29.12.08

Que venha 2009!

Esse ano, como eu e as companheiras andamos refletindo por aí, parece que não vai terminar nunca... Mas agora que eu joguei o biquini na mochila, finalmente tenho um marco, a sensação de que o ciclo está se fechando mais uma vez de acordo com o tempo de Deus...
Dentre as perspectivas para o ano que vem - trabalhar muito, beber e fumar menos, praticar esportes regularmente e me apaixonar menos para ter tempo de fazer o resto- a que mais está me empolgando é a prefeitura petista que está começando uma página nova na história da política piedadense. Mesmo sabendo que estruturalemente tudo vai continuar a mesma merda, o clima politizado que as filas de banco tem adquirido é impressionante. Outra idéia de política, ainda que sonhando com as realizações de um partido de centro- esquerda europeu.

Sempre que a rapaziada vai para algum lugar de caravana, rola a viagem de tomar o pico e instituir um governo popular. Tenho na memória pelo menos uns quatro gabinetes de governo montados... com todos os meus amigos e suas respectivas áreas de afinidade e trabalho.

Bom, foi isso o que meus companheiros de churrasco fizeram. São pessoas que já trabalham pela cidade e agora vão para a prefeitura. A merda que isso pode dar? Não sei direito, mas pode ser enorme.
Mesmo assim boto fé que vai ser um experiência interessante. Quero estar perto deles para ver e puxar a orelha no bar do Mineiro... Eu continuo não sendo governo.

17.12.08

O beijo

Nas leituras aleatórias de Manuel Bandeira que me alegram o dia e me aconselham como um tarô, essa foi a poesia do dia. A saudade que na noite ébria me apavorou veio no outro dia me dizer que o que foi bonito já existe, já é meu e agora pode ser guardado na paz das minhas lembranças...

Quando a moça lhe estendeu a boca
(A idade da inocência tinha voltado,
Já não havia na árvore maçãs envenenadas),
Ele sentiu, pela primeira vez, que a vida era um dom fácil
De insuportáveis possibilidades.

Ai dele!
Tudo fora pura ilusão daquele beijo.
Tudo tornou a ser cativeiro, inquietação, perplexidade:

- No mundo só havia de verdadeiramente livre aquele beijo.

12.12.08

Divino maravilhoso

A vida em si é muito zica... cada momentinho de alegria é o que faz a gente andar mais um bom tempo na lama da tristeza. E se a gente perde esses momentos? O que sobra dessa vida mal servida? Tem mesmo é que prestar atenção. Ou uma pessoa maravilhosa que pode nos oferecer muitos momentos de alegria pode estar do lado e a gente nem perceber nem ser percebida. Tudo não por estar distraída, mas por estar escondida por uma lama de tristeza.


Atenção ao dobrar uma esquina
Uma alegria, atenção menina
Você vem, quantos anos você tem?
Atenção, precisa ter olhos firmes
Pra este sol, para esta escuridão
Atenção
Tudo é perigoso
Tudo é divino maravilhoso
Atenção para o refrão
É preciso estar atento e forte
Não temos tempo de temer a morte (2x)
Atenção para a estrofe e pro refrão
Pro palavrão, para a palavra de ordem
Atenção para o samba exaltação
Atenção
Tudo é perigoso
Tudo é divino maravilhoso
Atenção para o refrão
É preciso estar atento e forte
Não temos tempo de temer a morte (2x)
Atenção para as janelas no alto
Atenção ao pisar o asfalto, o mangue
Atenção para o sangue sobre o chão
AtençãoTudo é perigoso
Tudo é divino maravilhoso
Atenção para o refrão
É preciso estar atento e forte

25.11.08

Só para animar


Olha que tirinha bacana para quem, como eu, é uma feliz e praticamente desempregada professora de história. Ando pensando cada vez mais seriamente em virar manicure...

17.11.08

Amor - Por secos e molhados

Leve, como leve pluma
Muito leve, leve pousa.
Muito leve, leve pousa.

Na simples e suave coisa
Suave coisa nenhuma
Suave coisa nenhuma.
Sombra, silêncio ou espuma.
Nuvem azul
Que arrefece.

Simples e suave coisa
Suave coisa nenhuma.
Que em mim amadurece


O confuso e sempre presente amor. Normalmente se associa amor ao relacionamento institucional, o namoro "firme" ou o casamento. Particularmente faz muito tempo, anos, que eu não namoro. Apenas namoro na ação. Vez por outra é claro que faz falta, mas quando olho para os lados, minha impressão é que em grande parte dos relacionamentos as pessoas mais se punem do que se amam. Estão mais preocupadas com o status moral do amor do que com o companheirismo que lhe dá sentido. Sempre acreditei que "estar namorando" significa ser companheira de alguém. Por isso não acho que tive algum namorado nos últimos anos: nunca senti esse companheirismo. Nesse caminho machuquei corações que queriam amar o meu, e fui machucada por outros que não me queriam. E assim se vive.
Lembrei de uma frase bonita que vi outro dia: A paixão é monogâmica, mas o amor tem outros caminhos.
O amor não é suave, não é enquadrado e muito menos pode ser moldado aos modelos de relacionamento evolutivo. Quem precisa de uma relação estável como atestado de maturidade e sucesso pessoal, perde o melhor do amor.
E é por esse melhor sempre buscado que ele me amadurece.

12.11.08

11.11.08

De vez em quando tenho saudades do Cid Moreira...


... narrando a Bíblia. Ando achando que, ultimamente, ser católico é mais barato. Morte ao R.R. Soares!!!!




7.11.08

Olha o velhinho de barbas brancas em alta de novo....



"A história acontece duas vezes, a primeira como tragédia, a segunda como farsa."




Tudo bem, eu sei que a frase é manjada. Mas vamos admitir: ela é boa. E nos últimos tempos, além de profética, ela é engraçada.


Saca só - Frases que poderiam ser ditas:

1929- 1933

Hebert Hoover - O republicano - "Eu tenho um sonho: que o mercado resolverá tudo. Homens de pouca fé é só esperar mais um pouquinho."

F.D. Roosevelt - O democrata - "Bom, eu já sou paralítico mesmo, qualquer coisa que eu fizer vai ser um milagre. Levanta -te e anda! Ops, quer dizer, Estado estatize!

2008

Bushinho - O republicano - Crise do quê? Ahn? Lá no Texas minhas vacas estão todas de pé. Ei Jão essa era da boa hein? Põe dessa pá mim!

Obama Bin Laden - O democrata - Eu que já achava difícil ser preto nessa bosta, agora sou preto e presidente. Tô fudido.

31.10.08

Minha primeira morte


Nesses dias por aí, depois do trabalho, estava assistindo “Todo mundo odeia o Cris”, um seriado genial que passa na Record geralmente no meu horário de almoço. Gosto por alguns motivos, como me lembrar pessoas. E a discussão é boa: é um seriado cujos protagonistas são pobres ou, sendo mais bonitinho, classe média baixa. A questão é que ser classe média baixa nos Estados Unidos da década de 80 é muito parecido em diversas instâncias com o ser classe média média no Brasil. Os perrengues, a luta da classe média para não ser quem ela é: o limbo social que quer consumir a aparência como um rico, nem que para isso tenha que aumentar as outras privações de pobre. A típica gente besta que gasta com cabeleireiro e roupas nem que para isso passe o resto do mês contando moeda. Ou pior, endividada pelas próximas encaranações a ponto de quando terminar de pagar tudo, o cabelo já estar uma merda de novo e a roupa já estragada ou fora de moda, o que dá no mesmo. Enfim, foi mais ou menos com isso que eu sempre convivi. A tal da medíocre classe média renner – chapinha. Mas o presidente diz que esse é o caminho...

Hoje em especial, fiquei meio nostálgica com um episódio: O avô do Cris morreu jantando na frente dele. Sofreu um enfarto e caiu de cara no prato. Lembrei do meu avô porque ele também morreu jantando na nossa frente. Na hora (como o Cris) não entendi o que estava acontecendo, mas lembro de tudo: Ele caído e seu prato espatifado porque estava na mão. Tínhamos a mania detestável (segundo minha vó) de jantar com o prato na mão, na sala vendo jornal com o meu vô. Depois disso levaram a gente para a casa do vizinho e enquanto eu via um monte de gente chegando em casa, o vizinho fritava umas coxinhas e nós assistíamos “O rapto do menino dourado”, que na época ainda era um filme novo. Não lembro de como me contaram que meu vô não voltaria do hospital, mas lembro de ter visto ele no caixão, no meio da mesma sala da qual ele saiu carregado algumas horas antes e de ter ficado desesperada. Se ele não voltasse, ninguém mais contaria histórias (todas terrivelmente moralizantes, mas isso eu não sabia na época e achava tudo importante) pela manhã quando estávamos na cama esperando minha vó chamar para o café. Além disso, tinha muito arroz, milho e feijão plantado e ele precisava colher. E a horta? Quem iria regar a horta e tirar os matinhos todo dia? E tem outra, a gente ia caçar e aprender a fazer tapera de sape, ele já tinha prometido. Não me conformava: eu achava que ninguém podia morrer se tivesse prometido algo para alguém e não tivesse cumprido.

