22.1.09

Belém do Pará
Manuel Bandeira

Bembelelém
Viva Belém!

Belém do Pará porto mordeno integrado na equatorial
Beleza eterna da paisagem
Bembelelém
Viva Belém!

Cidade pomar
(Obrigou a polícia a classificar um tipo novo de deliquente:
O apedrejador de mangueiras.)

Bembelelém
Viva Belém!

Belém do Pará onde as avenidas se chamam Estradas:
Estrada de São Jerônimo
Estrada de Nazaré

Onde a banal Avenida Marechal Deodoro da Fonseca de todas as cidades do Brasil
Se chama liricamente
Brasileiramente
Estrada do Generalíssimo Deodoro

Bembelelém
Viva Belém!
Nortista gostosa
Eu te quero bem.

Terra da castanha
Terra da borracha
Terra de biribá bacuri sapoti
Terra de fala cheia de nome indígena
Que a gente não sabe se é de fruta pé de pau ou ave de plumagem bonita.

Nortista gostosa
Eu quero bem.

Me obrigarás a novas saudades
Nunca mais me esquecerei do teu Largo de Sé
Com a fé maciça das duas maravilhosa igreja barrocas
E o renque ajoelhado de sobradinhos coloniais tão bonitinhos

Nunca mais me esquecerei
Das velas encarnadas
Verdes
Azuis
Da doca de Ver-o-Peso
Numa mais

E foi pra me consolar mais tarde
Que inventei esta cantiga:

Bembelelém
Viva Belém!
Nortista gostosa
Eu te quero bem.



20.1.09

E por falar em samba e mulher

Poxa, isso aqui está repetitivo mas dias atrás ouvi uma música jóia da Leci Brandão e hoje ela me pegou de novo. Bom, que a Leci é de luta todo mundo já sabe...

Nessa letra ela fala um pouco do mundo das moças que estão guardadas. Se o Mano Brow diz que cadeia é para homem, ela fala um pouco das zicas das mulheres que não apenas estão detidas como conseguem ter ainda menos direitos do que os homens, como por exemplo o de ter visitas íntimas. Isso quando existe um parceiro que vá visitar.

Claro que existe uma certa vitimização. Dependendo das condições, é um bom negócio passar como uma mulher coitada e dizer que não sabia de nada. Mas ainda assim, independentemente da razão, a música fala da desumanização que se finge de redentora. Sabe-se lá quem são e que vai ser dessas pessoas que estão sendo deformadas por essas penúrias. E sabe lá quem são essas mulheres que andam por aí tentando sustentar sua vida e seus filhos de algum jeito. De qualquer jeito.


O Bagulho do amante

Não matou nem roubou
Mas foi presa em flagrante
Escondeu no chateau
O bagulho do amante
O amante saiu e largou o embrulho
Quando a casa caiu tava lá o bagulho

Lelelelelelele Lelelelelelele
Lelelelelelele Lelelele

[refrão]
Hoje a vida é na cela
Toma banho de sol
Acompanha a novela e também futebol
No dia de visita
Sua mãe vai levar a criança bonita para ela abraçar
O amante saudoso nunca mais foi lhe ver
E ela nem tem direito um pouco de prazer
E que venha o alvará pra essa pobre mulher
Que um dia sairá se Deus quiser

Lelelelelelele Lelelelelelele
Lelelelelelele Lelelele

Pagode pode?

Olha só... Quando alguma coisa toca na rádio 105 fm o negócio é pagode e indústria cultural alienante para o povão. Mas daí vem uma mocinha bem vista pelos meios "meio intelectuais meio de esquerda", grava a mesma música e coloca na Nova Brasil Fm e ... temos uma mágica... Ela automaticamente deixa de ser um pagodão fuleiro e vira MPB. E não adianta falar que o Arlindo Cruz não é pagodeiro porque é. Faz várias parcerias, toca com a rapaziada e tudo mais... Sua trajetória pode não ser parecida, mas hoje ele está muito mais próximo da rapazeada que toca um pagodão aqui no centro, do que da galera "samba de raiz". Na minha opinião, prefiro milhões de vezes um grupo como o Exaltasamba cantando Arlindo Cruz do que a chata da Maria Rita...
Desculpa querida Maria Rita, mas você nunca vai conseguir circular em todos os meios como a mamãe... Ela pode cantar caipira pirapora, mas você cantando pagode é duro de engolir. Eu sei que é cult gostar do povo e traus, mas o barato é um pouco mais difícil. Tem que ter pegada. E pare de inventar moda. Deixe o pagode em paz e volte a gravar o Marcelo Camelo...


