22.2.08

Vida no centrão...

Sai da província e acelerei o tempo da vida. Nós caipiras somos como crianças em alguns espaços, ainda nós impressionamos com as coisas, não temos aquele ar blasé metropolitanto zona oeste, de quem já viu tudo, ou quer parecer que já viu.
Agora mesmo, só de sentar em uma lan house e resolver minha vidinha medíocre, a moça do lado me fez ouvir a conversa dela com o namorado. Primeiro resisti, tentei pensar em outra coisa. Depois ficou bonitinho, me envolveu e não pude mais ignorá-la. A moça deve se chamar Antonio no registro oficial. Mas de que importa isso no espaço do anonimato e dos nomes não oficiais?
A moça me entreteu enquanto eu resolvia meus probleminhas bestas com o sistema Fênix. A moça trocou hoje os euros e está indo ser mais um traveco brasileiro na Europa. E sabe extamente onde está se metendo.
A moça então deu uma trepadinha por telefone. E disse que ele era especial, que dessa vez estava gostando de verdade dele, que queria ser fiel e tudo. Depois disse eu te amo, mandou milhões de beijos beijando um celular, declarou a saudade e avisou que estava chegando.

Me emocionei um pouco. E depois lembrei que provavelemente nunca mais veria aquela rosto na vida. Não saberia o que seria daquelas pessoas, daquele amor.

E sabendo detalhes bem íntimos daqueles desconhecidos, simplesmente levantei, falei boa tarde e sai.

11.2.08

Resta rir

Acho que muitos dos seis fiéis leitores desse blog já conhecem esse texto. Tenho lembrado muito dele...
De qualquer forma, é divertido reler. Então tá aí:


Bar ruim é lindo, bicho


Eu sou meio intelectual, meio de esquerda, por isso freqüento bares meio ruins. Não sei se você sabe, mas nós, meio intelectuais, meio de esquerda, nos julgamos a vanguarda do proletariado, há mais de 150 anos. (Deve ter alguma coisa de errado com uma vanguarda de mais de 150 anos, mas tudo bem). No bar ruim que ando freqüentando nas últimas semanas o proletariado é o Betão, garçom, que cumprimento com um tapinha nas costas acreditando resolver aí 500 anos de história. Nós, meio intelectuais, meio de esquerda, adoramos ficar “amigos” do garçom, com quem falamos sobre futebol enquanto nossos amigos não chegam para falarmos de literatura. “Ô Betão, traz mais uma pra gente”, eu digo, com os cotovelos apoiados na mesa bamba de lata, e me sinto parte do Brasil. Nós, meio intelectuais, meio de esquerda, adoramos fazer parte do Brasil, por isso vamos a bares ruins,que tem mais a cara do Brasil que os bares bons, onde se serve petit gateau e não tem frango à passarinho ou carne de sol com macaxeira que são os pratos tradicionais de nossa cozinha. Se bem que nós, meio intelectuais, quando convidamos uma moça para sair pela primeira vez, atacamos mais de petit gateau do que de frango à passarinho, porque a gente gosta do Brasil e tal, mas na hora do vamos ver uma europazinha bem que ajuda. A gente gosta do Brasil, mas muito bem diagramado. Não é qualquer Brasil. Assim como não é qualquer bar ruim. Tem que ser um bar ruim autêntico, um boteco, com mesa de lata, copo americano e, se tiver porção de carne de sol, a gente bate uma punheta ali mesmo.