Minha vó e minha mãe cuidaram de fazer tudo que ele tinha deixado por fazer. Mas nos quase 20 anos que se passaram desde que ele morreu, ninguém nunca mais prometeu me levar para caçar e dormir no mato. E eu sei que foi depois que ele morreu que tudo desandou na minha vida.
O vô Juvêncio era meio pai assim como a vó Maria era meio mãe de todas nós. Meu pai era muito distante, muito ocupado em ser classe média. Além disso era chucro mesmo, não sabia que ser pai era algo mais do que ser provedor e repressão. Meu avô também não sabia ser muito carinhoso quando era pai da minha mãe. Mas a idade amolece as pessoas, deixa todo mundo mais maleável. E ele não era meu pai, era meu avô a figura masculina mais carinhosa e certa da minha vida. Eu adorava quando as pessoas falavam que eu me parecia com ele: meio moleque e que vivia pelos matos. Lembro dele como seu Juvêncio do bar, como seu Juvêncio caçador, como seu Juvêncio encarregado de fábrica porque tinha aprendido a ler e escrever praticamente sozinho. Lembro dele voltando do mato com um passarinho morto debaixo do braço dizendo que era para mim. Eu era pequena e chamava o passarinho morto de carninha branca: era carne de nhambú, muito mais branca que carne de frango. Ele chegava contente e eu ficava esperando a vó limpar o bicho e fritar.

Meu vô aprendeu a ser carinhoso sendo vô. Ele era um homem rústico, mateiro, que virou operário por acaso e depois dono de bar.E quando penso nele, naquele ogrão branquelo e vermelho de sol voltando do mato com um passarinho para a neta “pretinha” como ele me chamava, penso que meu pai também vai ser um avô legal. Ele só precisa aprender e disso talvez o tempo se encarregue.

28.10.08

Longos 4 anos anos...






Eita porra... achei bonita a vitória da diversidade contra o preconceito. Bacana ver a classe média que não é nem nunca foi homofóbica defendendo a causa. Onde esse povo do PT está com a cabeça? O que tem de mais a opção sexual do rapaz? Onde está a igualdade de direitos?

Depois do movimento "CANSEI" contra o mensalão, voltei a ter orgulho dessa cidade que tão bem me acolheu. Que ama seus nordestinos, seus pretos, suas minorias sexuais, seus grupos oprimidos. O próximo prefeito, se tudo continuar bem assim, deverá ser tudo isso: Preto, pobre, nordestino e gay.

Viva a democracia dos bandeirantes! Viva a locomotiva que carrega o Brasil!

22.10.08

Um salve para as primas


Olha a mulherada se organizando... E para os curiosos, vale dar uma olhada na revista "Beijo da Rua" e no site da ong DAVIDA.
Os nomes são ótimos e as frases de luta também: Sem vergonha garota. Você tem profissão.

21.10.08

Coragem muié...

Lembram de uma música do Raul, bem breguinha auto-ajuda chamada "Quando os sinos dobram"?


"Nunca se vence uma guerra lutando sozinho
Cê sabe que a gente precisa entrar em contato
Com toda essa força contida e que vive guardada
O eco de suas palavras não repercutem em nada
É sempre mais fácil achar que a culpa é do outro
Evita o aperto de mão de um possivel aliado, é...
Convence as paredes do quarto, e dorme tranquilo
Sabendo no fundo do peito que não era nada daquilo

Coragem, coragem, se o que voce quer é aquilo que pensa e faz
Coragem, coragem, que eu sei que voce pode mais."


Engraçada. Também da série: músicas para quem não sabe tocar violão. Mas enfim, ando tão corajosa que tenho tido até medo de tanta vontade de meter o pé na porta e dar umas voltas por aí só para ver o que acontece.
Essa história de querer dar conta de deus e sua obra é furada. Bem vinda ao simples, porque só ele faz sentido. Vez por outra na vida a gente precisa é pensar quer perdeu tudo, para enfim ganhar alguma coisa verdadeira.

Coragem que a vida é mais. Perdi o medo até do que não passa, como o passado que vira e mexe volta e assombra. Ou o amor que vez por outra teima ainda em me queimar.

Vi no final de um filme lindo do Domingos de Oliveira chamado "Amores", uma frase que resolve muita coisa. Basta ser simples:

Tem coisa que não é para entender. É só para decorar.

16.10.08

Dia dos Profê

Pois é minha gente... Eu sei que foi ontem, mas a vida anda bem corrida.
Tripla jornada, e olha que eu nem entrei no baby boom mais conhecido como efeito "Lulão". Mas enfim, ontem recebi recadinhos, minha mãe me ligou dando parabéns, o pessoal do grupo de estudo mandando parabéns para todo mundo... daquele jeito.

Bom, aproveito então para lembrar de um puta professor que me deu aula quando eu estava na sexta série: o Claitão japonês. Professor de inglês. Nunca aprendi grande coisa, sempre odiei aprender inglês, como odeio do fundo do meu coração até hoje. Mas ele era jovem, legal e trazia um monte de músicas bacanas. Foi nos ensaios de uma apresentação de fim de ano no qual, para meu desespero, teríamos que cantar em inglês que ele nos intervalos tocava músicas do Língua de Trapo. Ele me ensinou a tirar sarro da bossa nova, que é muito mais útil do que saber inglês. Cantava em ritmo de João Gilberto uma musiquinha qua começava "cagar é bom, quando a gente está em paz..."

Alguns aninhos depois, comecei a namorar um amigo dele, parceiro de banda. E o Língua de Trapo continuou animando minha vida mas agora nas rodas de fogueira em algum fundo de mato em Piedade. Com vinho vagabundo, claro.

Bom acho que já falei disso aqui, mas o fato é que de todas as músicas que ele cantava, a mais legal de todas era Deusdéti. Ele fazia um sotaque a la Piedade impagável. Muito pior do que o meu.
Saudades do Claitão. Casou, ficou um pouco atrapalhado em decorrência do tempo vivido no toyotismo in loco... mais um imigrante. Mas agora está lá em Piedade. O mesmo anjo da depressão, como costumávamos chamá-lo.

E o melhor, peguei a cifra de Deusdéti. É a típica música de roda de violão e fogueira, ou seja, músicas para quem não sabe tocar violão. Só tem 3 acordes. Apesar de já ter passado um pouco da idade, lá estou eu com meu violão tentando tirar a música. O Che adora.

Deusdéti

1ªparte (Falada)

Acho que foi num dia de São João Batista que conheci Deusdéti
Nesse tempo eu já era Marquexista e ela ainda ia em discoteque
Tentei de tudo, até lavagem cerebrár, meu saco tá que não guenta
Mas nem o Pinochet é tão radicar.Êta muiézinha lazarenta
Igual Deudéti, juro por Deus, não existe
A marvada só lê Capricho e livro da Agatha Cristie
Além do mais é metida a grã-fina, adora homem com
Fedor de gasolina que sina, que sina,
Em veis de ela estudá os pobrema da guerrilha urbana
só quer saber de escuitar música americana estrambólica
Também, a mãe é da liga das Senhoras Católicas
E o bode véio do pai é da Opus Dei
Não sei, não sei
Como é que eu vou sair dessa enrascada
Só se eu pegar o pai e mãe da danada e fazer papér de fachistão:
vendar os óios e carcá fogo num paredão
Só que eu tô ficando cheio de fole, virando um caboclo de coração mole
No lugar de apoiar a luta armada, fico fazendo verso pra namorada
Mas pra encurtar o caso, que nóis aqui temo prauzo prá terminar vamo cantar.

2ªParte (Cantada) Intro:(G D)

Se o nosso amor for logo, logo pras cucuia
A curpa é tua Deudéti
Enquanto eu falo o tempo todo em Che Guevara
Ocê freqüenta o "Tamatete"
Se o meu partido desconfiar qu'eu te namoro virge, porca miséria
Vamo passar toda nossa Lua-de-Mel quebrando gelo na Sibéria

Não pude, não pude
Não pude ir jantar com você no Maquesude

Ocê só pensa em champanhe, caviar e noutros produtos chiques
Esquece sempre que o seu futuro noivo é do Partido Bolchevique
Tem certos dias que me dá um nó na garganta
Daqueles bem morfético
Porque você rejeita o materialismo dialético

Não pude, não pude
Não pude ir jantar com você no Maquesude

7.10.08

Ronda

Fazem algumas semanas que não consigo tirar essa música da cabeça... Para mim, ela é sim uma síntese do espírito piegas, passional, cruel e profundamente poético do centro de São Paulo. A relação com esse pedacinho da cidade só pode ser visceral. De amor e ódio, de alegrias e noites depressivas nos bares da vida. Não dá para ser diferente. No centro, ou se vive.... Ou se vive.

O que o inspirou a compor essa canção?

Paulo Vanzolini - A coisa mais engraçada é que o povo acha que Ronda é um hino a São Paulo, mas na verdade ela é sobre uma mulher da vida (risos). Naquela época, servindo o Exército, eu patrulhava o baixo meretrício. Uma noite, na saída, eu estava tomando um chope ali pela avenida São João, quando vi uma mulher abrindo a porta do bar e olhando para dentro. Imaginei que ela estava procurando o namorado. Ele pensava que era para fazer as pazes, mas o que ela queria era passar fogo nele (risos).

