4.7.07

“Não há bem que sempre dure, nem há mal que não se acabe”

Talvez o grande consolo - e também por vezes, a grande tristeza - é saber que as coisas passam. Ou ainda, ter a plena sensação de que tudo, no fim das contas, não passa de uma versão criada a partir da forma em que estamos inseridos na situação, da nossa realidade particular. Como quando estamos tomadas por uma fúria que não se explica, uma raiva cega que só permite que o todo seja avaliado a partir de uma violência tão forte, que chutar o balde parece uma solução inevitável, a única possível. Mas a fúria passa. A cabeça acalma, e a versão pode já não ser a mesma. Me conto a história de outra forma. Penso em outras possibilidades. Já não estou tão certa de que aquilo exigia tamanha reação. Cai a diabinha ensandecida, e, como um fim de TPM, meu mar se acalma, já dá para novamente prestar atenção no horizonte. Esses picos de raiva, me deixam a sensação de que determinadas explosões me encurtam a visão. Sabe aquela famosa do Manuel Bandeira?

“ Que importa a paisagem, a Glória, a baía, a linha do horizonte?
- O que eu vejo é o beco.”

Mas quando clareia, e se volta a enxergar além do beco, cumpre-se o ciclo da esperança. Depois de uma fase ruim, sempre vem uma boa, assim como depois de uma boa, sempre vem uma ruim. Ando gostando de pensar a vida em ciclos. E ainda, nós mulheres somos biologicamente organizadas de forma cíclica, nunca estamos da mesma forma durante todo o mês.

Mas e se um dia a fase ruim for tão grande, a ponto de não passar? Não se superar, de forma a parecer que o ciclo se quebrou e que agora, a vida é linear, rumo ao pior. Ela tem direção em linha reta. Em determinado momento, o beco será definitivo. Não haverá mais saída, não existe para onde correr. Acabou.

Nisso, me pega especular sobre como decidir viver é uma decisão filosófica. Se decidir pelo sim é constatar que existe algo que faz sentido em meio a todo o resto que não faz, enxergar algum encanto, ser atraído por coisas que fazem todas as outras valerem. E com isso, ter a certeza de que, daqui a pouco, tudo vai ficar mais calmo, e que suspirarei aliviada pensando que agora aquilo não é mais o meu presente, agora é uma experiência como tantas outras. Ou seja, o tempo se realiza. Não existe eternidade em nada. Assim sempre se pode ser diferente. Por pior que seja, não se trata do cenário do inferno em que passaremos a eternidade, mas de apenas um momento. É bem verdade que condicionará os próximos, mas ele, em si, é único.

E numa manhã fria, meio gripada e meio sozinha, salve o tempo. Já que só ele possui a proeza de transformar o amargo em aprendizagem, e o doce em substrato da existência, e de dar esperança para o daqui a pouco.

2 comentários:

Anônimo disse...

Ê Cassinha... como já dizia o pré-ministro "Tempo Rei transformai as velhas formas do viver" É vida também quando é ruim... Dar tudo errado pode significar muita coisa, até que só tem gente babaca no mundo, mas na minha humilde opinião, é na viagem para dentro de nós mesmas e, portanto, examinando também nossa cota de babaquisse, que as coisas podem começar a mudar. Viagem difícil, inevitável, no entanto.
Beijão, querida. Sinuquinha pra treinar?

mariana disse...

ká...

concordo com tuas palavras aqui... e com as que deixou lá no meu...
porém...
apenas confesso que é bem difícil perceber que o tempo e que o amor se transformam...

queria tanto conversar com vc!!

vc vem?

bjos