de hoje, em que o discurso da liberdade é utilizado para justificar as maiores barbáries contra aqueles que por questões estruturais e conjunturais (sendo a última instância das mais frágeis e suscetíveis, dada a eterna busca por segurança em meio a liberdade obrigatória do capitalismo) não podem se beneficiar da tão sonhada individualidade resultante do "ser livre" para consumir, custe o que custar, e sem pensar em ninguém, apenas no "eu". Diante disso, de tão deturpada e maléfica visão sobre o que é ser um indivíduo pleno e apto a realizar suas vontades, qual é o limite da solidariedade e do individualismo? Até onde podemos ir? Qual é a moral que cada grupo cria e impõe sobre companheirismo e ajuda mútua? Por que criticamos e ao mesmo tempo praticamos o cristianismo que coloca humanitarismo e amor ao próximo no mesmo patamar, exatamente ao lado de martirização e sacrifício? Por que para ser um sujeito altruísta, temos que carregar a dor, as escolhas do outro?

Por que eu não posso simplesmente assumir que eu não escolhi determinadas coisas para mim e portanto não tenho a mínima vontade de arcar com as consequências do que o outro assumiu?


Ou melhor: Que moral torta e hipócrita travestida de solidariedade nós, os ditos setores "pra frentex" da sociedade estamos criando?
Será que entendemos o que pode ser a liberdade de fato, ou lutamos com armas conservadoras e opressoras reproduzindo o mesmo mal? O mal da falsa comunidade, da união por coerção, da não possibilidade de simplesmente falar NÃO.

São questões que agora me atormentam... tudo isso são apenas dúvidas. Mas mesmo sem resolver nada de concreto, de manter os problemas sem uma resolução a príncipio, tenho exercitado a prática do falar não... tem doído bastante, é difícil não querer ser boazinha o tempo todo. Porém, para mim, tornou-se um dos exercícios mais fundamentais de liberdade...

Falar não e ficar bem, tranquila com sua própria consciência, é muito mais difícil do que falar sim, mesmo sem uma vontade verdadeira. A primeira atitude é mais honesta, mas também mais dolorida. A segunda, mesmo exigindo sacrifício e desprendimento é mais prática. Mas são enormes as chances de que, num momento de fúria, o sim vire um regozijo de puro ódio e amargura, capaz de criar frases como: Seu ingrato,eu que fiz tanto por você!

Diante disso, penso então que para mim, antes egoísta do que bancária, acumuladora de favores a serem descontados.

Afinal, das formas como podemos atuar no mundo, resta a pergunta: Fazes realmente pelo outro, ou apenas por si, por sua própria vaidade mediada e realizada no outro?

21.7.07

E nao e que morreu...

Ontem, depois de um dia um pouco infernal, tive uma noite em Piedade sem bebida, regada a coca-cola e pouco assunto. Com uma dor de cabeca que nao da para saber de onde vem (eu que nunca tenho nada, so dor de cabeca de ressaca e olhe la). Percebi que a bebida me encanta e ludibria os olhos (ava!). Ta, eu sei que essa e a ideia quando se bebe. Mas me incomodou perceber que em determinados espacos, so me divirto com ela, nao com as pessoas. E a cerveja que me deixa feliz, nao o mundo. Voltei para casa cedo. Triste. Querendo algo mais do que encher a cara e beijar alguem no fim da noite. Voltei careta que so vendo...

Alias, voltei achando que quero que meu lado ebrio seja despertado por outros sentidos. Pelo toque. Pela convivencia e encantamento. Por conversas que terminam na cama. Pelo amor por esse mundo torto.

E Olhe que minha alegria e bem besta.

Hoje por exemplo, so de saber que o ACM morreu, me deu um surto incrivel de esperanca e bem estar. Um Vamo ai!