De noite eu rondo a cidade
A te procurar sem encontrar
No meio de olhares espio em todos os bares
Você não está
Volto pra casa abatida
Desencantada da vida
O sonho alegria me dá
Nele você não está
Ah, se eu tivesse quem bem me quisesse
Esse alguém me diria
Desiste, esta busca é inútil
Eu não desistia
Porém, com perfeita paciência
Volto a te buscar
Hei de encontrar
Bebendo com outras mulheres
Rolando um dadinho
Jogando bilhar
E neste dia então
Vai dar na primeira edição
Cena de sangue num bar
Da avenida São João

4.10.08

Quando o invariável se torna variável

"Os homens gostam das mulheres independentes. E também das que não são."
Maria Alice (Leila Diniz) - Todas as mulheres do mundo.

Não dá para negar que o casamento é um tema que perpassa constantemente a vida. Invariavelmente a conversa vem à tona. Invariavelmente alguém lembra e pergunta de alguém e invariavelmente alguém responde: casou. Tudo bem, se ficasse por aí. Mas até quando não é assunto, é assunto. Basta ligar a televisão é e sempre a mesma imagem cristalizada do que pode ser a vida de uma mulher. Invariavelmente elas estão na função de casar ou manter o casamento. Todas. Do jornalismo tosco da Alerta Geral na Record, passando por novelas, filmes e blá, blá... Os homens fazem peripécias, cantam, dançam, sapateiam e casam também. É só mais uma atividade, e não destino da vida.
Tudo bem, a boa e velha discussão de nossa amiga Simoninha Bevoir, a imanência para as mulheres e a transcendência do mundo para os homens.
Mas e hoje? A totalidade da imagem recriada e conservada pela senso comum do que é o caminho normal da vida, dá conta de explicar alguma coisa?

Provavelmente nunca se tenha conseguido recriar a realidade, nem pelo senso comum, nem pela ciência, porque isso é uma pretensão tão ingênua quanto impossível (os historiadores, que não primam ela modéstia, costumam ter essa ambição, mas tal desperdício de energia é outro problema). Mas também há de se pensar que o mundo mudou de uma forma mais radical, e as brechas são maiores. O senso comum, cada vez mais, dá menos conta de explicar o comportamento das pessoas. Reducionismos e argumentos ruins que procedem da idéia de que fodam-se essas novas realidades, de que não faz a menor diferença porque continuam a ser ricos e pobres, é preguiça de pensar e mantém a lógica binária do pensamento conservador de direita e de esquerda.
Bom, de um jeito rápido, lembrando que isso é um blog, fico pensando o quanto o capitalismo afasta as pessoas de deus, mais do catolicismo talvez. Tudo bem, tese manjada. Mas a classe média é o limbo de tudo. Todas as referências se perdem. Os muito fudidos se apegam ao Deus prático pela urgência da vida. Os ricos se apegam pela garantia de sua salvação e só, portanto se dão bem em qualquer discurso.
E a classe média? Ela é metida a instruída, ela rebola demais para se manter classe média, não dá tempo de perder tempo com essas bobaginhas místicas ... Quando muito lêem uns livros espíritas (mais racionalistas, se afastam do fanatismo bestial dos pobres). E como agora tem um mundo de gente (principalmente jovens do setor de serviços) comprando na Renner e nas Casas Bahia, muito mais gente anda estufando o peito e se sentindo classe média.
Bom, mas qual é a parte legal disso?
Afrouxa a moral.É uma puta mão na roda para as muitas mulheres que estão tentando, de algum jeito, tentar uma trajetória de vida diferente e menos medíocre do que a mera resignação ao que lhe foi historicamente imposto.Filhas do iluminismo. Poucas herdeiras e de certa forma, as únicas que se beneficiaram de algum jeito pelo desenvolvimento do capitalismo. Todos os sistemas exploraram homens e mulheres pobres. Mas só o liberalismo permitiu que mulheres e homens fossem explorados da mesma forma, podendo ter acesso a uma parte dos mesmos benefícios. Deus é uma nota de cem para homens e de cinqüenta para as mulheres.
Sujeita do capital, essas mulheres reconfiguraram a instituição do matrimônio.Para os homens, tanto faz.Ou melhor, piorou muito porque na verdade, são eles que não conseguem ficar sozinhos. E como existe mulher divorciada (desquitada era a melhor he he) nesse mundo... Algumas que abandonaram seus lares para serem felizes. Outras que ficaram para trás quando o outro alguém resolveu ser mais feliz. Mas de qualquer forma, emancipadas de uma relação merda e na balada... Talvez loucas para casar de novo, mas de qualquer forma tentando outra coisa.
E a pressão em cima das solteiras? Não é fácil não... O termo solteirona é o mais antigo e o mais escroto do mundo.
Não é um otimismo besta, sei que a base de tudo é mesma. As mulheres emancipadas estão em grande parte loucas para casar de qualquer jeito, a qualquer custo para não ficarem para tia. Mas ainda assim, acredito cada vez mais na mudança. O tempo acelerou e podemos perceber as transformações de um jeito muito gritante. O instante é o tempo presente. E daqui desse tempo, tem muita mulher mais preocupada em encontrar o amor, do em ter um homem. Perderam o medo de serem tratadas como elas merecem.

23.9.08

E no fim das contas, o que realmente importa?

Cada vez mais acho que é o amor. O amor em todas as suas revelações, principalmente pelas mulheres e homens maravilhosos que cruzaram e cruzam sempre minha vida. Seguindo o conselho da encantadora de gatos: ter paciência. Tanto nos dias e noites passadas nas esquinas da São João, quanto nos momentos tumultuados em que o amor imediato faz falta e agita o corpo. E assim perder o medo de se estrepar. Ou seja, de beber, cair e levantar....

O resto só aparece e move o mundo.


O Amor Bate na Aorta
C.D.A


Cantiga de amor sem eira
nem beira,
vira o mundo de cabeça
para baixo,
suspende a saia das mulheres,
tira os óculos dos homens,
o amor, seja como for,
é o amor.
Meu bem, não chores,
hoje tem filme de Carlito.
O amor bate na porta
o amor bate na aorta,
fui abrir e me constipei.
Cardíaco e melancólico,
o amor ronca na horta
entre pés de laranjeira
entre uvas meio verdes
e desejos já maduros.
Entre uvas meio verdes,
meu amor, não te atormentes.
Certos ácidos adoçam
a boca murcha dos velhos
e quando os dentes não mordem
e quando os braços não prendem
o amor faz uma cócega
o amor desenha uma curva
propõe uma geometria.
Amor é bicho instruído.
Olha: o amor pulou o muro
o amor subiu na árvore
em tempo de se estrepar.
Pronto, o amor se estrepou.
Daqui estou vendo o sangue
que corre do corpo andrógino.
Essa ferida, meu bem,
às vezes não sara nunca
às vezes sara amanhã.
Daqui estou vendo o amor
irritado, desapontado,
mas também vejo outras coisas:
vejo beijos que se beijam
ouço mãos que se conversam
e que viajam sem mapa.
Vejo muitas outras coisas
que não ouso compreender...

18.9.08

Me estranhando no mundo

"As coisas não existem. Elas existem para mim."
Sartre

Está difícil escrever qualquer coisa. Sensação de que minha vida está parada. Tudo em suspenso. Momento de olhar para dentro. Dificil mesmo escrever qualquer coisa quando nada está fazendo muito sentido. Tudo estranho. Tentando olhar para as coisas, para o mundo, e entender qual é a minha parte de histeria no que vejo. Até que ponto elas, as situações, os fatos, o mundo, são de certa forma simples e sou eu que dramatizo. Podem as coisas serem assim? Algo em essência e separado do que o meu olhar constrói a partir de minhas próprias percepções e neuroses?
Ando duvidando de tudo que vejo e gostando pouco da minha participação nisso tudo.Construo o mundo a minha volta, para mim, de acordo com minhas premissas, do meu ser.
E a cada dia gosto menos do que vejo.

10.9.08

Ainda sobre a emancipação feminina

Se emancipação é pagar as próprias contas, segue a letra de uma das maiores feministas da música popular brasileira... Vai Tati... quebra tudo...

Eta lele, eta lele
Eta lele, eta lele
Eta lele, eta lele
Eta lele, eta lele


Eu fiquei 3 meses sem quebrar o barraco,
Sou feia, mas tô na moda,
tô podendo pagar hotel pros homens
isso é que é mais importante.

Quebra meu meu barraco
Quebra meu barraco
Quebra meu barraco

9.9.08

O PT morreu... Viva o PT!

Tempos difíceis esses em que não há distinção efetiva entre os vários grupos em disputa. Eu estou em campanha pela Marta (Dona Marta, como dizem os raivosos), e talvez esse seja meu lado mais stalinista (ops, pragmático). Não estou comparando a radicalidade do capitalismo de Estado soviético, com a política social-democrata mansinha dos companheiros do PT. Mas o fato é que não consigo entender essa história de voto crítico, de correr o risco de perder uma eleição para o PSDB, fazendo beicinho de indignado e marido traído para o PT.

