27.3.07

Fosse fácil....

Um dia a gente acaba constatando que é assim.
Assim como?
Assim, desse jeito meio esquisita, meio torta, meio alegre, meio triste
E percebe que perdeu mais tempo tentando ser meio certa, do que aproveitando o meio de fianco.
E entende que ama desse jeito. E que assim como não adianta ficar brava porque esqueceu o cigarro ao lado do café, porque não terminou de ler a tempo o que deveria, porque deliciosamente ficou de pernas pro ar e não lavou roupa.
Também não precisa emburrar por dias e esvaziar mais garrafas
tentando rir
Vai é acabar chorando e andando.

Como num consolo, é bom saber que se é assim.
Que gosta de pagode, e Cartola, por favor, prefiro em casa.
que choro muito em filme,
falar sobre ele, só ser for necessário,
ou a companhia muito boa
Que moço bonito demais, geralmente sabe que é bonito demais
e que sua vida foi mais fácil por conta disso
Então não gosto.
Que café é bom mesmo sem açúcar. Isso aprendi.
Principalmente de ressaca, que por vezes, pode não ser tão ruim, mas um importante momento pra se pensar na eterna luta eu e o mundo
E gosto de muita farinha no feijão,
molhado, prefiro beijos

e amo o que não é perfeito, nem se esforça pra ser
e que tem, do alto da soberba, aquela pedância orgulhosa que só o que é dito
feio pode ter.

Pra você? Só se eu quiser.

E acabei de perceber/saber que esqueci a chave no portão.....

25.3.07

Domingo no meu mundo

Coisa estranha essa de caminhar pela vida. Estranho essa de se ver, de se olhar, e perceber-se alheia e descolada de todo o contexto a sua volta. Os historiadores, aliás, adoram essa palavra: contexto. Teoricamente, dialogamos com o "onde" estamos inseridas. Pode ser um lugar, pode ser uma situação com pressupostos x, pode ser uma situação o com pressupostos y, enfim, tudo varia de acordo com os elementos que se confrontam naquele momento. Quase um jogo matemático. Probabilidade.
Pode ser que eu deteste alguma coisa, mas naquele momento harahara de harmonia e encontro dos astros, aquilo pareça / seja bom, não é isso?
Não se o lugar for a Vila Madalena. Ela é devastadoramente desesperante. Ela reúne o que há de pior e melhor no mesmo espaço . E eu? Por que eu estou ali? O que me aproxima desse lugar, dessas pessoas,o que nesse cenário específico, permite que eu faça parte da alegoria? Por que eu sou aceita, enquanto tantos não são ? Por que eu posso, o que em mim me aproxima da calhordice dessa casta? Da massificação e padronização travestida de diferente? Na Vila, diferente é ser igual. Quanto mais diferente mais igual. Quanto mais se luta pela diferenciação, individualização e exclusividade do indivíduo, mais esses se assemelham a um grande rebanho colorido....
Eles? E eu? Não estava lá?
Estava. Enchi a cara. Dei risada. Fiquei absurdada. Detestei tudo. Mas adorei a música e o músico. Pedimos o resgate. Fomos para casa. Eu e Raquel. Com uma leve ressaca moral dos surtos de espontaneidade insuflada pelo álcool. Mas tudo bem. Ele não vai ligar mesmo. Ele é de lá, estava perfeitamente encaixado.
Mas e eu? Por que eu insistia em me achar diferente? Por que eu não estava? Por que eu achava que não fazia parte do mundo dos ursinhos carinhosos e coloridos que ouvem samba?

Delícia tomar café. Dar risada de ontem. Saber que falou demais. Ressaca, tonteira.
E então, a frase cabalística que me situou. A frase com a qual me sentia em casa. Alocada. Que me libertou do meu desconhecimento e sensação de flutuar e não fazer parte do mundo. De algum lado. E de algum mundo....

- Meu filho não vai estudar em nenhuma escola que tenha QUALQUER projeto pedagógico.

Sai de lá e flutuei. Mas agora de contente. Contente por ser essa, e não aquela, a minha gente.

19.3.07

Sessão nostalgia

Pois é... fui obrigada a ler uma biografia inteira do camarada Renato Russo. De quebra acabei mexendo de novo naqueles cd´s do fundo da armário que a gente só guarda pensando que, no caso de ter filhos, é um documento importante da sua adolescência para mostrar para eles. Lembrei porque eu gostava tanto do cara. Era o mais próximo do romântico confuso com pitadas políticas que eu conhecia. Gostava mesmo. Ouvindo os discos, constatei que ainda sei a maioria das letras de cor. Eu era uma adolescente deprimida que gostava de fossa. O Renato também era uma adolescente deprimido... só que com 22 anos a mais do que eu.

Petróleo do Futuro

Legião Urbana

Ah, se eu soubesse lhe dizer o que eu sonhei ontem à noite
Você ia querer me dizer tudo sobre o seu sonho também
E o que é que eu tenho a ver com isso?

Ah, se eu soubesse lhe dizer o que eu vi ontem à noite
Você ia querer ver, mas não ia acreditar
E o que é que eu tenho a ver com isso?
Filósofos suicidas
Agricultores famintos
Desaparecendo
Embaixo dos arquivos

Ah, se eu soubesse lhe dizer qual é a sua tribo
Também saberia qual é a minha, mas você também não sabe
E o que é que eu tenho a ver com isso?

Ah, se eu soubesse lhe dizer o que fazer pra todo mundo ficar junto
Todo mundo já estava há muito tempo
E o que é que eu tenho a ver com isso?

Sou brasileiro errado
Vivendo em separado
Contando os vencidos
De todos os lados

2.3.07

Embriaguem-se


É preciso estar sempre embriagado. Aí está: eis a única questão. Para não sentirem o fardo horrível do Tempo que verga e inclina para a terra, é preciso que se embriaguem sem descanso.
Com quê? Com vinho, poesia ou virtude, a escolher. Mas embriaguem-se.
E se, porventura, nos degraus de um palácio, sobre a relva verde de um fosso, na solidão morna do quarto, a embriaguez diminuir ou desaparecer quando você acordar, pergunte ao vento, à vega, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo que flui, a tudo que geme, a tudo que gira, a tudo que canta, a tudo que fala, pergunte que horas são; e o vento, a vaga, a estrela, o pássaro, o relógio responderão:
“É hora de embriagar-se”! Para “não serem os escravos martirizados do tempo, embriaguem-se; embriaguem-se sem descanso” Com vinho, poesia ou virtude, a escolher.
Charles Baudelaire