Impressionante como a noção de espaço foi completamente moldada pela necessidade de que muita gente more no mesmo lugar, nas rebarbas do capital, seguindo seu caminho e ritmo. Os escravos sempre acompanham...E essa doidera toda de capitalismo tosco tardio e meia boca, deixa os subdesenvolvidos a cada dia mais perdidos, fazendo mais e mais pataguadas querendo ser modernos. Enfim, coisas sem pé nem cabeça, arquitetura esquisita, e um bando de capiras morando em caixinhas empilhadas. Tipo eu na fase 1 do estágio: Como morar em apartamento.
Sinceramente, e é bem feio admitir, mas com relação a espaço, tenho um raciocínio em favor do senso aristocrático. Ora, na minha terra, o poder ainda tem relação territorial e não apenas virtual e financeiro. Gente rica mora em casas grandes com enormes quintais e pronto. Fiquei realmente espantada quando entrei em um apartamento super harahara (segundo os daqui), 1 por andar e traus. Achei pequeno. Não entendi a graça de ter dinheiro aqui, se não se pode ter uma casa gigante, isolada, piscina, escravos servindo suas mínimas vontades por todos os lados. Não é assim?
Pois bem, os ricos do dito capitalismo emergente são medíocres como todo burguês emergente. Acham o máximo morar em um apartamento no Morumbi, por exemplo. E a classe média é infeliz pra caralho tentando seguir o padrão de vida... Hoje em dia, as pessoas senso-comum-zé povinho arregalam os olhos de pavor quando te ouvem dizer que sua moradia é uma casa.
Enfim, mas aqui no estágio de apartamento, rolaram algumas engraçadas. Com a cqs e agora sem ela.
Cena 1
Eu chego. Uma lata de cerveja na mão, outras algumas na sacola. Esqueci de novo o número do apartamento. O porteiro me diz que é o 43. Quando estou entrando, ele, o porteiro protestante me intercepta:
-Olha mocinha, vou ter que pedir para você terminar essa cerveja lá fora. Não pode entrar bebendo coisas alcólicas no prédio.
Eu, como um olhar de vítima e ar de inocente, bebendo na rua em uma terça-feira lá pelas duas da tarde.
-Mas eu acabei de abrir. Está cheia, gelada.
Um porteiro protestante é incapaz de se sensibilizar com esse tipo de apelo.
-Mas não pode. A senhora termina e sobe.
-Mas daí as outras esquentam, é para a minha amiga... Olha, e se eu colocar aqui no cantinho da sacola, de pé apoiada nas outras, aberta mas escondidinha, tudo bem?
-Tuuuddooo bem.
-Certo.
A essa altura eu já estava rindo na cara do sujeito. Vai bater?
E outra hoje. Cena 2.
Esperando a Sandra, moça da faxina. Acordei mais cedo com medo de não escutar o interfone. Ele toca.
- Oi, é a Sandra, abre para mim.
-Claro, pode deixar.
Desligo, vou até a porta. Viro a chave.
Ela toca de novo.
-Então, você pode abrir para mim?
-Mas está aberta...
Ela desiste, desliga e em poucos minutos está na porta do ap., levemente inconformada.
-Viu, eu estava lá fora, era para abrir o portão porque estava sem porteiro. Fiquei um tempo lá, daí um velhinho abriu e eu entrei.
- Puts, desculpa Sandra, eu não estou acostumada com interfone.
Me senti uma anta de chapéu, claro. É isso aí. Logo, logo, mais uma caipira em um apartamento se atrapalhando. Aprender vá lá. Achar que é assim mesmo já é um pouco demais.
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