Explico: O discurso é ruim, a política é pior. Mas, antes o PT sendo manso, do que o PSDB sendo selvagem. E ele é, todos sabemos. O PSDB com o Estado na mão, é um trator que destrói e desmonta qualquer tipo de benefício que se possa oferecer para os fudidos em geral.

Com isso na cabeça, você engole os bundas do PT. Engole com uma cachaça para ver se desce melhor.
A companheira fala de seu programa de governo, como se ele fosse o máximo da coragem, da mudança estrutural. Com aquela ênfase de viva la revolucion, mas utilizando, por exemplo, a bandeira da revitalização do centro. Ora, nenhum companheiro avisou que o termo é ruim? Que ter muitos pobres, não quer dizer estar morto?

Pensei nisso passando pela Praça Roosevelt com as companheiras. Quando eu me mudei para São Paulo (e nem faz tanto tempo assim), nem os cachorros sentavam para tomar uma cerveja naquele lugar, porque era fedido e insalubre.
Hoje, graças ao fato de que "a vida voltou", a cerveja subiu (acho que 4,50, ou seja, preço de zona ou de otário). Não dá para tomar cerveja do mesmo jeito. E além disso, é pouco atraente pensar naquele bando de gente pau no cú fazendo cara de sabida, concentrado no mesmo lugar. É insalubre também. Ofende.

Esse é o espírito. Revitalizar significa agregar valor. Agrega valor na cerveja, e por tabela, nas pessoas que bebem sua cerveja ali.
Ou seja, quem bebe junto com a ala intelectualizada da cidade, deixa de ser apenas um rosto bonito e uma cabeça vazia. Beber ali, significa que você pode compartilhar da cultura, da inteligência. E é bom lembrar que para grande parte dos artistas, cultura é o que eles fazem nos espaços culturais, e o viver do cotidiano simples não faz parte disso.E agora, sentado ali você é um deles. Essa é a parte mais fabulosa do mundo das mercadorias no seu estágio atual. Consumimos cultura, cerveja e nos identificamos plenamente com os artigos que compramos. Compramos um livro, porque é coisa de gente inteligente e não pelo prazer. Pagamos um absurdo na cerveja, porque com ela, também compramos o que ela significa. Não é ela que vale, é o lugar onde ela é servida.
E não é cevada o que está dentro daquela garrafa.
É cultura.

Segue o diálogo:

- E aí gentes, vamos beber aqui mesmo?
Coro:
-Não....

E nessas prefiro os lugares que ainda estão mortos no centro, mas que assim, me dão a sensação de serem de verdade, e não um simulacro. Já tentei diversificar, mas nesse lugares vivos, não rola nem vontade de paquerar, porque não dá para prever o mala que vai sentar na sua mesa. Vai que o cara tenta me cantar passando a bibliografia sobre o expressionismo no cinema alemão...
Como sempre, terminamos bebendo uma e comendo a boa e velha porção de calabresa em um daqueles lugares que estão mortos há muito tempo. Esse tem até uma lápide: Servindo desde 1958.

Estar vivo é pouco. Antes morto e cheio dos defuntos do centro (como os bolivianos que estavam do nosso lado) do que vivo com aqueles que, vivendo, matam a arte em nome da tal cultura.


Mesmo assim, a vida anda difícil e a conjuntura grita:

Pau no cú da Marta... Viva a Marta!

2.9.08

Tomá um pingão...

Salve Tião Carreiro e Pardinho... Mais uma que me vem por Piedade. E não precisa ser caipira para se identificar... Afinal, quem é que nunca deu uma dessas?

Vou tomá um pingão
Tião Carreiro e Pardinho

Ô, vida amargurada
Quanta dor que sinto
Nesse momento em meu coração
Ô, que saudade dela
Não aguento mais
Vou lá na vendinha
Vou tomá um pingão

1.9.08

Companheiro é companheiro

Piedade, para mim, é sempre uma possibilidade a se buscar e um lugar do qual se afastar... Amo a cidade tanto quanto odeio.

Amo por sua caipirisse genuína. Em Piedade, nosso vocabulário básico tem algumas peculiaridades:

- Utilizamos verbos no diminutivo (como já bem percebeu meu companheiro blogueiro BIR)
Ex: Andandinho, comendinho, bebendinho, viajandinho... palavras essenciais.

- Mas também, utilizamos o diminutivo em adjetivos. Ex: Gostosinho, amarguinho, levianinho.

- E também colocamos ADA para expressar quantidade. Ex: Putaiada, carnaiada, coisaiada, homarada, muierada.


Mas gosto mesmo é do repetório do bar. Sempre aprendo uma música nova. Como a dessa semana. Salve os companheiros de Piedade. E os maravilhosos fins de semana que ele me dão.


Companheiro é Companheiro
César e Paulinho

Escolha bem seus amigos de conduta
Companheiro é companheiro
Filha da puta é filha da puta (4x)

Quem veste a nossa camisa
É companheiro
Quem põe nós na confusão
É filha da puta
Quem ajuda quem precisa
É companheiro
E quem deixa a gente na mão
É filha da puta
Quem devolve o que empresta
É companheiro
Quem enrola e não retrosa
É filha da puta
Quem convida nós pra festa
É companheiro
E quem deseja o mal pra nós
É filha da puta


Escolha bem seus amigos de conduta
Companheiro é companheiro
Filha da puta é filha da puta
(3x)
Quem trabalha honestamente
É companheiro
Quem rouba o nosso dinheiro
É filha da puta
Quem tá do lado da gente

É companheiro
E quem dá golpe à traiçoeira
É filha da puta
Quem vibra o nosso progresso
É companheiro
Quem tem inveja remota
É filha da puta
quem quer o nosso sucesso
É companheiro
E quem quer que a gente se afogue
É filha da puta

Escolha bem seus amigos de conduta
Companheiro é companheiro
Filha da puta é filha da puta (6x)

27.8.08

Trotsky para prefeito de São Paulo!












Não é o próprio gente?
Quem mais colocaria a Internacional Comunista, tocada por um teclado a la anos 80, como fundo musical da propaganda política? Quem mais bradaria em pleno horário nobre da TV: Governança Comunista, por uma São Paulo camarada? E ainda colocaria uma puta tia rouca, feminista e comunista com um ar de Heleninha Roitman como candidata a vereadora?

É por essas e outras que nós, do coisinhas e nóis, apoiamos Edmilson Costa. E é por esses figuras que eu adoro horário eleitoral e eleições....

22.8.08

Para a companheira de vida e de carnavais


Boas Vindas
Caetano Veloso


Sua mãe e eu
Seu irmão e eu
E a mãe do seu irmão
Minha mãe e eu
Meus irmãos e eu
E os pais da sua mãe
E a irmã da sua mãe

Lhe damos as boas-vindas
Boas-vindas, boas-vindas
Venha conhecer a vida

Eu digo que ela é gostosa
Tem o sol e tem a lua
Tem o medo e tem a rosa
Eu digo que ela é gostosa
Tem a noite e tem o dia
A poesia e tem a prosa
Eu digo que ela é gostosa
Tem a morte e tem o amor
E tem o mote e tem a glosa

Eu digo que ela é gostosa
Eu digo que ela é gostosa
Sua mãe e eu
Seu irmão e eu
E o irmão da sua mãe

21.8.08

E a vida andando

As novidades, vez por outra, despertam meu conservadorismo. Hojeestou tão emocionada com as novas, que dei para ter saudade do Chico Buarque. Saudade da minha paixão e de sentir de novo as coisas que esse moço canta...

Eu te amo

Chico Buarque
Composição: Tom Jobim / Chico Buarque
Ah, se já perdemos a noção da hora
Se juntos já jogamos tudo fora
Me conta agora como hei de partir
Ah, se ao te conhecer
Dei pra sonhar, fiz tantos desvarios
Rompi com o mundo, queimei meus navios
Me diz pra onde é que inda posso ir
Se nós nas travessuras das noites eternas
Já confundimos tanto as nossas pernas
Diz com que pernas eu devo seguir
Se entornaste a nossa sorte pelo chão
Se na bagunça do teu coração
Meu sangue errou de veia e se perdeu
Como, se na desordem do armário embutido
Meu paletó enlaça o teu vestido
E o meu sapato inda pisa no teu
Como, se nos amamos feito dois pagãos
Teus seios ainda estão nas minhas mãos
Me explica com que cara eu vou sair
Não, acho que estás te fazendo de tonta
Te dei meus olhos pra tomares conta
Agora conta como hei de partir.

Politica I

Faz tempo que não falo de Piedade... Mas tenho sentido falta de estar mais lá nesses tempos. Na verdade são as eleições. Sempre fico com vontade de conviver mais com a cidade quando começam as disputas para o pleito municipal. O bar fica parecendo uma Àgora, todo mundo vira um cidadão e dá pitado sobre os candidatos e administração atual. Um puta clima politizado.

E nesse ano tudo está ainda mais legal para mim: Meu pai, depois de muitas eleições, se retirou da cena política piedadense. Não sou mais filha de candidato, e logo não vou ser mais filha de vereador. Não que hoje em dia me incomode tanto, mas na adolescência era um inferno. E olhe que eu nem era do PT. Em época de eleição sempre rolava aquela intimada de bar, no calor das discussões políticas:
-E aí, e o seu pai?
- Que tem meu pai?
- Você vai votar nele?
- Não sei.
- O cara está com o Tadeu (PSDB), mas é seu pai.
- Pois é, seu eu pudesse não deixava.
- Imagina se você não vota nele e ele perde por um voto?
- Puts, que merda.

