26.7.07

E onde ficam os limites?

No mundo de hoje, em que o discurso da liberdade é utilizado para justificar as maiores barbáries contra aqueles que por questões estruturais e conjunturais (sendo a última instância das mais frágeis e suscetíveis, dada a eterna busca por segurança em meio a liberdade obrigatória do capitalismo) não podem se beneficiar da tão sonhada individualidade resultante do "ser livre" para consumir, custe o que custar, e sem pensar em ninguém, apenas no "eu". Diante disso, de tão deturpada e maléfica visão sobre o que é ser um indivíduo pleno e apto a realizar suas vontades, qual é o limite da solidariedade e do individualismo? Até onde podemos ir? Qual é a moral que cada grupo cria e impõe sobre companheirismo e ajuda mútua? Por que criticamos e ao mesmo tempo praticamos o cristianismo que coloca humanitarismo e amor ao próximo no mesmo patamar, exatamente ao lado de martirização e sacrifício? Por que para ser um sujeito altruísta, temos que carregar a dor, as escolhas do outro?

Por que eu não posso simplesmente assumir que eu não escolhi determinadas coisas para mim e portanto não tenho a mínima vontade de arcar com as consequências do que o outro assumiu?


Ou melhor: Que moral torta e hipócrita travestida de solidariedade nós, os ditos setores "pra frentex" da sociedade estamos criando?
Será que entendemos o que pode ser a liberdade de fato, ou lutamos com armas conservadoras e opressoras reproduzindo o mesmo mal? O mal da falsa comunidade, da união por coerção, da não possibilidade de simplesmente falar NÃO.

São questões que agora me atormentam... tudo isso são apenas dúvidas. Mas mesmo sem resolver nada de concreto, de manter os problemas sem uma resolução a príncipio, tenho exercitado a prática do falar não... tem doído bastante, é difícil não querer ser boazinha o tempo todo. Porém, para mim, tornou-se um dos exercícios mais fundamentais de liberdade...

Falar não e ficar bem, tranquila com sua própria consciência, é muito mais difícil do que falar sim, mesmo sem uma vontade verdadeira. A primeira atitude é mais honesta, mas também mais dolorida. A segunda, mesmo exigindo sacrifício e desprendimento é mais prática. Mas são enormes as chances de que, num momento de fúria, o sim vire um regozijo de puro ódio e amargura, capaz de criar frases como: Seu ingrato,eu que fiz tanto por você!

Diante disso, penso então que para mim, antes egoísta do que bancária, acumuladora de favores a serem descontados.

Afinal, das formas como podemos atuar no mundo, resta a pergunta: Fazes realmente pelo outro, ou apenas por si, por sua própria vaidade mediada e realizada no outro?

21.7.07

E nao e que morreu...

Ontem, depois de um dia um pouco infernal, tive uma noite em Piedade sem bebida, regada a coca-cola e pouco assunto. Com uma dor de cabeca que nao da para saber de onde vem (eu que nunca tenho nada, so dor de cabeca de ressaca e olhe la). Percebi que a bebida me encanta e ludibria os olhos (ava!). Ta, eu sei que essa e a ideia quando se bebe. Mas me incomodou perceber que em determinados espacos, so me divirto com ela, nao com as pessoas. E a cerveja que me deixa feliz, nao o mundo. Voltei para casa cedo. Triste. Querendo algo mais do que encher a cara e beijar alguem no fim da noite. Voltei careta que so vendo...

Alias, voltei achando que quero que meu lado ebrio seja despertado por outros sentidos. Pelo toque. Pela convivencia e encantamento. Por conversas que terminam na cama. Pelo amor por esse mundo torto.

E Olhe que minha alegria e bem besta.

Hoje por exemplo, so de saber que o ACM morreu, me deu um surto incrivel de esperanca e bem estar. Um Vamo ai!

Eu estava e acordei ainda com dor e um pouco triste. Mas no dia em que se comemora a morte de um escroto master plus hara-hara, tem de se reviver a esperanca. E agora, que morra tambem o Carlismo maldito!

Mesmo com a melancolia de quem sonhou o que queria acordada. Vou tomar meu cafe e ver o sol.

O dia, a certeza de que os filhas da puta tambem sao mortais, e eu, merecemos.



Diretamente de um sabadao com um computador sem acentuacao

19.7.07

Podia né...

Dias lindos e azuis. Uma das melhores companhias que conheço. Cachaça e carne de porco. Finos cheirosos que satisfazem. A vida podia ser assim...