Eu estava e acordei ainda com dor e um pouco triste. Mas no dia em que se comemora a morte de um escroto master plus hara-hara, tem de se reviver a esperanca. E agora, que morra tambem o Carlismo maldito!

Mesmo com a melancolia de quem sonhou o que queria acordada. Vou tomar meu cafe e ver o sol.

O dia, a certeza de que os filhas da puta tambem sao mortais, e eu, merecemos.



Diretamente de um sabadao com um computador sem acentuacao

19.7.07

Podia né...

Dias lindos e azuis. Uma das melhores companhias que conheço. Cachaça e carne de porco. Finos cheirosos que satisfazem. A vida podia ser assim...

Conversando com um alguém que mexeu com meu coração, ele diz que a vida podia ser uma casinha alugada em Minas Gerais, com uma horta e uns pezinhos de maconha. Só de construir a imagem na minha cabeça, meus olhos marejaram. Eu disse que era uma linda utopia. Ele me diz que não é utopia. Eu digo que é, porque quero para todo mundo.

A vida podia mesmo ser assim. Tranquila. Com pessoas se respeitando e se tratando bem. Sem dizer não quando querem dizer sim. Nem dizendo sim quando querem dizer não. Nem magoando ninguém.

Voltando, tudo volta a simplesmente ser. De coração apertado por ter negado algo a alguém, mesmo sabendo não se tratar de sacanagem. Lembrei que tenho dificuldade em colocar minha vontade acima da dos outros, mesmo que seja justo. Lembrei que tenho que treinar isso para sobreviver aqui. Lembrei que a cidade é dura e com salário no fim do mês.

E ninguém me esperava....

E sinto saudades do alguém para quem não contei que, na minha imagem, na que eu construi, na casinha alugada em Minas Gerais, enquanto eu fazia um cigarrinho colhido do pé, era ele quem regava a horta....

12.7.07

"A estrada ao inferno é pavimentada com boas intenções."

4.7.07

“Não há bem que sempre dure, nem há mal que não se acabe”

Talvez o grande consolo - e também por vezes, a grande tristeza - é saber que as coisas passam. Ou ainda, ter a plena sensação de que tudo, no fim das contas, não passa de uma versão criada a partir da forma em que estamos inseridos na situação, da nossa realidade particular. Como quando estamos tomadas por uma fúria que não se explica, uma raiva cega que só permite que o todo seja avaliado a partir de uma violência tão forte, que chutar o balde parece uma solução inevitável, a única possível. Mas a fúria passa. A cabeça acalma, e a versão pode já não ser a mesma. Me conto a história de outra forma. Penso em outras possibilidades. Já não estou tão certa de que aquilo exigia tamanha reação. Cai a diabinha ensandecida, e, como um fim de TPM, meu mar se acalma, já dá para novamente prestar atenção no horizonte. Esses picos de raiva, me deixam a sensação de que determinadas explosões me encurtam a visão. Sabe aquela famosa do Manuel Bandeira?

“ Que importa a paisagem, a Glória, a baía, a linha do horizonte?
- O que eu vejo é o beco.”

Mas quando clareia, e se volta a enxergar além do beco, cumpre-se o ciclo da esperança. Depois de uma fase ruim, sempre vem uma boa, assim como depois de uma boa, sempre vem uma ruim. Ando gostando de pensar a vida em ciclos. E ainda, nós mulheres somos biologicamente organizadas de forma cíclica, nunca estamos da mesma forma durante todo o mês.

Mas e se um dia a fase ruim for tão grande, a ponto de não passar? Não se superar, de forma a parecer que o ciclo se quebrou e que agora, a vida é linear, rumo ao pior. Ela tem direção em linha reta. Em determinado momento, o beco será definitivo. Não haverá mais saída, não existe para onde correr. Acabou.