Essa conversa era tão freqüente, que não tinha como não ficar pensando. Em Piedade, dado o número de eleitores, é perfeitamente possível alguém perder por um voto. E no fim, na hora, eu sempre votava. Votava, antes escrevendo Camarão na cédula, e agora, no tiozão da foto que aparecia na tela da urna.

Em outra ocasião, os vereadores resolveram, como é de praxe, aumentar o próprio salário. Cidade em polvorosa, a galera achando uma vergonha. Na escola todo mundo falando, puto. Até que um professor, de História e do PT (craro), resolveu levar todo mundo para a Câmara na hora da sessão. Foi a coisa mais punk que eu já vi em Piedade. A molecada tomou o lugar, e jogaram até sofá pela janela. Todo mundo empolgado, escutando as justificativas dos vereadores. Eu naquela puta situação desgraçada, meio no canto, dava um grito e depois me escondia no fundo. Até que meu pai foi abrir a boca (ele tinha votado contra, ufa....) e um menino do meu lado, que eu á não trombava muito, levanta no meio da fala dele e grita:
- Ladrão... Você é um ladrão como todos esses outros daí.
Meu pai parado, olhando para ele. Um mamute chucro e enfurecido olhando para um menino de 16 anos que a essa altura já estava visivelmente assustado.
- Sua sorte moleque é que você é de menor, porque se não, eu descia daqui agora e aí você ia ver quem é o ladrão.

Nossa... O menino fez um B.O contra o meu pai por ameaça. E eu admito que dei uma queimada de leve com o cigarro no figura. Foi horrível ver alguém xingando o meu pai de ladrão. E mais horrível ainda ter que ficar acuada e não poder xingar o pai dos outros livremente, como é a parte divertida de qualquer manifestação.Porra, por que tinha que ser logo o meu pai no meio daquela palhaçada toda?

Outro dia fui tomar uma com a galera de lá. Saímos do bar do Mineiro (porque toda cidade de respeito tem que ter um bar do Mineiro) e fomos para o bar da Preta Véia, que fica no meio do nada com lugar nenhum, cercado com muito mato. E assim podemos fugir da maldita lei do psiu e fazer um som. Aí chega o Zezé, amigo do meu pai e tocador oficial do violão de 7 cordas. Conversa vai, conversa vem...

-Ô fia, dessa vez seu pai não vai não né?
- Pois é Zezé, cansou, tá precisando cuidar da vida.
-E você, vota em quem?
-Poxa, no Baitaquinha né, lógico.

Tô em campanha... Se tudo der certo, o Baitaca, meu candidato, terá uma trajetória “a la Lulão” e em mais 3 ou 4 eleições ele vai ser prefeito.
Hehe.

13.8.08

Sobre a vitória do feminismo liberal

Ou: O dia em que as mulheres ganhando, perderam

Para Cqs... Afinal isso aqui saiu depois uma longa orgia gastronômica no famigerado Rei do Filé, gastando nossa parte de salário, ops, quer dizer, de emancipação...

O mundo não para. A produção não cessa e compete incessantemente entre si. Rivalizando consigo mesma, a máquina se humaniza e coisifica a humanidade na medida em que suas necessidades são mais importantes. Ela precisa ser mais rápida e mais eficaz, e para tanto, o homem atrapalha.
- Ele gera custo, ele precisa de salário. Esse desgraçado tem família e eu tenho que sustentá-los, sendo que nem sei se vou precisar dos seus filhos futuramente, como no tempo de minhas máquinas avós.
Quando um dia, a vaidade das máquinas, que querem ser melhores entre si, conseguiu praticamente extinguir o trabalho vivo, apenas alguns machos @ continuavam a ser importantes, afinal eram eles que podiam alimentar o duelo de Titãs que se estabelecera. Eles e somente eles ainda participavam da brincadeira, eram os melhores. Os outros, no início, ocupavam outros setores da sociedade, o de serviços. Entretanto, as mulheres aos poucos foram dominando seus espaços. A cada dia elas emancipavam-se mais e mais dos homens e prendia-se ao pouco trabalho que ainda restava. Elas trabalhavam com afinco, eficiência, colocavam a carreira/emprego em primeiro lugar. Elas precisam se libertar, ficar livres de seus algozes ancestrais, e vender a alma para o diabo-deus mercado era o preço a se pagar pela liberdade. A liberdade, aquela... A mesma que os homens lutavam há mais de duzentos anos para conquistar. A liberdade de consumir, de ser um indivíduo, de poder vender minha força de trabalho para o senhor de engenho que eu quiser. Viva a liberdade!
Muitos homens passaram a perambular pelas ruas, perdidos, sem saber o que fazer agora que lhes tiravam o trabalho. Batiam em suas esposas quando essas regressavam do dia de liberdade na roda viva do mercado. Não podiam compreender como o mundo os havia descartado. Eles é que construíam o mundo. As mulheres cuidavam das atividades subsidiárias. Assim é o mundo livre.
As mulheres, libertas e presas, passaram a perceber todo o poder que o diabo-deus havia lhes dado. Passaram a desprezar os homens. Eles não serviam mais para nada mesmo. Podiam comprar apetrechos chineses baratos que supriam a força física necessária para se abrir uma lata de palmito. Tudo é moderno: Ou se arruma com um tapa, ou se joga fora e compra outro quando der.
Entre eles, muitos se resignavam e, por vezes, até gostavam da nova função: Donos do lar. Agora a casa e os filhos eram deles. Pediam dinheiro para a mulher para comprar cigarros e a cervejinha (uma só porque elas geralmente não gostavam que ele bebessem muito) do fim do dia.
- Afinal, talvez seja melhor do agüentar aquele filha-da-puta do Alcides que passou a me foder depois que virou chefe. Pelo menos ela gosta de sexo.

As mulheres agora tinham tempo além do trabalho para pensar em outras coisas. Podiam ir para o bar, ver as amigas, discutir política. Começaram a ter idéias novas. Começaram a organizar associações políticas, soviets exclusivamente femininos. Faziam greves no setor privado de serviços, eram unidas e vez por outra paravam todo o sistema de telemarketing de uma cidade. Praticamente paravam o comércio do lugar. Não tinham força na produção, dado que o setor era minúsculo, mas atuavam fortemente na circulação de mercadorias.
Elegeram uma presidenta, pelo partido Scum, fazendo coro com outros diversos países. Até a China já era governada por uma mulher. A América Latina e a Europa em sua maioria também. Apenas os E.U.A continuavam com um presidente homem, um pastor, mas estes já não tinham tanta importância...
Tomaram o Estado. A social democracia das mulheres, já que as membras consideradas radicais por falarem de classe e fazerem a crítica ao sistema foram banidas. Eram dinossauras anacrônicas.
Aí foi demais. Milícias de machos passaram a se organizar. Machos pobres principalmente, aqueles que não conseguiam se adequar ao mundo das mulheres. Não tinham emprego, e não conseguiam se casar. A questão de gênero continuou sendo uma questão de classe, como sempre foi, mas agora, os homens é que estavam na rebarba do sistema. Eram eles que lutavam por direitos.
A tensão aumentou. A Presidenta Scum, alegando motivos de força maior e segurança pública, convenceu o Senado e a Câmara, ambos constituídos basicamente por mulheres lindas, ricas e que gozam loucamente, ou seja vitoriosas, e por isso eleitas, a lhe dar plenos poderes para agir. O executivo precisava ser forte para que dessa forma, pudesse ter agilidade e destreza para agir enérgica e pontualmente no que fosse necessário. O exército, dividido entre mulheres e submissos conservadores que agiam apenas pela cabeça de suas esposas, estava com ela.

Para que a ordem das coisas se mantivesse: a produção funcionando, as mulheres pobres trabalhando como serviçais baratas, e seus homens cuidando da miserável casa e dos seus mal cuidados filhos, além de fazerem bicos da casa de madamos, os privilegiados que passavam o dia tomando wiski enquanto a mulher mega executiva trabalhava e tinha amantes.

Para que essa bela obra não se desfizesse, esse mundo que lutamos tanto para conquistar. Quantos sutiãs queimados? Quanto trabalho gratuito para mostrarmos o quanto éramos eficientes? Quantos filhos não tidos ou simplesmente largados pelo caminho, nas casa de avós ou na rua?

