28.2.07

Amores pela vida...

Ontem me emocionei ao conversar com um grande amor. Conversamos sobre a separação, sobre o romantismo dele e a minha frieza de racionalista louca... Ele não me perdoou por eu não ter acreditado em nós dois e casou. Está feliz e agora achando que louco era ele por acreditar, não eu por desistir. E eu ando em dúvida se o que fiz valeu a pena.
Nos chamávamos de amante-amigo, porque antes de amantes fomos muito amigos e depois de amantes, continuamos amigos. Pensamos em nos ver, mas desisti. Agora ele só quer a amiga, e eu não quero só a metade.
Hoje é aniversário de outro grande amor, que também cansou de só ser meu amante, e resolveu namorar uma mocinha bonitinha, comportada e que lhe dá trabalho. Acho que anda com saudade de nossa inconsequência, do nosso amor de anos sem se declarar amor, sem chamar de nada, sem rotular e sem cobrar... mas também sem viver junto, sem dividir os problemas, sem companheirismo.
E eu ando com saudades de todos eles...
Tomei cerveja com outro no sábado. Assisti a banda de outro tocar.
Tenho saudades de todos..... acho que não aguento perder nenhum deles. E sem ser a namorada, é mais fácil saber deles sem mágoa e sem que ninguém me cobre um desprendimento com minha própria vida que não sou capaz de ter. Nenhum deles conseguiu ser mais importante do que eu mesma. Nenhum dos meus mais belos amores conseguiu me suprimir. Sofria tanto por isso, que achava que não era amor, que eu nunca seria capaz de ter uma vida dedicada ao outro e por isso não amava a ninguém.
Amo sim. E muito.
Amo tanto, que não quero obrigá-los a me conhecer inteira, eles podem não gostar muito do que vão ver. Por enquanto não, e não sei se um dia acontecerá.
Acho que por agora, desisti do tal do grande amor de todo dia.
Porque não sei se eu quero mesmo, ou se o mundo me obriga a sentir falta de algo que nunca tive.
- Quem sabe um dia mulher.... quem sabe um dia....

23.2.07

Carnaval no barril de pólvora.....



Minha gente...o Rio de Janeiro é realmente lindo.... Não é a toa que aquele pessoal endinheirado da bossa nova só queria saber de beber um visqui e olhar pro mar.... E cada vez mais me convenço que moro na cidade mais feia, cinza e insalubre do mundo.
Além da paisagem, descobri que, lindamente, os cariocas são otemos em seu habitat natural. Gentis, simpáticos, de braços para o mundo e não odeiam loucamente os paulistas. Pelo contrário, apenas nos acham neuróticos e feios, brancos e com barriga. No fundo, o carioca tem pena da gente e por isso é até solidário....
Mas além de tudo, passar o carnaval em um barril de pólvora é no minímo uma experiência interessante. Tem muita coisa para pensar o tempo todo. Enquanto no bloco toca o bom e velho “chegou a turma do funil.... todo mundo bebe, mas ninguém dorme no ponto...”, ao lado tem um gringo passa mal achando que realmente chegou na Babilônia colorida e com muito sol. São detestáveis e onde eles chegam, em lugares com atrativos para eles, para a gente só resta duas posições: odia-los ou se comportar idiotamente como os tais, tratando todos os pretos que vendem cerveja como seus escravos do subdesenvolvimento que deveriam agradecer pela mão estendida via consumo. São os imbecis que vem para cá procurar as belas putas cariocas e pisar em muleques pretos que se esgueiam para recolher uma latinha entre as pernas brancas.
Em outros lugares, o carnaval é dos cariocas e, nós, turistas, somos apenas o detalhe. Aí é um sururu lêlê! Divertido, esbórnia, como todo carnaval deveria ser.
Além do carnaval em si, a distribuição espacial da cidade merece bem algumas cervejas de discussão.

No Rio, a praia,enquanto espaço público, horizontaliza as relações e permite maior harmonia entre as classes.

Hahahahahaha

Essa é a maior chacota da era. Os espaços, apesar de públicos e abertos, deixam bem claro quem é quem. Quem serve e quem é servido. Nós e eles. Sempre.
O fato é que a ideologia dominante, aquela que prega trabalho, seriedade e mais trabalho, funciona muito. Apesar do famoso jeitinho, da corrupção praticamente inerente as relações e presente em tudo ( já que tudo parece facilmente negociável), a galera quer muito trabalhar. De qualquer jeito. Se realmente, como apregoam os sociólogos positivistas que associam diretamente pobreza e barbárie, todos os pobres que não tivessem acesso a lenda da oportunidade, fossem se tornar traficantes, ladrões ou arrastadores de criancinhas para fora de carros.... meu irrrmão, aí a galera ia ver o que é a chapa ixquentar.
Se realmente o ser humano fosse um ser estúpido, sem escolhas e absolutamente determinados apenas por seu meio material, o barril de pólvora já tinha explodido e de um jeito muito feio. As favelas, os rastilhos de pólvora, estão incrustados dentro dos limites da cidade onde o dinheiro circula de fato, e não nas rebarbas como em São Paulo. São focos de miséria no meio da fartura ostensiva. Ou seja, a contenção (repressão policial e pensamento único baseado em uma moral escrota e burguesa) é muito eficiente, porque dado o grau de diferenciação social convivendo em espaços muito próximos.... Bom, fica a cargo do leitor pensar o que poderia ser o mundo (ou simplesmente o Rio) sem a rede globo e suas novelas que mostram os dramas da elite carioca e a subserviência dos empregados sem vida própria, limpos e felizes por terem a oportunidade de serem serviçais daquela gente tão bonita...
Ou apenas, sem o caveirão que metralha pessoas como se fossem pombas.