Conversando com um alguém que mexeu com meu coração, ele diz que a vida podia ser uma casinha alugada em Minas Gerais, com uma horta e uns pezinhos de maconha. Só de construir a imagem na minha cabeça, meus olhos marejaram. Eu disse que era uma linda utopia. Ele me diz que não é utopia. Eu digo que é, porque quero para todo mundo.

A vida podia mesmo ser assim. Tranquila. Com pessoas se respeitando e se tratando bem. Sem dizer não quando querem dizer sim. Nem dizendo sim quando querem dizer não. Nem magoando ninguém.

Voltando, tudo volta a simplesmente ser. De coração apertado por ter negado algo a alguém, mesmo sabendo não se tratar de sacanagem. Lembrei que tenho dificuldade em colocar minha vontade acima da dos outros, mesmo que seja justo. Lembrei que tenho que treinar isso para sobreviver aqui. Lembrei que a cidade é dura e com salário no fim do mês.

E ninguém me esperava....

E sinto saudades do alguém para quem não contei que, na minha imagem, na que eu construi, na casinha alugada em Minas Gerais, enquanto eu fazia um cigarrinho colhido do pé, era ele quem regava a horta....

12.7.07

"A estrada ao inferno é pavimentada com boas intenções."

4.7.07

“Não há bem que sempre dure, nem há mal que não se acabe”

Talvez o grande consolo - e também por vezes, a grande tristeza - é saber que as coisas passam. Ou ainda, ter a plena sensação de que tudo, no fim das contas, não passa de uma versão criada a partir da forma em que estamos inseridos na situação, da nossa realidade particular. Como quando estamos tomadas por uma fúria que não se explica, uma raiva cega que só permite que o todo seja avaliado a partir de uma violência tão forte, que chutar o balde parece uma solução inevitável, a única possível. Mas a fúria passa. A cabeça acalma, e a versão pode já não ser a mesma. Me conto a história de outra forma. Penso em outras possibilidades. Já não estou tão certa de que aquilo exigia tamanha reação. Cai a diabinha ensandecida, e, como um fim de TPM, meu mar se acalma, já dá para novamente prestar atenção no horizonte. Esses picos de raiva, me deixam a sensação de que determinadas explosões me encurtam a visão. Sabe aquela famosa do Manuel Bandeira?

“ Que importa a paisagem, a Glória, a baía, a linha do horizonte?
- O que eu vejo é o beco.”

Mas quando clareia, e se volta a enxergar além do beco, cumpre-se o ciclo da esperança. Depois de uma fase ruim, sempre vem uma boa, assim como depois de uma boa, sempre vem uma ruim. Ando gostando de pensar a vida em ciclos. E ainda, nós mulheres somos biologicamente organizadas de forma cíclica, nunca estamos da mesma forma durante todo o mês.

Mas e se um dia a fase ruim for tão grande, a ponto de não passar? Não se superar, de forma a parecer que o ciclo se quebrou e que agora, a vida é linear, rumo ao pior. Ela tem direção em linha reta. Em determinado momento, o beco será definitivo. Não haverá mais saída, não existe para onde correr. Acabou.

Nisso, me pega especular sobre como decidir viver é uma decisão filosófica. Se decidir pelo sim é constatar que existe algo que faz sentido em meio a todo o resto que não faz, enxergar algum encanto, ser atraído por coisas que fazem todas as outras valerem. E com isso, ter a certeza de que, daqui a pouco, tudo vai ficar mais calmo, e que suspirarei aliviada pensando que agora aquilo não é mais o meu presente, agora é uma experiência como tantas outras. Ou seja, o tempo se realiza. Não existe eternidade em nada. Assim sempre se pode ser diferente. Por pior que seja, não se trata do cenário do inferno em que passaremos a eternidade, mas de apenas um momento. É bem verdade que condicionará os próximos, mas ele, em si, é único.

E numa manhã fria, meio gripada e meio sozinha, salve o tempo. Já que só ele possui a proeza de transformar o amargo em aprendizagem, e o doce em substrato da existência, e de dar esperança para o daqui a pouco.

2.7.07

Para o tempo. Para a vida em ciclos que consola com a certeza de que tudo passa. Para a esperança de que tudo é construído e, portanto, pode mudar. Para a vida que se manisfesta em mim e que por vezes me assusta. Para aquela que sou e para aquela que ainda serei....

Não sei quantas almas tenho

Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,

Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.

Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que sogue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo : "Fui eu ?"
Deus sabe, porque o escreveu.

Fernando Pessoa