30.5.08

Conversa de buteco

Butecada boa é aquela em que você começa prometendo tomar só uma cervejinha... E de repente está fechando uma caixa...
E mais...
Perfeitas são aquelas nas quais, no auge da filosofia de mesa de bar, surgem las grandes sínteses teóricas sobre a humanidade. E no outro dia, apesar da dor de cabeça e do trabalho a se levar, traz no rosto dos participantes aquele sorriso de quem lembrou porque a convivência entre as pessoas é tão gostosa...

"Duas definições sobre a pós-modernidade:
Ctrl C + Ctrl V "

28.5.08

Deus ajuda quem cedo madruga?

De vez em quando, em determinadas fases, acabo dormindo pouco. Ao contrário do poeta, tenho muito sono a noite e pouco sono pela manhã.
Fiquei pensanso se estou ou se sou assim. Meio histérica pela manhã.

Em pleno domingo, depois de uma semana complicada e de uma tarde-noite de samba, cerveja e churrasco, seria o dia perfeito para dormir até o corpo doer. No entanto, antes das 6 da manhã, lá estava eu, tomando um café e vendo televisão debaixo do cobertor quentinho. Vi seriados bobos de solteiros malas. Depois passei para o tradicional "Pequenas empresas, grandes negócios". Foi aí que me lembrei que assisto esse programa, no domingo, nesse horário bizarro, desde que me conheço por gente.

Minha casa em Piedade é o elo perdido entreo camponês e o citadino. Em termos materiais, apesar de meu pai sempre ter trabalho com roça, ele era o patrão e minha mãe era funcionária pública, portanto estavamos bem distantes das condições de vida do mundo rural. Mas pensando nos costumes, meus avós foram os responsáveis por perpetuar os hábitos mais caipiras do mundo. Cultura do arroz-feijão-ovo e leitoa criado e plantado por eles mesmos.
De acordar cedo, porque a vida é assim, se trabalha do nascer até o cair do sol.

Em casa ninguém trabalhava nesse tanto, mas todo mundo sempre acordou muito cedo. Meu pai levantava para ir buscar os "camaradas" e ir para a roça. E logo cedo, lá estava minha vó fazendo café e pegando o pão que meu pai trazia para a rapaziada. Me dava um dó. Poxa, era domingo, tava frio... E o pessoal lá, na varanda de casa, vestindo um monte de trapo, um sobre o outro. As moças de saia e calça. Os moços com o boné de algum candidato ou comércio local. E eu encolhida com o meu vô, não entendendo porque eles tinham que sair de casa tão cedo... Poxa, bem na hora do Globo Rural?

Então minha vó fazia para nós dois, virado de farinha de milho com ovo. Chá preto para o meu avô e café para mim porque sempre adorei café, desde pequena. Meu vô me dizia que eu era pretinha por isso. Porque tomava muito café.
Daí a gente ficava lá na sala. Assistindo o Globo Rural, que era o mais legal. Depois um pedaço da missa diretamente da Aparecida do Norte, e depois vinha a Inesita. Saudades do vô, e ele já morreu faz tanto tempo... Tenho a impressão de eu seria uma pessoa diferente, talvez melhor se ele tivesse ficado vivo mais um pouco. Quando ele morreu eu tinha 7 anos de idade e parece que depois disso, tudo desandou e virou o mar de confusão que é até hoje. Pelo menos é assim que me lembro das coisas... Eu era uma até aí, e virei outra depois disso.

Engraçado o fato de que esses programas ainda existem e me trazem uma manhã nostálgica, horas para se pensar na própria história.

Após uma reportagem sobre o cultiva das oliveiras, pensei que talvez minha memória estivesse criando imagens que não existiam. Como é possível o mesmo programa existir por tanto tempo? Será que eu não assistia tudo isso um pouco mais velha?

Então o apresentador leu uma carta de um espectador. Ele dizia que estava completando 26 anos de casado, e que ele e a esposa começaram a assistir o Globo Rural juntos, na lua de mel e, desde então, não perdiam um único domingo. São vinte e seis anos, ou seja, exatamente a minha idade, fazendo exatamente a mesma coisas, juntos.

No primeiro momento, me pareceu absurdo. Depois pensei em mim. Gosto desse programa pelo menos há 21 anos... Continuo adorando as reportagens sobre como combater pragas, melhorar a alimentação do gado, ou as máquinas malucas que vira e mexe algum tiozinho inventa para extrair alguma coisa do seu cultivo. Então por que não fui ser algo mais prático, ligado a todo esse universo?

Talvez porque no fundo, ficou mais forte o não entender por que eu podia ficar em casa comendo meu virado de ovo com café, enquanto todo aquele povo subia no carro e partia para o trabalho, como marmita e filhos a tira colo. Sem poder dormir em um domingo frio. Nem muito menos, assistir quentinho o Globo Rural.

