4.10.08

Quando o invariável se torna variável

"Os homens gostam das mulheres independentes. E também das que não são."
Maria Alice (Leila Diniz) - Todas as mulheres do mundo.

Não dá para negar que o casamento é um tema que perpassa constantemente a vida. Invariavelmente a conversa vem à tona. Invariavelmente alguém lembra e pergunta de alguém e invariavelmente alguém responde: casou. Tudo bem, se ficasse por aí. Mas até quando não é assunto, é assunto. Basta ligar a televisão é e sempre a mesma imagem cristalizada do que pode ser a vida de uma mulher. Invariavelmente elas estão na função de casar ou manter o casamento. Todas. Do jornalismo tosco da Alerta Geral na Record, passando por novelas, filmes e blá, blá... Os homens fazem peripécias, cantam, dançam, sapateiam e casam também. É só mais uma atividade, e não destino da vida.
Tudo bem, a boa e velha discussão de nossa amiga Simoninha Bevoir, a imanência para as mulheres e a transcendência do mundo para os homens.
Mas e hoje? A totalidade da imagem recriada e conservada pela senso comum do que é o caminho normal da vida, dá conta de explicar alguma coisa?

Provavelmente nunca se tenha conseguido recriar a realidade, nem pelo senso comum, nem pela ciência, porque isso é uma pretensão tão ingênua quanto impossível (os historiadores, que não primam ela modéstia, costumam ter essa ambição, mas tal desperdício de energia é outro problema). Mas também há de se pensar que o mundo mudou de uma forma mais radical, e as brechas são maiores. O senso comum, cada vez mais, dá menos conta de explicar o comportamento das pessoas. Reducionismos e argumentos ruins que procedem da idéia de que fodam-se essas novas realidades, de que não faz a menor diferença porque continuam a ser ricos e pobres, é preguiça de pensar e mantém a lógica binária do pensamento conservador de direita e de esquerda.
Bom, de um jeito rápido, lembrando que isso é um blog, fico pensando o quanto o capitalismo afasta as pessoas de deus, mais do catolicismo talvez. Tudo bem, tese manjada. Mas a classe média é o limbo de tudo. Todas as referências se perdem. Os muito fudidos se apegam ao Deus prático pela urgência da vida. Os ricos se apegam pela garantia de sua salvação e só, portanto se dão bem em qualquer discurso.
E a classe média? Ela é metida a instruída, ela rebola demais para se manter classe média, não dá tempo de perder tempo com essas bobaginhas místicas ... Quando muito lêem uns livros espíritas (mais racionalistas, se afastam do fanatismo bestial dos pobres). E como agora tem um mundo de gente (principalmente jovens do setor de serviços) comprando na Renner e nas Casas Bahia, muito mais gente anda estufando o peito e se sentindo classe média.
Bom, mas qual é a parte legal disso?
Afrouxa a moral.É uma puta mão na roda para as muitas mulheres que estão tentando, de algum jeito, tentar uma trajetória de vida diferente e menos medíocre do que a mera resignação ao que lhe foi historicamente imposto.Filhas do iluminismo. Poucas herdeiras e de certa forma, as únicas que se beneficiaram de algum jeito pelo desenvolvimento do capitalismo. Todos os sistemas exploraram homens e mulheres pobres. Mas só o liberalismo permitiu que mulheres e homens fossem explorados da mesma forma, podendo ter acesso a uma parte dos mesmos benefícios. Deus é uma nota de cem para homens e de cinqüenta para as mulheres.
Sujeita do capital, essas mulheres reconfiguraram a instituição do matrimônio.Para os homens, tanto faz.Ou melhor, piorou muito porque na verdade, são eles que não conseguem ficar sozinhos. E como existe mulher divorciada (desquitada era a melhor he he) nesse mundo... Algumas que abandonaram seus lares para serem felizes. Outras que ficaram para trás quando o outro alguém resolveu ser mais feliz. Mas de qualquer forma, emancipadas de uma relação merda e na balada... Talvez loucas para casar de novo, mas de qualquer forma tentando outra coisa.
E a pressão em cima das solteiras? Não é fácil não... O termo solteirona é o mais antigo e o mais escroto do mundo.
Não é um otimismo besta, sei que a base de tudo é mesma. As mulheres emancipadas estão em grande parte loucas para casar de qualquer jeito, a qualquer custo para não ficarem para tia. Mas ainda assim, acredito cada vez mais na mudança. O tempo acelerou e podemos perceber as transformações de um jeito muito gritante. O instante é o tempo presente. E daqui desse tempo, tem muita mulher mais preocupada em encontrar o amor, do em ter um homem. Perderam o medo de serem tratadas como elas merecem.

2 comentários:

disse...

Ai, cassinha, às vezes vc me deixa confusa!
Depois vc me explica.
Bjos

? disse...

uhuu! delícia de texto!! vc é incrível, Cá!!
Te amo!