A perseguição passou a ser cruel. A presidenta escum que nunca vira com bons olhos a permanência de vícios de feminilidade fora da esfera estritamente sexual reprodutiva da cama, fechou o congresso alegando que aquelas mulheres lindas estavam à serviço dos homens. Elas continuavam a se enfeitar porque subjetivamente, eram submissas. E muitas subjetividades viram uma objetividade, portanto uma fraqueza. Foram todas gentilmente enviadas para casa e voltaram as suas atividades de empresárias herdeiras. Magoadas, mas como eram ricas, podiam continuar a serem as fofas enfeitadas em seus oásis particulares. Pensando bem é até melhor, dado que sendo ilegal, constituia um privilégio ainda maior. Lá poderiam fazer as unhas, hidratação, depilação, massagem... Poderiam passar o dia experimentando roupas e modelos novos. Cheirando a melhor cocaína e indo fazer 3 horas de ginástica. E de noite, iam lindas e clandestinas para lugares escusos, onde pagavam bebidas para vagabundos bonitos e silenciosos... Esses guetos eram frequentados por mulheres ricas ou de classe média, apenas fúteis e loucas por diversão, ou subversivas e atuantes politicamente. De qualquer forma, os locais eram poucos e elas acabavam por freqüentar os mesmos ambientes, unindo-se territorialmente por não se resignaram ao Estado. Poucas mulheres pobres conseguiam ter acesso a esse mundo. Por vezes, essas moças, fúteis ou progressistas que se mesclavam entre si, e que encontravam homens de vida clandestina nos guetos mais obscuros. Eles, apesar de inimigos para a maioria, para o senso comum, de questionarem a hegemonia e opressão das mulheres, eram homens que pareciam tão interessantes... Já as guerrilheiras, aquelas que foram banidas nos primeiros tempos da social democracia feminista, viviam escondidas no pouco que nos restava do que chamávamos de “campo”, mato.

Enquanto isso, as mulheres pobres deveriam sacrificar-se pela causa feminista de Estado. Uma sociedade nova só poderia ser construída com muito esforço e disciplina. Nada de perder tempo se arrumando. Isso são resquícios do tempo em que éramos escravas dos homens. Os interrogatórios eram cruéis.
- Você vestiu uma lingerie preta e ficou de quatro, em posição de submissão ao seu amante?
- Não..... juro que não....
- Mas sua vizinha delatou você. Disse que ouviu coisas indecentes do barraco dela e, quando foi verificar, lá estava você, cedendo as próprias fantasias.
- Tá bom, eu confesso. Dei de quatro e vesti lingerie vermelha.
- Era preta.
- Tá. Tá... preta então....

E no outro caso, com as moças de classe média:
- Você deixou de ir trabalhar na empresa e passou o dia tomando sorvete de chocolate, assistindo filme romântico e chorando pelo seu ex? Aquele que te trocou por uma perua de salto alto, altamente subversiva?
- Não... eu estava chorando porque não passei em uma prova da pós graduação...
- Mentira, era por causa de um homem.
- Não, juro. Era pela minha vida profissional...

A opressão pelo ser correto e plenamente feminista passou a ser tanto quanto a piora significativa nas condições de vida. Nem mesmo as mulheres tinham emprego. Muitas camelôs andavam pelas ruas com suas mercadorias, e, mesmo a atividade tendo sido proibida aos homens, elas também eram muitas. Faxineiras andavam de casa em casa oferecendo seus serviços. Concorrendo com elas e clandestinamente, portanto de forma mais barata, homens donos de casa buscavam serviço para ajudar suas mulheres desempregadas.

Milhões de pessoas iam para as ruas e exigiam eleições livres mistas. Achavam que o problema do Estado e do eminente colapso econômico, era a falta de democracia, transparência e vontade política. Diante das pressões, a Presidenta Scum renunciou. O governo provisório e misto que assumiu o poder, imediatamente, liberou a censura aos salões de beleza e as fábricas e manufaturas de produtos de beleza em geral. Restabeleceu-se a liberdade de ser enfeitada e bonita, enquanto manteve-se a opressão de todo o resto. As guerrilheiras que teimavam em falar de igualdade social continuavam banidas e perseguidas.
Mas o mercado da beleza reaqueceu os empregos femininos. O dinheiro voltou a circular por meio de unhas feitas e cabelos pintados. A desigualdade continuou, mas agora poderíamos continuar lutando por liberdade. Podemos continuar pedalando sem chegar a lugar nenhum. Sem ao menos sair do lugar...

E assim, a aparência foi considerada em detrimento da essência e as questões conseqüentes, transformados em questões primordiais, esconderam onde é que realmente morava o problema. E o capital continuou caminhando para sua ruína, levando consigo uma parte do mundo. E a paz dos pobres mais uma vez se restabeleceu...

12.8.08

E o problema continua o mesmo...


Ou seja, a princípio todo mundo é bonzinho... E nem todos os desgraçados usam armas explícitas para ferir.
E eu, não tenho mais a idade da Mafalda para ainda não ter entendido isso.

11.8.08

Itamar para os raivosos

O Itamar Assumpção é um daqueles artistas que fazem da empiria dessa vida dura, áspera e intratável, força motriz de seus desabafos musicais... Tem sempre uma música para cada situação... Mas eu, particularmente, ando preferindo as raivosas.


Vê Se Me Esquece

Já que você não aparece,
Venho por meio desta
Devolver teu faroeste,
O teu papel de seda,
A tua meia bege,
Tome também teu book,
Leve teu ultraleve
Carteira de saúde,
Tua receita de quibe,
De quiabo, de quibebe,
Do diabo que te carregue,
Te carregue, te carregue
Teu truque sujo, teu hálito,
Teu flerte, tua prancha de surf,
Tua idéia sem verve,
Que nada disso me serve
Já que você não merece,
Devolva minhas preces,
Meu canto, meu amor,
Meu tempo, por favor,
E minha alegria que,
Naquele dia,
Só te emprestei por uns dias
E é tudo que lhe pertence

Ps: já que você foi embora por que não desaparece?

8.8.08

O grande pulinho chinês...


"Podemos escolher o que semear, mas somos obrigados a colher aquilo que plantámos." Provérbio chinês

Estou adorando essa de Olimpíadas... A outra foi chata, em Atenas, ficou aquela babação de ovo em cima do berço da democracia, nossos iguais, civilizados.
Dessa vez, estou me sentindo na Guerra Fria.
Muito legal para os nostálgicos do tempo em que o comunismo representava uma ameaça ao mundo livre. Quando a história não tinha acabado e o muro ainda estava de pé.
Agora, segundo a mídia e mais especificamente os jornais da globo, os comunistas voltaram a comer criancinhas...
Pior, eles comem as gordinhas do sexo feminino, escravizam os gordinhos, e colocam as magrinhas e magrinhos em centros de treinamento militar esportivo, onde elas serão sacrificadas durante toda a vida para se tornarem campeões nas olimpíadas e demonstrarem a superioridade dos chineses frente aos E.U.A, os defensores da liberdade. Ufa...
Que medo do chineses... Ainda bem que agora estou bem informada e sei o quanto eles são malvados!
E mais, nunca tive tanto orgulho de nosso modo de vida ocidental. Nunca tinha me dado conta de quanto sou privilegiada e feliz, por isso é bom sempre ser informada, para perceber como vivem os infelizes atrasados por aí.
Graças a Deus, mais especificamente ao Deus da América (aquele que escolheu os camaradas ao norte para cuidar de todos nós), vivo na parte livre do mundo!

1.8.08

O tal do politicamente correto...

Ultimamente essa é a nova fixação da humanidade: Ser politicamente correto. Não se pode falara mais nada sem pensar 450 vezes se não estamos agredindo alguma minoria, grupo étnico, regionalidade, parentesco, traumas, sexualidade...
me parece que a sociedade resolveu utilizar a linguagem para fingir que os problemas não existem. Anulando a forma-palavra, passa-se a fingir que o preconceito, as sacanagens, os valores deturpados, a evidente valorização da vida de alguns em detrimentos de outras, deixaram de existir.
Ninguém mais fala.
E tudo contunua a existir.
E assim varremos o problema para debaixo do tapede. O melhor, dos dicionários.

Mas e o humor? Onde fica o humor?

Como fazer humor politicamente correto? Como pode tudo ficar mais chato e careta a cada dia?

Não sei, mas pensei nisso com uma piada que ouvi no rádio. Engraçada e incorreta.

E agora? É feio dar risada?

Terremoto no Ceará

Depois dos terremotos ocorridos na Ásia, o Governo Brasileiro resolveu cobrir todo o país. O então recém-criado Centro Sísmico Nacional, poucos dias após entrar em funcionamento, já detectou que haveria um grande terremoto no Nordeste do país.
Assim, enviou um telegrama à delegacia de polícia de Icó, uma cidadezinha no interior do Estado do Ceará.

Dizia a mensagem :

-Urgente. Possível movimento sísmico na zona. Muito perigoso. Richter 7. Epicentro a 3 km da cidade. Tomem medidas e informem resultados com urgência!!!!

Somente uma semana depois, o Centro Sísmico recebeu um telegrama que dizia:
- Aqui é da Polícia de Icó. Movimento sísmico totalmente desarticulado. Richter tentou se evadir, mas foi abatido a tiros. Desativamos as zonas Todas as putas estão presas. Epicentro, Epifania, Epicleison e os outros cinco irmãos estão detidos.

Não respondemos antes porque houve um terremoto da porra aqui!!!!

29.7.08

Que belo estranho dia para se ter alegria

Que bom que os amigos voltam.... sempre. Outro dia recebi um e-mail de um piedadense meio hippie e muito especial que tinha essa frase do título... Achei bonita, mas como eu sempre me impressiono com o ar poético dos meus amigos meio artistas, achei que era mais um momento da cabeça dele.