Nisso, me pega especular sobre como decidir viver é uma decisão filosófica. Se decidir pelo sim é constatar que existe algo que faz sentido em meio a todo o resto que não faz, enxergar algum encanto, ser atraído por coisas que fazem todas as outras valerem. E com isso, ter a certeza de que, daqui a pouco, tudo vai ficar mais calmo, e que suspirarei aliviada pensando que agora aquilo não é mais o meu presente, agora é uma experiência como tantas outras. Ou seja, o tempo se realiza. Não existe eternidade em nada. Assim sempre se pode ser diferente. Por pior que seja, não se trata do cenário do inferno em que passaremos a eternidade, mas de apenas um momento. É bem verdade que condicionará os próximos, mas ele, em si, é único.

E numa manhã fria, meio gripada e meio sozinha, salve o tempo. Já que só ele possui a proeza de transformar o amargo em aprendizagem, e o doce em substrato da existência, e de dar esperança para o daqui a pouco.

2.7.07

Para o tempo. Para a vida em ciclos que consola com a certeza de que tudo passa. Para a esperança de que tudo é construído e, portanto, pode mudar. Para a vida que se manisfesta em mim e que por vezes me assusta. Para aquela que sou e para aquela que ainda serei....

Não sei quantas almas tenho

Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,

Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.

Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que sogue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo : "Fui eu ?"
Deus sabe, porque o escreveu.

Fernando Pessoa

12.6.07

Essa eu ouvi hoje... para os amantes maduros e maturados pela vida:

- Quando eu tinha 16 anos eu pensava: Olha já estamos apaixonados, agora só falta a gente transar.
Agora eu penso: Olha, já estamos transando.... agora a gente só precisa se apaixonar....

29.5.07

“Vai cuidar da sua vida, diz o dito popular. Quem cuida da vida alheia da sua não pode cuidar.”

Tomando meu café esfumaçado pela manhã fria de segunda-feira, assistindo um dos meus companheiros de vida e moradia se apressar para tomar o ônibus, mesmo ainda faltando uma hora e meia para sua aula começar, me veio pensar sobre o que significa a vida alheia em um lugar tão carente de tudo. Onde os direitos, na prática, são quase nada, o capitalismo é tosco e pouco desenvolvido com mão-de-obra saindo pelo ladrão, o estado é praticamente absolutista para a maioria da população já que parou ainda no âmbito da repressão, e a moral ainda está longe de ser liberalizante. Ou seja, falta muita coisa e sobram tantas outras merdas, como senhoras católicas e fofoqueiras. Nesse espaço, cuidar do outro está muito distante de práticas que visem atender e contemplar dignamente a todos. O bem público, realiza-se como bem privado, no sentido de propriedade. Assim, cuidar do outro se restringe ao campo da moral. Significa zelar para que todos cumpram as leis criadas e impostas para a maioria com o intuito de manter o bem estar da minoria.
Essa minoria, no entanto, na tentativa de justificar a absurdez de sua própria alocação no mundo, se presta a cuidar do outro, quando se presta, seguindo preceitos de um darwismo social arcaico: Nós classes superiores e desenvolvidas, temos que zelar pelos menos evoluídos, principalmente na base moral, porque dessa forma, esses bárbaros chegaram a retidão que precisam para alcançar o progresso material.” E dá-lhe chá de senhores batistas para pensar o próximo evento beneficente. E mais um Rotary Club para que os homens não se sintam de fora da graça de deus que lhes abençoa diariamente para que sejam o que são.
Enquanto ouvia a música, a questão que me vinha era: Por que nesse mundo, cuidar da vida alheia é ruim? O mundo também é o que é por conta da construção do super sujeito egoísta e centrado no seu mundo, pessoas que não enxergam o outro, que se centram na vida orientados apenas pela realização do eu. Mas eu já vivi muito no interior, entendo exatamente qual é o problema colocado por Geraldo Filme. Na grande Piedade, com todos os seus aproximadamente 70.000 habitantes, sendo a maioria moradores da zona rural, eu costumo dizer que o lema é “Cuide da vida de alguém, porque da sua alguém esta cuidando.” O teor negativo desse “cuidar” vem justamente do fato de que o conceito se realiza na moral. A consciência do cuidar público não existe, como em todos os outros lugares.
Nessa separação criada entre a moral e a vida material, em que uma instância mantém o desarranjo da outra, logo, logo assistiremos, de forma ainda mais acirrada o debate em torno da legalização do aborto. Qual é o argumento para o não? Moral. Qual o argumento para o sim? O direito do indivíduo de realizar seus próprios princípios e possuir respaldo do estado, para que a liberdade não continue sendo um privilégio dos que podem pagar pelo citotec e pelas clínicas clandestinas (e veja bem que o termo clandestino não necessariamente remete ao imaginário do mal feito).
Então a minha grande pergunta é, por que não? O que, dentro dessa lógica, vai interferir na vida daqueles que, pessoalmente, individualmente, por questões morais ou religiosas, são contra? Quando me perguntam se eu faria um aborto, mesmo que assistido dignamente, digo sinceramente que não sei, porque nunca passei pela situação de forma concreta. Mas então por que o defendo? Exatamente porque não posso decidir isso pelo “alheio”, não sei quais são as necessidades desse indivíduo. E que o fato de existir a possibilidade legal e estruturada, definitivamente não me obriga a fazê-lo. Ou seja, cuidemos do que serve para todos, e o que esse todo vai fazer com isso, não me interessa. Dessa forma, me importa a vida alheia no que me cabe, na compaixão e na luta para que tudo seja para todos, na realização efetiva de direitos. Quanto a moral, combato a hegemônica burra porque me afeta, porque todo o resto é agredido por ela. Porque existem alheios e alheios, portanto, entre uma escrota ferida em sua fé cristã diante do direito de outra, e essa outra que só quer resolver uma questão que só lhe diz respeito (o que já não é pouca coisa), a minha próxima, com quem me identifico, obviamente é a segunda. E quanto a primeira, só cuido da moral da vida alheia, se for para que ela não interfira mais da forma negativa como o faz. Afinal, cada um com seus santos, desde que eu e minhas companheiras também possamos rezar pelos nossos....

