O que é o que é??
Clara e salgada,
cabe em um olho e pesa uma tonelada,
tem sabor de mar,
pode ser discreta,
inquilina da dor,
morada predileta.,
na calada ela vem,
refém da vingança,
irmã do desespero,
rival da esperança,
pode ser causada por vermes e mundanas
ou pelo espinho da flor,
cruel que vc ama,
amante do drama,
vem pra minha cama,
por querer, sem me perguntar me fez sofrer,
e eu que me julguei forte,
e eu que me senti,
serei um fraco,
quando outras delas vir,
se o barato é louco e o processo é lento,
no momento,
deixa eu caminhar contra o vento,
do que adianta eu ser durão e o coração ser vulnerável,
o vento não, ele é suave, mas é frio e implacável
(é quente) borrou a letra triste do poeta,
(só) correu no rosto pardo do profeta.
Verme sai da reta,
a lágrima de um homem vai cair,
esse é o seu B.O. pra eternidade (...)
Jesus chorou - Racionais
Se por um instante, a realidade construída parece estar ficando (parecendo?) ao nosso gosto, numa brusca derrapada, parece que todo o controle sobre a vida se esvai em um simples não saber o que fazer. Nesse instante de ternura, quando algo (ou alguém) parecia estar incluído no nosso universo emocional, por um descuido, ou pelo zelo excessivo de tentar manter o belo, submergimos sem muitas vezes deixar uma âncora para nos lembrarmos aonde estávamos antes daquilo. Daí então a dificuldade de voltar. O barco, sem a âncora, ficou à deriva e se foi. E agora, ou procuramos retomá-lo, encontrá-lo na imensidão das águas (o que me parece um tanto quanto insensato, ou melhor, improvável), ou tentamos voltar para a margem e começar de novo, com outro barco, dessa vez com sinalizadores e meia dúzia de âncoras.
Enquanto conversávamos, mesmo com os olhos marejados, o esforço era tentar (repito, insensatamente), primeiro olhar o mais longe possível, procurando o barco. Depois olhar apenas para uma direção procurando a margem. Hora de voltar, de começar de novo, de não esquecer a âncora.
Não acho o barco, mas abro mais uma cerveja que por hora serve de bóia (apesar de serem aquelas de bracinho que não suportam nosso peso, e estou mais pesada do que nunca). Quase ficando bêbada, quase perdendo a dignidade, quase chorando.....
-Vamos pegar suas coisas lá em casa.... seu presente é seu. Não comprei para mim, não quero, ele vai sempre me lembrar que era seu e que se continua meu, não foi por opção.....
- Vamos.
Final quixotesco.... Caminhamos juntos, esfriava. Pegamos tudo. Voltamos. Eu te ajudava a trazer as coisas num último gesto de companheirismo, aproveitando aquele segundo em que ainda podia te ajudar em algo. E ainda procurava o barco.
Acho que gostou do que escolhi para a sua casa, aquela que eu não frequentaria.
Agora chega, levanto-me e digo que vou embora. Você me acompanha. O último beijo e simplesmente dizemos: Nos vemos.
É, ainda por um tempo, sei que te verei na minha frente. Enquanto ainda procurar o barco, só verei você. Cada vez que tentar entender e deduzir coisas que nunca saberei, como a direção do vento naquele instante, o que pode ter acontecido e para onde o barco pode ter navegado, só verei você.
Viro as costas, lembro que, ainda bem, não tenho mais dinheiro e não posso entrar no bar de novo.
Agora caía uma garoa que arrefecia a cabeça e o coração que ardiam. Paro de olhar para o horizonte e me volto para onde quebram as ondas. Não posso mais retornar para o ponto em que o barco, mesmo navegando sozinho, parecia estável. Portanto, busco a margem, respiro fundo, e torço para que meus braços aguentem chegar até lá. De novo. E quantas vezes precisar voltar.
Clara e salgada,
cabe em um olho e pesa uma tonelada,
tem sabor de mar,
pode ser discreta,
inquilina da dor,
morada predileta.,
na calada ela vem,
refém da vingança,
irmã do desespero,
rival da esperança,
pode ser causada por vermes e mundanas
ou pelo espinho da flor,
cruel que vc ama,
amante do drama,
vem pra minha cama,
por querer, sem me perguntar me fez sofrer,
e eu que me julguei forte,
e eu que me senti,
serei um fraco,
quando outras delas vir,
se o barato é louco e o processo é lento,
no momento,
deixa eu caminhar contra o vento,
do que adianta eu ser durão e o coração ser vulnerável,
o vento não, ele é suave, mas é frio e implacável
(é quente) borrou a letra triste do poeta,
(só) correu no rosto pardo do profeta.
Verme sai da reta,
a lágrima de um homem vai cair,
esse é o seu B.O. pra eternidade (...)
Jesus chorou - Racionais
Se por um instante, a realidade construída parece estar ficando (parecendo?) ao nosso gosto, numa brusca derrapada, parece que todo o controle sobre a vida se esvai em um simples não saber o que fazer. Nesse instante de ternura, quando algo (ou alguém) parecia estar incluído no nosso universo emocional, por um descuido, ou pelo zelo excessivo de tentar manter o belo, submergimos sem muitas vezes deixar uma âncora para nos lembrarmos aonde estávamos antes daquilo. Daí então a dificuldade de voltar. O barco, sem a âncora, ficou à deriva e se foi. E agora, ou procuramos retomá-lo, encontrá-lo na imensidão das águas (o que me parece um tanto quanto insensato, ou melhor, improvável), ou tentamos voltar para a margem e começar de novo, com outro barco, dessa vez com sinalizadores e meia dúzia de âncoras.
Enquanto conversávamos, mesmo com os olhos marejados, o esforço era tentar (repito, insensatamente), primeiro olhar o mais longe possível, procurando o barco. Depois olhar apenas para uma direção procurando a margem. Hora de voltar, de começar de novo, de não esquecer a âncora.
Não acho o barco, mas abro mais uma cerveja que por hora serve de bóia (apesar de serem aquelas de bracinho que não suportam nosso peso, e estou mais pesada do que nunca). Quase ficando bêbada, quase perdendo a dignidade, quase chorando.....
-Vamos pegar suas coisas lá em casa.... seu presente é seu. Não comprei para mim, não quero, ele vai sempre me lembrar que era seu e que se continua meu, não foi por opção.....
- Vamos.
Final quixotesco.... Caminhamos juntos, esfriava. Pegamos tudo. Voltamos. Eu te ajudava a trazer as coisas num último gesto de companheirismo, aproveitando aquele segundo em que ainda podia te ajudar em algo. E ainda procurava o barco.
Acho que gostou do que escolhi para a sua casa, aquela que eu não frequentaria.
Agora chega, levanto-me e digo que vou embora. Você me acompanha. O último beijo e simplesmente dizemos: Nos vemos.
É, ainda por um tempo, sei que te verei na minha frente. Enquanto ainda procurar o barco, só verei você. Cada vez que tentar entender e deduzir coisas que nunca saberei, como a direção do vento naquele instante, o que pode ter acontecido e para onde o barco pode ter navegado, só verei você.
Viro as costas, lembro que, ainda bem, não tenho mais dinheiro e não posso entrar no bar de novo.
Agora caía uma garoa que arrefecia a cabeça e o coração que ardiam. Paro de olhar para o horizonte e me volto para onde quebram as ondas. Não posso mais retornar para o ponto em que o barco, mesmo navegando sozinho, parecia estável. Portanto, busco a margem, respiro fundo, e torço para que meus braços aguentem chegar até lá. De novo. E quantas vezes precisar voltar.