Esses dias, um dos amores da minha vida veio me visitar. Tão bom encontrar pessoas que sempre fizeram parte da vida da gente... Além da companhia maravilhosa, poucas pessoas conseguem me levar até um museu. Com ele, até uma exposição fica interessantíssima...

Bom, além disso, essas pessoas que por vezes voltam para a minha vida, me trazem coisas boas de saber e ouvir. A última descoberta foi uma moça chamada Roberta Sá. Ela até já participou do FAMA, mas depois de ouvir suas músicas, acabei relevando a falha curricular da moça.

Para os que, como eu, estão um pouco fora do mundo, segue uma letra muito bonita... cantada fica ainda melhor...
Logo eu que nunca gostei das moças que cantam fininho, hehe...

Belo Estranho Dia de Amanhã

Composição: Lula Queiroga

Notícias perderão todo o controle dos fatos
Celebridades cairão no anonimato
Palavras deformadas
Fotos desfocadas, vão atravessar o atlântico
Jornais sairão em branco
E as telas planas de plasma vão se dissolver
O argumento ficou sem assunto.

Vai ter mais tempo pra gente ficar junto
Vai ter mais tempo pra enlouquecer com você
Vai ter mais tempo pra gente ficar junto
Vai ter mais tempo pra enlouquecer...

Os políticos amanhecerão sem voz
O outdoor com as letras trocadas
Dentro do banco central o pessoal vai esquecer
Como é que assina a própria assinatura
E os taxistas já não sabem que rua pegar
Que belo estranho dia pra se ter alegria
E eu respondo e pergunto.

É só o tempo pra gente ficar junto
É só o tempo de eu enlouquecer por você
É só o tempo pra gente ficar junto
É só o tempo de eu enlouquecer...

Alarmes já pararam de apitar
O telefone celular descarregou
O aeroporto tá sem teto
E a moça da tv prevê silêncios e nuvens
A firma que eu trabalho faliu
E o governo decretou feriado amanhã no Brasil
Será que é pedir muito?

É só um jeito da gente ficar junto
É só um jeito de eu enlouquecer com você
É só um jeito da gente ficar junto
É só um jeito de eu enlouquecer...

28.7.08

Ansiedade

Passei o dia pensando em ansiedade... Muita gente reclama da mesma coisa, fala sempre dela, e sempre de uma forma ruim, negativa. Como algo que atravanca a vida. Se o mercado oferecesse produtos que combatem a ansiedade em prateleiras de supermercado como faz com os iogurtes para quem tem prisão de ventre, esse seria com certeza a mercadoria da vez...
Bom, para isso existe o mercado de auto-ajuda, e tudo pode ser facilmente encontrado até em postos de gasolina.
Enfim, eu também sinto a ansiedade como uma limitação que geralmente impulsiona grandes cagadas da vida.
Ansiedade demais descontrola, faz a gente meter os pés pelas mãos em situações ridículas, principalmente naquelas aventuras que envolvem paixão. Sabe aquela boa e velha grudada no celular, angustiada por um toque com nome específico? Pois é, ansiedade. Esperar com o celular na mão, não faz a menor diferença ( a não ser que você acredite que está transmitindo energias que sensibilizarão o ser amado). Ele vai ligar ou não, independente do seu desejo...
Não estava pensando em amor especificamente. Mas quando se pesquisa a palavra no google, só aparecem sites de psicologia e mensagens piegas de amor (geralmente com rosas no fundo). Só estava confabulando tudo isso, para pensar se ela é mesmo tão ruim. A ansiedade vem também do desejo, uma das nossas mais humanas características. De amar, de fazer direito, de ter momentos felizes.
Tenho medo de toda essa normatização, na qual não podemos ser loucas. Temos que ser sempre centradas e normais. Ora, como ser sempre assim? Como não sair do eixo nunca?
Só a base de muitos ansiolíticos. As tais bandejas de iogurte.
No onda das tendências orientalizantes pensadas como contra-ponto a essa merda de "provisório permanente" que é a modernidade, claro que sempre queremos um certo equilíbrio e paz. Mas isso são momentos de ilusão e bem estar. Precisamos de coisas que aliviem a tensão e nos acalme porque o mundo é imbecil e sem lógica. Só não dá para ser ansioso, quem não vive nesse mundo. Não dá para consertar só o indivíduo. É falso e imoral. Mais sensato é talvez aprender a se perdoar quando a ansiedade nos causar momentos desagradáveis e ressacas morais. Como está registrado no aforismo escatológico da Encantadora de gatos, a questão é como se lida com a merda, já que fazê-las é inerente a nossa condição.
Ah, além dos poemas cafonas, dos remédios e dos conselhos de auto-ajuda, também achei um poema bonito do Cruz e Souza. Nada como os poetas para universalizar nossas angústias particulares.
Ansiedade
Esta ansiedade que nos enche o peito
Enche o céu, enche o mar, fecunda a terra.
Ela os germens puríssimos encerra
Do Sentimento límpido, perfeito.
Em jorros cristalinos o direito,
A paz vencendo as convulsões da guerra,
A liberdade que abre as asas e erra
Pelos caminhos do Infinito eleito.
Tudo na mesma ansiedade gira,
Rola no Espaço, dentre a luz suspira
E chora, chora, amargamente chora...
Tudo nos turbilhões da imensidade
Se confunde na trágica ansiedade
Que almas, estrelas, amplidões devora.

25.7.08

Momento para-choque de caminhão


Só não crio juízo porque não sei o que ele come.





22.7.08

Hoje acordei....





... Com uma frase do sonho que agitou minha madrugada:

Às vezes, quando perdemos uma pessoa, estamos ganhando a nós mesmas.



18.7.08

Há um hippie em pé no meu portão, no meu portão, no meu portão... Salve Raulzito!


Mais algumas da série "I wanna be hippie" no paraíso das apostasias e tendências orientalizantes...

" Eu cheguei nas profundezas das fossas abissais. E se todo mundo for complicado como eu, o mundo nunca vai dar certo."

" - Imagine se eu tivesse conhecido esse lugar aos 15 anos?
- Pois é... Deus sabe o que faz."

"- Ô figura, sua mãe não mandou passar o hidradante todo dia?
- Não, só depois do banho."


11.7.08

Por hoje é só amiguinhos....

Uma das boas sensações da vida, na minha humilde e operária condição, é terminar um trabalho. Acabei de apertar o “enviar” em um e-mail que levou com ele muitas das minhas horas. Na verdade, praticamente minhas férias inteiras já que trabalho (quer dizer, dou aulas) para sustentar o hobby, que é ser historiadora. Estou tão emocionada que me sinto a vontade para entrar no clima da academia e fazer agradecimentos para as pessoas diretamente envolvidas no processo:

- Companheiras Cqs pela inspiração de sempre e pelo Nestor Canclini. Encantadora de gatos pela paciência e grandes conversas nas noites em que eu precisava sair do computador, andar e ver a vida loka por aí. Maria pelo otimismo e entusiasmo que compõem suas palavras de estímulo. Para a Raquel Patrícia por ter dito o fundamental : O quê? Deu 50 páginas? Põe ponto final e entrega.

Momento piadista com uma taça de vinho aqui do meu lado, agora o ser que vos escreve ficará alguns dias afastada de um computador, lendo romances em algum lugar entre MG, RG e SP. No melhor estilo “I wanna be hippie”, juntaremos cachorro e crianças e iremos para um desses lugares em que se ouve Raul Seixas, se vê cachoeiras lindas e se come pão integral. E eu faço bolinho de chuva de manhã para garantir a quantidade de massa e fritura suficiente para uma boa alimentação.

10.7.08

Mais um minuto de sabedoria...

Consolo na praia

Vamos, não chores.
A infância está perdida.
A mocidade está perdida.
Mas a vida não se perdeu.

O primeiro amor passou.
O segundo amor passou.
O terceiro amor passou.
Mas o coração continua.

Perdeste o melhor amigo.
Não tentaste qualquer viagem.
Não possuis carro, navio, terra.
Mas tens um cão.

Algumas palavras duras,
em voz mansa, te golpearam.
Nunca, nunca cicatrizam.
Mas, e o humour?

A injustiça não se resolve.
À sombra do mundo errado
murmuraste um protesto tímido.
Mas virão outros.

Tudo somado, devias
precipitar-te, de vez, nas águas.
Estás nu na areia, no vento...
Dorme, meu filho.

CDA

9.7.08


Por vezes o largo do Arouche não é gentil para com os que circulam meio solitários por aí... Principalmente quando o dia é de sol e feriado...
O amor transita por todos os lados. Lado a lado com o libidinoso espetáculo dos encontros furtivos, dos amores de uma noite só, comprados ou não...

As mãos dadas circulam pela praça junto as crianças e os cachorros...
Por aqui ainda se namora na praça.
É bonito, mas de tempos em tempos, dá um nó na garganta. De lembrar o que deve ser esquecido.
A velha briga entre a memória, involuntária por definição, e a razão que tenta aos poucos acalmar o espírito...

6.7.08

Numa tarde linda de sol....