22.5.07

Por que quando a gente já desistiu, já tá achando que a vida é assim mesmo, e que o melhor é se conformar, o telefone toca e a vida volta a ter um colorido capaz de fazer com que a gente dê risada até para o cachorro insuportável do vizinho?

E por que quando no meio desse encanto, passamos a esperar loucamente que o fenômeno capaz de causar tanto bem estar se repita... o telefone simplesmente fica mudo. E quando alguém te liga é do trabalho, ou alguma amiga passando pelo mesmo desespero?

Será que a Clarice tem razão? Será que o segredo é sempre estar distraída?

Mas então, não posso mais ficar com cara de boba quando o sorriso bonito do "alguém" me vier... Quando fica difícil ler romances porque você não consegue tirar o enredo literário da sua vida da cabeça, não posso perder tempo pensando e torcendo para que tudo seja lindo como outrora? Senão dá tudo errado?

Queria que algúém me ensinasse uma fórmula... A da Clarice eu não quero. Na verdade, eu não consigo.

Então a grande dança dos erros, das
palavras desacertadas (...). Tudo errou (...)
e quanto mais erravam, mais com
aspereza queriam, sem um sorriso.
Tudo só porque tinham prestado atenção,
só porque não estavam bastante distraídos.
Só porque, de súbito exigentes
e duros, quiseram ter o que já tinham.
Tudo porque quiseram dar um nome;
porque quiseram ser, eles que eram.
Foram então aprender que, não se
estando distraído, o telefone não toca,
e é preciso sair de casa para que a carta
chegue, e quando o telefone, finalmente,
toca, o deserto da espera já cortou os fios.
Tudo, tudo por não estarem mais distraídos".

(Clarice Lispector)