O que é o amor
Maria Rita

Composição: Arlindo Cruz / Maurição / Fred Camacho

Se perguntar o que é o amor pra mim
Não sei responder
Não sei explicar
Mas sei que o amor nasceu dentro de mim
Me fez renascer
Me fez despertar
Me disseram uma vez
Que o danado do amor
Pode ser fatal
Dor sem ter remédio pra curar
Me disseram também
Que o amor faz bem
E que vence o mal
E até hoje ninguém conseguiu definir
O que é o amor

Quando a gente ama, brilha mais que o sol
É muita luz
É emoção
O amor
Quando a gente ama, é um clarão do luar
Que vem abençoar
O nosso amor

18.1.09

Nega véia

O povo aqui da minha terra vive procurando um bar para ser esconder depois das 11 da noite. O moralismo do psiu também chegou aqui, então o jeito é ir parar lá no fundão, no meio do nada com o lugar nenhum, beber cerveja e ouvir uns causos no bar da Nega Véia.

Ela é uma figura que particularmente me intriga: Sabe aquele tipo de gente que parece que já sofreu tanto nessa vida que não esquenta a cabeça com muita coisa? Pois é a Nega véia...

A Nega não tem casa, só tem um butina que acabou de rasgar, um balcão e uma foto com o Pelé. A Nega foi cozinheira do Rei.

A Nega não cobra a cerveja o tanto que deveria cobrar. Acho que ela prefere mil vezes os amigos do que o dinheiro. Ah, e ainda dá um docinho de leite para cada um.
E se não aceitar ela faz cara feia. Só assim eu vejo a Nega brava.
A Nega sorri e me dá um abração quando eu chego no bar.
A Nega me dá um doçura no peito enorme, mesmo sem doce de leite.


Mas a Nega me lembra também que nessa terra, quem mais trabalhou sempre foi quem mais se fudeu.
E sei lá como - mas isso é o Brasil- é também quem mais ri, tira sarro dos perrengues e ajuda todo mundo sem perguntar nada. Sem nem esperar que Deus lhe pague.


A Nega é isso. Uma brasileirona forte, preta, sorridente e que faz a gente ter vontade de continuar na vida...

14.1.09

Sai do meu canto do balcão


O último rolê ainda está na minha garganta. Tanta coisa na cabeça... Tudo divertido, ótimo, mas sempre tem alguma coisa que incomoda porque afinal estamos no mundo. Até porque o que aconteceu acontece o tempo todo. E olha que já faz um tempo que não vou para o bar sozinha... Quando muito no pagode.

Bom, acontece que tomar uma cerveja tranqüila e sozinha no balcão ou na mesa continua sendo uma missão Magaiver. Principalmente se chegou o fim da noite e temos o agravante de um certo espírito “último dia de carnaval”. Tudo bem o moço chegar, conversar, estamos aí... O problema é que quando as mulheres dizem não obrigada, os moços entendem que é um sim com charminho...

Aí está armado o problema: o sujeito começa a pesar, sua paciência está curta e a língua solta...

Acontece é que o número de mulheres que freqüentam o bar sozinhas ou com as amigas está aumentando. E os rapazes vão ter que se acostumar com isso e aprender a serem bacanas. Entender que galanteios podem ser gentis e bem vindos desde que não sejam invasivos e persistentes. A gente obviamente também gosta de paquerar desde que seja uma relação entre duas pessoas e não entre um homem e um bife.