60 famílias comemoraram a inauguração de suas casas no assentamento Dom Tomás Balduíno. Depois de uns bons aninhos debaixo da lona, ou da madeirite, essa rapaziada agora tem uma casa digna de verdade. Não são viveiros, caixinhas de gente. São casas bonitas, espaçosas. E com um custo de mais ou menos 20 mil reais. Ou seja, com uma migalha de 20 mil, uma galerinha vai morar bem para caramba. Como todo mundo deveria morar.
A casa da Piná foi simbolicamente inaugurada, com fita e tudo. Piná é aquela típica moradora do subdesenvolvimento, do pós-moderno sem ao menos ter sido moderno. Piná é preta, pobre, travesti e manca de uma perna. Piná nunca teria, nesse mundão de filha-da-puta, uma casa como a que ela tem hoje. E não porque ela nunca teria acesso aos 20 mil reais. Mesmo que tivesse, não é tanta grana assim. O problema é que para ela, não tem como chegar. Ela não teria nem por onde começar. Não existem projetos para essas pessoas, elas não são produtivas.

Na hora de ir embora, encontrei a figura sentada próxima ao espetáculo de teatro que se apresentava.
- Você foi ver minha casa?
- Como não Piná. Você foi a estrela da festa.
- Se viu minha filha, 3 dias antes é que decidiram que ia ser minha casa. Tem dedo meu aí. Invoquei tudo quanto é santo, pedi para minha Iansã e olha só... Agora só me falta um cobertor de orelha...
-Pois é, mas isso vem mais para frente...
- Quer saber, falta nada. O importante é gozar viu minha filha. Se vai ser com alguém que vai ficar ou que vai embora, não importa. Importa é acordar feliz, com a pele mais bonita, dando bom dia para os passarinhos...

Vai Piná... sua história podia não ser tão única.

3.7.08

Salve as piriguetes!

Fiz até uma maquiagem, ou seja passei lápis e batom. Achei que estava enfeitada demais. Quando cheguei percebi que eu parecia que estava indo trabalhar. As mina só na purpurina porque quem gosta de miséria é intelectual.
1º Pista- Legal, todo mundo dançando... nada demais. Eis que de uma hora para outra a mulherada começa a subir na mesa e rebolar. Você olha para ver se alguém está obrigando.
Não, não estão.

Quando ela me ve ela mexe,
Piri, Pipiri, Pipiri, Piri, Piriguete !
Rebola devagar depois desce,
Piri, Pipiri, Pipiri, Piri, Piriguete !(x2)

De mini saia rodada,
Blusa rosinha,
Decote enfeitado,
Com um monte de purpurina,
Ela não paga,
Ganha cortesia,
Foge se a sua carteira estiver vazia,
Vai na micareta,
Vai no Pop Rock,
Festa de Axé,
Ela só anda de top,
Ela usa brilho,
Piercing no umbigo,
Quando toca reggaeton,
Quer ficar comigo ?

Quando ela me ve ela mexe,
Piri, Pipiri, Pipiri, Piri, Piriguete !
Rebola devagar depois desce,
Piri, Pipiri, Pipiri, Piri, Piriguete !(x2)

Foto de espelho,
na exibição,
Ela curte funk quando chega o verão,
No inverno essa mina nunca sente frio,
Desfila pela night com o short curtinho,
157 de marido,
Ela gosta é de cara comprometido,
Não tem carro,
anda de carona,
Ela anda sexy toda guapetona,
Ela não é amante,
Não é prostituta,
Ela é fiel,
Ela é substituta !

Quando ela me ve ela mexe,
Piri, Pipiri, Pipiri, Piri, Piriguete !
Rebola devagar depois desce,
Piri, Pipiri, Pipiri, Piri, Piriguete ! (x2)

E não são só as modelete. Tem beleza de todo tipo, aquela fartura de carnes e cofrinhos para todo lado.
As compa começam a se animar. Uma delas pensa em subir também. Para e diz: Só gosto de subir na mesa quando não pode.
Enquanto isso, a outra compa já está começando a ficar cor de rosa e a subir a saia. Uhuhuhu
Eu já achando o máximo. Nunca entendi essa mania de intelectual em infantilizar-se. Entre a putaria chula e os saltimbancos... Sinceramente prefiro a segunda.

2º pista

Vamo lá mulherada... Esquece pelo menos hoje, todas as suas discussões de gênero.

Você que é do tipo que nunca foi a mais gostosa da escola, andava de camisa larga xadrez, sapato de camurça, junto com um monte de moleque e se orgulhava de sempre ganhar os garotos na conversa e não com um par de peitos.

Você que sempre se recusou a ser um bife no grande açougue que é o mundo.

Você que acha que ser feminista e de esquerda é antes de tudo ser feia e parecer a companheira trotskista Heloisa Helena, " a sem vaidade".


Vai pro baile!

É realmente muito louco ver um espaço em que todas são princesas. A luz, a música, todo mundo rebolando e pirando.
E aquele monte de homens com cara de neolíticos em busca da caça te rodeando.
Não tem como não ser sedutor. É a hora de mandar a porra da patroa, do telemarketing, do seu sei lá o quê para a casa do caralho e se sentir o máximo. Todo o imaginário, toda a vontade de ser bonita, importante, desejada, se realiza ali.
E os ladrão com copo de visqui e cara de poderoso chefão te olhando...
De repente você nota a amiga intelectual como você, de saia curtíssima e fazendo uma careta. Você lê nos lábios dela:
Que porra é essa?

Sai do transe. Presta atenção na letra:

Como é que ela vai? vai sentando!!
solta essa porra! senta senta senta aqui.
a pedido das novinhas.. solta essa porra

você quer meu cu, você quer minha buceta ou vc prefere que eu te toque uma punheta
vou te chupar ate vc gozar.. eu vou gemer, ate te enlouquecer!
eu vou gemer, toque uma punheta

vai sentando vai sentando vai sentando....

Eita porra. E a putaria deitando e rolando... Todo mundo se redimindo da falta de sentido que é o mundo.
Ai droga. Comecei a pensar de novo... deixa pra lá.
E o Thaíde me salvou....


O que?

Eu mais gosto, quando mando a rima
É ver?
Todo mundo com a mão pra cima. 2X
Por que?
Este peso sei que contamina,
Os manos aperta, e as minas empina

Balance os quadris, mesmo que não souber dançar
O hip hop tá na veia, nem precisa injetar
fumaça no ar, passa pra cá o goró
Quem pode curte de tudo, vai se achar bem melhor
Sem medo, sem dó, música é melhor que pó
As minas estão louquinhas molhada de suor
Eu não tô só, e uma já piscou pra mim
No tempo do 'perreio', eu não era tão fácil assim
Dj pega meu disco, já conhece a faixa
Pista cheia, meu som bombando nas caixas
Pisou no pé de alguém? Peça desculpa e disfarça
Se pisarem no seu pé, não esquenta logo passa
Sensualidade tá no ar
Beijo e abraços fazem parte desta atmosfera
Vejo mulher bonita e gostosa pra lá e pra cá
é só se controlar
transar sem camisinha já era


O que?
Eu mais gosto, quando mando a rima
É ver?
Todo mundo com a mão pra cima. 2X
Por que?
Este peso sei que contamina,
Os manos aperta, e as minas empina

E todo mundo no maior desbunde... Porque é assim mesmo rapaziada... Fora dos portões fofos da usp, o sistema é bruto e a galera tá cagando para os circos mágicos da vida. Todo mundo que é ser rica, bonita, famosa e solteira. Ah, e gostosa, claro. Só as intelectuais acham que isso é um problema.
A pergunta é, problema para quêm? Parafraseando o companheiro José de Souza Martins.
Do alto da pequena burguesice, a galera continua procurando o povo revolucionário. E essas daí não servem. Elas gostam demais de sexo e da própria imagem. São pelegas e vendidas.
Eu me diverti as pencas. Adoro festa pelega... de gente que quer mais é lavar a alma e não dar lição de vida e servir de modelo do que é legal e inteligente para ninguém. Muito menos para a posteridade.

E hoje eu sou solteira e ninguém vai me segurar. Daquele jeito...

30.6.08

Sonetos que não são


Aflição de ser eu e não ser outra.
Aflição de não ser, amor, aquela
Que muitas filhas te deu, casou donzela
E à noite se prepara e se adivinha objeto de amor, atenta e bela.
Aflição de não ser a grande ilha
Que te retém e não te desespera.
(A noite como fera se avizinha.)

Aflição de ser água em meio à terra
E ter a face conturbada e móvel.
E a um só tempo múltipla e imóvel

Não saber se se ausenta ou se te espera.
Aflição de te amar, se te comove.

E sendo água, amor, querer ser terra.

- Hilda Hilst -

20.6.08

Ai, o Carvana...

"Neste sentido, o “New Labour” e todos os seus imitadores demonstram-se, em todo o mundo, compatíveis inteiramente com o modelo neoliberal de seleção social. Pela simulação de “ocupação” e pelo fingimento de um futuro positivo da sociedade do trabalho, cria-se a legitimação moral para tratar de uma maneira mais dura os desempregados e os recusadores de trabalho. Ao mesmo tempo, a coerção estatal de trabalho, as subvenções salariais e os trabalhos assim chamados “cívicos e honoríficos” reduzem cada vez mais os custos de trabalho. Desta maneira, incentiva-se maciçamente o setor canceroso de salários baixos e trabalhos miseráveis."
Manifesto contra o trabalho