Quando um de nós, meio intelectuais, meio de esquerda, descobre um novo bar ruim que nenhum outro meio intelectual, meio de esquerda freqüenta, não nos contemos: ligamos pra turma inteira de meio intelectuais, meio de esquerda e decretamos que aquele lá é o nosso novo bar ruim. Porque a gente acha que o bar ruim é autêntico e o bar bom não é, como eu já disse. O problema é que aos poucos o bar ruim vai se tornando cult, vai sendo freqüentado por vários meio intelectuais, meio de esquerda e universitárias mais ou menos gostosas. Até que uma hora sai na Vejinha como ponto freqüentado por artistas, cineastas e universitários e nesse ponto a gente já se sente incomodado e quando chega no bar ruim e tá cheio de gente que não é nem meio intelectual, nem meio de esquerda e foi lá para ver se tem mesmo artistas, cineastas e universitários, a gente diz: eu gostava disso aqui antes, quando só vinha a minha turma de meio intelectuais, meio de esquerda, as universitárias mais ou menos gostosas e uns velhos bêbados que jogavam dominó. Porque nós, meio intelectuais, meio de esquerda, adoramos dizer que freqüentávamos o bar antes de ele ficar famoso, íamos a tal praia antes de ela encher de gente, ouvíamos a banda antes de tocar na MTV. Nós gostamos dos pobres que estavam na praia antes, uns pobres que sabem subir em coqueiro e usam sandália de couro, isso a gente acha lindo, mas a gente detesta os pobres que chegam depois, de Chevete e chinelo Rider. Esse pobre não, a gente gosta do pobre autêntico, do Brasil autêntico. E a gente abomina a Vejinha, abomina mesmo, acima de tudo.

Os donos dos bares ruins que a gente freqüenta se dividem em dois tipos: os que entendem a gente e os que não entendem. Os que entendem percebem qual é a nossa, mantém o bar autenticamente ruim, chamam uns primos do cunhado para tocar samba de roda toda sexta-feira, introduzem bolinho de bacalhau no cardápio e aumentam em 50% o preço de tudo. Eles sacam que nós, meio intelectuais, meio de esquerda, somos meio bem de vida e nos dispomos a pagar caro por aquilo que tem cara de barato. Os donos que não entendem qual é a nossa, diante da invasão, trocam as mesas de lata por umas de fórmica imitando mármore, azulejam a parede e põem um som estéreo tocando reggae. Aí eles se fodem, porque a gente odeia isso, a gente gosta, como já disse algumas vezes, é daquela coisa autêntica, tão brasileira, tão raiz.

Não pense que é fácil ser meio intelectual, meio de esquerda, no Brasil! Ainda mais porque a cada dia está mais difícil encontrar bares ruins do jeito que agente gosta, os pobres estão todos de chinelo Rider e a Vejinha sempre alerta, pronta para encher nossos bares ruins de gente jovem e bonita e a difundir o petit gateau pelos quatro cantos do globo. Para desespero dos meio intelectuais, meio de esquerda, como eu que, por questões ideológicas, preferem frango a passarinho e carne de sol com macaxeira (que é a mesma coisa que mandioca mas é como se diz lá no nordeste e nós, meio intelectuais, meio de esquerda, achamos que o nordeste é muito mais autêntico que o sudeste e preferimos esse termo, macaxeira, que é mais assim Câmara Cascudo, saca?).

-- Ô Betão, vê um cachaça aqui pra mim. De Salinas quais que tem?


8.2.08

E a vida andando...


Claro que tudo sempre está em constante mudança. Sempre o movimento que dá o contorno do momento vivido. Mas em alguns momentos, tenho a impressão de as mudanças são mais bruscas. Outra fase. Um momento muito diferente ao anterior.


O que me deu certa sensação de continuidade por um tempo, foi o ser adulta. Mesmo sendo uma adulta meio com um pé na adolescência prolongada pela universidade.

Mas agora, tenho a impressão de estar começando a ver coisas novas velhas. Coisas que eu me lembro da infância. Coisas que aconteceram com meus pais. E Eles me pareciam tão aburdamente adultos, tão gente grande.


E não me parece que essas mudanças são externas, alheias a mim, que apenas circundam meu mundo, mas não entram nele. Eu também mudei bastante. Comecei a gostar mais de umas coisas do que de outras. De algumas desgostei, mas de outras, apenas gosto menos, mais de vez em quando. Uma peneira construída por um pouco mais de experiência, de construção de critérios. Testar a tolerância de forma a repensar sempre.

Se pensando no mundo. E de preferência, nesse mundo.

6.2.08

Depois da forfé....


Citando o moço sem graça colunista da folha, mas que de vez em quando dá uma dentro:

"Começou o intervalo insuportável entre o carnaval e o ano novo."