12.2.07

Aprender a olhar



"Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas, que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem, outros que só existem diante das minhas janelas, e outros, finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim."

Cecília Meireles

Hoje estou tentando descobrir como olhar o mundo. Tudo tão esquisito, mal vivido, que não sei nem se estou contente ou triste. O cabelo nem enrolado nem liso, a vontade nem assumida nem escondida, e essa maldita espinha no queixo que não me permite olhar o que tem atrás. Não sei se é drama, ou se realmente tenho um problema sério. Não sei mais se devo me levar a sério, nem a quem levar a sério, nem se levo alguém a sério. Quando me olho, não percebo o errado, apenas o ser vivido, sem viver. Olho para mim e não percebo nada. E quando olho o mundo tenho percebido apenas um otimismo duro. Otimismo porque há muito o que fazer e duro pelo o que é ser humano, pelo trágico-belo existir.

Hoje não sei se as pequenas felicidades existem e eu não consigo enxergar. Não sei de nada, tão vazia, que parece que tenho que reapreender. A falar, a me relacionar, a pensar a vida cogitando a existência do amor. Esse que por vezes, deixa a paisagem da janela tão bonita.

Hoje, assumo que não tenho coerência. Nem eu, muito menos o que escrevo.

Hoje só queria ver tudo mais bonito. E me sentir menos sozinha no meio de todo mundo.

Da próxima vez, se eu puder escolher, quero é ser engraçada.

5.2.07

Quando se tem que ir....


Pois é... apesar do olhar que sorri na paisagem, essa foto, o indivíduo em aparente harmonia com o mundo que o cerca, me lembrou despedida, desencontro. Lembro quando chorei, da janela de um ônibus, apenas com o adeus de uma senhora que se despedia de um casal com duas criancinhas, e que enfrentariam, com muitas e muitas malas, tantas horas de viagem quanto eu. Apenas não consegui pensar que eles estavam de férias como eu. A senhora chorava e eles, ficaram na janela até a curva que definitivamente limparia as lágrimas da paisagem. Pensei que o casal parecia estar se mudando, procurando algo em algum outro lugar, já que ali não havia. Procurando emprego provavelmente, porque pessoas amadas estavam ali. A senhora chorando na saída da rodoviária, e eu chorando por todos aqueles que precisam deixar sua casa, sua cultura e seus amores, para buscar dinheiro, a suposta oportunidade de vida melhor e que geralmente não se realiza, apenas mais uma ilusão dentro dos muitos mitos de ascensão e mudança de vida.
Pensando um pouco nisso, e na máxima do mundo globalizado que é ver bolivianos, sendo explorados por coreanos em São Paulo, fui até a Cantuta, feira de imigrantes bolivianos. Vi comidas típicas, músicas tradicionais, pessoas se encontrando.... mas principalmente vi tristeza, acanhamento, dificuldade de lidar com a língua.... vi apenas estrangeiros deslocados e mal recebidos, mal tratados em meio as placas que anunciavam facilidades para fazer ligações e enviar dinheiro para casa. Enviar dinheiro? Daqui?
Muito mais triste e desolador do que imaginar as dificuldades que atravessam a vida dessa gente, é pensar que essa merda, muito provavelmente, ainda é melhor do que as condições de vida da qual saíram.
O maldito do dinheiro separa famílias não em nome de uma nova forma de ver o mundo, de novos valores de libertação, mas em nome da sobrevivência que ainda assim, permanece humilhante e indigna.
E enquanto isso, do alto da miséria humana que controla o mundo, permanece a proliferação da ideologia de que agora, não existem mais fronteiras, de que o mundo é livre para que circulemos por ele em busca das melhores oportunidades. Enquanto nas rodoviárias, só se vê sonhos ludibriados e fronteiras cada vez mais claras e impostas. Segregados não apenas pela origem de seus rostos e costumes, mas essencialmente, pela miséria que grita em todo o seu ser.

1.2.07

Ausência

(Itamar Assumpção e Ademir Assunção)

Bem que você podia
Pintar na sala
Da minha tarde vazia
Como a poesia