Essa escrivinhada, um pretenso-proto-samba, é mais ou menos sobre isso. Contou com a colaboração de Che Serguei, o gato punk (que inclusive achou a letra bunda mole... o Che acha que a gente tem que cuspir na cara desses moços mal educados).

Substituí o forró, a trilha sonora original da situação, por um samba porque ainda não me meti a ter um triângulo em casa. Talvez eu tenha problemas com os vizinhos.

O título foi alterado acatando a sugestão da cuqs..

A musa inspiradora é a Juju, companheira de samba e de viagens. Ela, como tantas outras companheiras, sabe do que estou falando e estava comigo quando tiramos a foto dessa pixação genial em Buenos Aires mi querida ...

Salve a mulherada que está na luta e não desanima de conquistar seus espaços no mundão...


Sai do meu canto do balcão.


Não pense moço que eu vim pro samba

Porque fujo do amor ou minha vida é procurá-lo

Eu não vim aqui atrás de um marido

Nem de um caixa –forte

Nem de um otário


Estou bem tranqüila para ouvir um samba

Beber uma cerveja

Dar a graça e um rebolado


Quem sabe até trombar algum parceiro

Pra tomar uma saideira

Ou virar meu namorado


Sei que às vezes sou mal educada

Mas quando eu digo não

Eu quero dizer não

Se o moço ganha o meu coração

Não hei de preferir passar a noite no balcão


E se acostume a dividir o espaço

A roda

A alegria

E o violão

Que entrar no jogo do salário é nada

Mas pago minha cerveja

E não quero confusão


Sai do meu canto do balcão!

12.1.09

Um salve para os passarinhos ....


...que animaram minha insônia. Não sei o que aconteceu. Talvez a estranheza com a cama, com o silêncio, com o mimo de mãe, com o beijo na boca... Talvez preocupação com a vida que por vezes continua tão ordinária. Acho que eu não mudo muito faz muito tempo. Mas agora posso acordar em uma segunda -feira em Piedade com café da manhã na mesa e caminhada matinal para compensar a bebedeira de ontem... Beber domigo em Piedade, com a companhia de muitas das pessoas que eu realmente levo a sério nesse mundo é realmente um grande evento. Aliás, não trabalhar na segunda-feira é para deixar qualquer um de bom humor.

Eu não mudei mas as coisas se aliviaram. A dor não sumiu mas já é quase só mais uma parte da vida. Ficar gente grande acalma a alma. Talvez tenha sido isso o que mais pensei enquanto ouvia os passarinhos...
Além disso ficar gente grande dá outro tom para as mesmas coisas. Não bebo mais nem menos do que antes. Aliás, acho que bebo menos. Já nem gosto mais de rabo de galo. Mas agora posso até chegar evidentemente sapecada (essa também é para os leitores locais) em casa porque as pessoas já se acostumaram. Se preocupam mas se acostumaram.

Cheguei cedo em casa mas cercando frango... Minha mãe me esperando. E eu esperando a bronca porque ela viu que eu fui para o bar às onze da manhã. Eram onze da noite.

Faladeira e respondona... feliz e reclamando. E a mãe ouviu e deu risada. Me obrigou a comer um lanche e beber alguma coisa não alcólica. Medidas de mãe que salvaram minha vida.
Ela riu tanto... Eu ria e chorava.

Hoje quando enjoei dos passarinhos fui tomar café... tinha até mamão cortado. Há quanto tempo ninguém corta o meu mamão? Aliás, eu nem como mamão...

Estranho ser mimada depois de velha. Da minha vida só eu cuido faz muito tempo. Quando muito a mamãe companheira Raquel me comprava coca-cola quando eu acordava triste de ressaca.

Aqui a vida parece tão calma e tranquila que me assusta. Minha mãe me mima, a vida é barata, os passarinhos cantam e já encontrei um monte de gente só indo tomar um café e comprar jornal. Agora tem até café expresso. O bar é o mais legal do mundo e tem sambistas amigos para tocar as músicas da minha vida e me deixar com vontade de chorar. Do que mais que eu preciso?

