27.4.10

Você está nas ruas de São Paulo onde vagabundo guarda o sentimento na sola do pé....

De tempos em tempos fico mais chorona do que de costume... Nos primeiros 7 anos de capitar eu chorava todo dia... Via criança zoada... chorava. Tiozinho com cara de resignado e humilde em excesso no ônibus lotado e chorava... Sentava no bar, tomava uma, a sensibilidade aflorava e daí... mais choro.

Agora já sou quase um ser bruto. Já sei bater boca sem chorar. Já falo não pra criança de rua, já saí no tapa com pilantrinha do Arouche que não entendeu que não pode roubar quem mora na área porque a gente fica chateado. Xinguei de vagabundo pra cima um velhinho de muleta que tava tentando enfiar a mão na minha bolsa no metrô (não foi um engano, acreditem minha gente!). Enfim, hoje me sinto de uma paulistanidade insensível da qual nunca me acreditei capaz... Quando conto as peripécias daqui lá na terrinha, os amigos de longa data se admiram mesmo... Não tem moça boazinha nessa terra de ninguém.

Dei de chorar de novo... acho que tenho muito tempo sobrando pela primeira vez em quase 10 anos. Mas a paulistanidade não volta atrás e não me deixa chorar tão fácil: Talvez vez por outra quando me sinto sozinha... Mas dá pra aguentar,sentir-se sozinho também faz parte da paulistanidade.É só aprender fazer rolê sozinha e pronto. Aguento principalmente porque o interiorano é antes de tudo um forte.

Ultimamente o que anda pegando, que tá foda mesmo, é ver noticiário fascista. Estilo e noção de cidadania do Datena. E ser um pouco mórbido e atraído pela desgraça que ronda a cidade enquanto nos protegemos no nosso mundinho também é um sintoma de paulistanidade, então eu vejo.

Sabe o que faz esses caras baterem uma punheta na televisão? O que me dá uma vontade louca de matar aquela bola de banha do Datena ou aquela nojenta da Ana Paula Padrão?

Notícia de bandido trapalhão. A risada cínica pra contar que o figura pulou um muro pra fugir e caiu no Batalhão da PM. Ou que o cara entalou na chaminé. Ou que não conseguiu fazer o carro pegar porque não sabia onde ficava o afogador, ou que foi roubar cinquentão, se apavorou e virou bandido de sequestro com refém, ou mesmo aquele que tava tentando roubar uma massa de tomate no saco... Foda viu...

Me dá vontade de chorar pensando na vida desse cara. Como é ser alguém que não consegue nem ser ladrão? Tráfico então já requer alto grau de especialização, tempo de carreira, pós graduação em malandragem...

Aí você vê a cara de humilhado do cara... se sentindo o ser mais burro do mundo, o mais fracassado, o que não tem competência nem pra fazer cagada... E agora vai pro cadeião como ladrão de galinha e continuar sendo um zé (com letra minúscula mesmo).

As vagas escasseiam na cidade. E não é verdade que pobreza leva pro crime, principalmente pro tráfico... Não tem lugar pra todo mundo e ser fudido não é curriculum nem pré-requisito que diferencie o campeão dos demais candidatos.

Daqui a pouco tem biqueira colocando na porta: Não há vagas.

E não perturbe!

Um comentário:

Anônimo disse...

Vc falando dessa indiferença aí, foi como olhar num espelho. Só que eu não tive nem a experiência de cidade-que-todo-mundo-conhece-todo-mundo pra perceber o quento ela existe em mim. Nascida e crescida nesta cidade, essa indiferença já é em mim uma segunda pele, um estrategema automático e naturalizado que minha mente produziu pra não enlouquecer. Agora que entendo um pouco mais sobre a minha alegria me sinto mais triste. Maria.