18.12.06

A suposta democracia de poucos e o fascismo de contenção pra muitos

Ultimamente tenho vivido uma vidinha bem provinciana. De verdade. Fico aqui no mundusp e esqueço um pouco de como é o pega pra capar do centrão, só para citar o mais próximo, o que já vivi e já me machucou muito. Morei no centro, pertinho do minhocão logo que vim para São Paulo. De Piedade com todos os seus 70 mil habitantes para a merda generalizada. Difícil. Para ir ao banco pegar minha mesadinha apertada era terrível... voltava com vontade de pular pela janela de minha espaçosa e agradável kitnet, que me obrigava a fugir para o banheiro no caso de querer mudar de ambiente. E fugi. Foi isso mesmo. Sabia que com o tempo acabaria amortecendo algumas coisas para continuar vivendo.... mas não quis. Queria sair dali, e não me acostumar. Até porque até desencanar um pouco, eu já teria quatro úlceras e um cerébro derretido por entorpecentes. Não dava.
Bom...lembrei disso porque hoje, companheira Juju e eu, passando por baixo do minhocão, nos deparamos com um carro da guarda municipal zelando por um caminhão de água e sua mangueira super potente. Na hora não entendi. De repente, percebemos com um grito de indignação que os jatos de água era para expulsar a galera que mora naquelas rampas embaixo do viaduto. Um senhor fugia da fúria da pressão da água com algumas coisinhas debaixo do braço.
Isso, esses putos chamam de revitalização e higienização. Limpar para que prevaleça a democracia, o direito da classe média e alta de frequentarem o centro sem encontrar esses pobres feios e sujos que ousam morar na rua. Ou seja, até a rua é para poucos, dado que mesmo privados de tudo, do direito constitucional à moradia, nem lá essas PESSOAS podem morar, porque esteticamente é feio.
Para eles, o fascismo declarado. Para nós, o fascismo democrático.

11.12.06

Para tirar a amargura de foco

Sei que exagerei um pouco na última escrivinhada. Mas naquele momento, era isso mesmo. Pensei em apagá-lo, mas me veio a idéia de que não seria honesto com minha própria memória virtual. Dessa forma, resolvi trocar minha amargura, pela melancolia do belo Murilo Mendes. Cantei mal minha tristeza. Então passo a bola para o poeta.


O homem, a luta e a eternidade

Adivinho nos planos da consciência
dois arcanjos lutando com esferas e pensamentos
mundo de planetas em fogo
vertigem
desequilíbrio de forças,
matéria em convulsão ardendo pra se definir.
Ó alma que não conhece todas as suas possibilidades,
o mundo ainda é pequeno pra te encher.
Abala as colunas da realidade,
desperta os ritmos que estão dormindo.
À guerra! Olha os arcanjos se esfacelando!

Um dia a morte devolverá meu corpo,
minha cabeça devolverá meus pensamentos ruins
meus olhos verão a luz da perfeição
e não haverá mais tempo.

Murilo Mendes

7.12.06

O indivíduo no coletivo... ou como justificar a própria covardia.

Ao que remete a idéia de lealdade? Em um mundo no qual constantemente temos nossa subjetividade massacrada pelo fato de efetivamente estarmos inseridos em uma sociedade de massas, como construimos nossos valores? O que norteia a relação entre o indivíduo e o coletivo ?
Por muito tempo e por muitas vezes, me vi passando por cima dos meus preceitos, das minhas vontades, como forma de não magoar o outro. No entanto, suprimir o que temos de nosso também não caracteriza solidariedade nenhuma, não denota exatamente compaixão (não no sentido de piedade, mas de compartilhar os sentimentos) com a dor do outro, mas com a nossa mesma. Assumir determinadas posições e ser sincero é muito penoso, não afeta apenas o outro. Dessa forma, não ser sincero, significa poupar a nós mesmos da dor de causar o sofrimento no outro. Talvez nisso, esteja a deslealdade. Egoismo e não fraternidade de nos enxergarmos no outro. No fim das contas é mais fácil omitir e abrir mão da responsabilidade.
Por outro lado, temos sim influência direta sobre o bem estar do outro, e portanto temos que medir a forma como somos sinceros e leais. Caso contrário, a lógica do "se deus não existe, eu posso tudo" prevalece e em nome de uma suposta fidelidade, machucamos despropositadamente o outro, quando poderíamos ter sido mais delicados, mais sutis, evitar sofrimentos desnecessários. Qual o limite?
Não sei, de verdade. Mas hoje, me sentindo um pouco traída por pessoas que, querendo poupar o sofrimento (talvez mais o deles do que o meu) me omitiram problemas e verdades das quais eu gostaria de ter participado, mesmo que doesse. Acho que tentei ser leal, tentei fazer um exercício de sinceridade comigo e com os outros. Mas devo ter aparentado uma fragilidade tão grande (quando somos sinceros, nos expomos, e quando nos expomos, muitas vezes demonstramos nossas fraquezas) que deve ter parecido mais fácil me poupar de algumas coisas. Mas o sofrimento poupado, quando vem à tona, vem em dobro, porque traz um sensação de marido traído, uma sensação que remete a fidelidade, a um aspecto moral e não emocional das situações. Enfim, hoje estou preferindo que me contem tudo, doa o quanto doer. Porque as situações, as tristezas passam. Porém, a mágoa de que, naquela situação, pessoas me foram desleais fica. Hoje estou preferindo os trogloditas individualistas do que os falsos solidários. A verdade no lugar da omissão. Com os meus sentimentos, lido eu.