Não sei... Não sei mesmo. Hoje estou tão feliz aqui que ando esquecida de que eu não fui embora de Piedade.
Eu fugi.
Fugi de lembranças e de fantasmas.
Hoje eles sumiram. Mas se eu ficar por aqui muito tempo, eles me acham de novo.

Sinto Piedade... Mas acho que vou ser sempre a filha que vai te levar no nome para onde for. Mas que não vai ter coragem de voltar para o teu conforto.
Sinto Piedade... Mas se hoje você é boa comigo é porque em muitas outras vezes você já me fez chorar muito.
Agora não precisa mais gostar de mim. Porque agora eu também gosto do mundo. O mundão grande que não me acolheu tão bem mas me deixou ficar.

Mas apesar de tudo Piedade, vezes e vezes penso em fazer as pazes. Quem sabe ... Quem sabe isso aconteça um dia e aí eu trago os meus filhos para você criar.



7.1.09

O que é bom para todo mundo


Na Segunda Guerra Mundial uma das críticas mais óbvias que se fazem às grandes potências mundiais é na verdade uma pergunta. Uma única pergunta que poderia mudar o rumo das coisas: Por que vocês deixaram a Alemanha chegar onde chegou para depois intervir?

Em 1938, a tal da política de apaziguamento levado a cabo pela Inglaterra permitiu na Conferência de Munique que Hitler anexasse os sudetos na Tchecoslováquia com a benção da diplomacia internacional. Diz a lenda que o se esperava era que se ele não parasse ali, entraria em choque com a U.R.S.S e o camarada do bigode disputando a Polônia.
Aí tudo bem, ficou bom para todo mundo, já que todo mundo quer dizer E.U.A, Inglaterra e França.
Com o pacto de não- agressão entre os bigodudos, a Alemanha invadiu a fudida da Polônia e daí o pessoal do ocidente começou a cagar de medo e resolveu se mexer.... E dessa negligência, desse silêncio diante do monstro produziu-se uma das maiores tragédias da humanidade: O homem contra o homem e sua ciência.

Os que hoje se advogam as maiores vítimas dessa tragédia são os que hojem pedem o silêncio do mundo. E o mundo continua sendo os E.U.A, a Inglaterra e a prima pobre da França.

Israel está massacrando o terrorismo, não dá para reclamar muito não é?

Se Hitler matar os comunistas é melhor pra todo mundo...
Se Israel massacrar árabes muçulmanos terroristas também fica bom para todo mundo...

E deus? Onde está deus meu deus?
A luta entre a aliança judaico-cristã e o islamismo divide o mesmo deus monoteísta em três. Até agora já entendemos de que lado ele tem ficado...


5.1.09

Olha essa vida meu nego....



Você era um menino engraçadinho e bom
Um dia chegou na porta da minha casa
Eu muito mais velha do que você
Já então com todos os meus 13 anos
Você com 12 e um ano a menos de escola
Ganhei um cartão
Meu presente de dia dos namorados
As palavras que eram para parecerem rebuscadas
hoje me fizeram rir quando olhei para aquele papel
no fundo da caixinha, meio amarelo
com uma letra infantil escreveu extremamente
extremamente apaixonado
sonhando todo dia
sem coragem de falar comigo nos bailinhos
(e eu gostando apenas dos mais velhos...
adorava um rapaz de 14 anos)
Me pediu
- com a mesma humildade que te faz gente até hoje-
para que pensasse bem e daí quem sabe um dia...

Esse um dia demorou 14 anos para acontecer
O menino engraçadinho virou um homem encantador
que agora se vinga um pouquinho rindo do meu desprezo
ao amor jovenzinho de outros tempos
Sabe que a vida rodou
- Olha só. Se eu pensava que ia ser assim...
Ele me diz depois que eu, bêbada de amor, de samba
e de cynar digo que quero casar com ele
Ele ri....
Só ri...
Eu só olho
Agora sou eu que espero



Quem sabe um dia