Já bem grandinha, descobri que eles eram chamados de "camaradas" pelo meu pai, mas que na verdade, era na marmita que se podia entender de fato o que eles eram: Bóias-frias. Descobri que eu só podia ficar em casa com meu avô, porque o avô de alguém estava em cima daquele carro, no frio. Que a minha mãe ia para a missa, toda bonita, porque a mãe de alguém tinha largado o filho em casa para trabalhar, ou ia passar o dia xingando os moleques para que eles não atrapalhassem "o pessoal que estava arrancando cenoura".

E que na verdade, deus esqueceu há muito tempo de quem cedo madruga.

8.5.08

Quanto mais óbvio, mas revoltante.
Um tal de Bida fazendeiro condenado por matar uma freira o que em um país católico constitui um agravante considerável. Um intermediário, Tato, foi condenado junto com esse outro aí. Quando o primeiro recorre (ou seja, o dono do dnheiro), o segundo misteriosamente muda o depoimento e inocenta o primeiro.

E tem gente que é tão, mais tão esperta, que anda desconfiando, assim de leve, que no mundão aqui é assim, que com dinheiro se compra tudo, e essa é a óbvia graça de ser rico.

7.5.08

A gente não quer só comida...

Pois é, mais uma vez enfatizando a ranzinzisse da vida, aquelas que te fazem colocar tudo dentro do mesmo balaio de gato...

Faço isso com os artistas. É impressionante como tenho dificuldade em mandar para a casa do caralho pessoas que merecem (e muito) esse destino. Quando consigo chegar no limite de realmente dizer - Olha, isso tudo é uma merda e você também - é porque já estou naquele momento de raiva profunda. Mas, mesmo com a raiva, sou capaz de voltar atrás em 5 minutos. Não por que mudei de idéia, mas porque fiquei com muita pena, e não consigo me sentir bem com a desgraça alheia. Não me sinto melhor quando o outro está pior.

Mas com artistas costumo ser mais cruel. Não gosto de conviver, não tolero tomar cerveja como pessoas que precisam de duas cadeiras.

-Ah, dá licença, posso puxar essa cadeira? É porque meu ego gosta de sentar perto de mim.

Na verdade, toda implicância vem da sensação de que a maioria do que se intitula arte, é muito vazio. Não diz nada sobre o mundo, sobre ninguém. O artista, na maioria das vezes, cria e quer que se foda se você entendeu ou não. O importante é a estética pela estética, e não sua possível função de trasmitir idéias, sensações, novas formas de percepção do mundo.
É tudo só por boniteza. E se não entendemos, não sentimos nada e bocejamos durante o espetáculo ou coisa assim, é porque somos burros.

-Ai querida o espetáculo foi bárbaro, pena que o público é fraquinho... Sabe como é no Brasil né?Não dá para falar de arte em um país de ignorantes. E o governo não faz nada. Me revolta viu!

Esse tipo de artista, normalmente acha que para ser profundo, precisa ser difícil, imcompreensível, quase impossível. Sabe aquela história de que o Rei está nu? Pois é, tenho a impressão de que a maioria das pessoas sai desses "espaços" de arte, dizendo que a roupa do Rei era maravilhosa....
Ah, e tem que ter gente gostosa e pelada. E diga-se de passagem, isso é um clichê que não perturba mais nem o povo de Piedade, quanto mais, o público espaço Unibanco que frequenta esses espetáculos.
Esse tipo de gente babaca, que acha Gerald Thomas o M-Á-X-I-M-O, é a rapaziada que está muito mais preocupada em ser artista do que gente, do que cidadão. Que está cagando para o mundo e sonha com um convite da globo, nem que seja para fazer Malhação. Mais preocupado em resolver seu lado e ter um rosto e um corpinho bonito, do que com a tal "cultura" da qual se dizem representantes.

Enfim, posso escrever um tanto execrando os franceses que frequentam a região oeste e centro de São Paulo.

Mas bom mesmo foi pensar nisso justamente vendo um exemplo contrário. Pessoas que podem me ouvir falando isso de um artista e dizer: Você está falando merda, nós não somos assim!

Artistas mesmo. De espírito e não meramente da vontade de ser alguém nesse mundo que massacra as individualidades e transforma tudo e todos em massa. Um povo alegre. Não blasé. Que canta, dança, recita e celebra a vida, sem ser estúpido ou alienado.

Ser alegre não é medíocre. Medíocre é a vaidade que envolve o umbigo daqueles que acham que o problema é a falta de cultura, principalmente do público juruna, do "povo tatu".
E bonitos são aqueles que, ao invés de ficarem cagando na ignorância do povo, se dispõem a contribuir com o fim da miséria de sonhos e beleza que envolve a maioria da população.

A gente não quer só comida, mas também tá de saco cheio de estética e gente vazia, que consome um romance, uma música, como quem compra uma bolsa nova roxa de bolinhas verdes.

Assim, registro aqui uma letra de música ,devidamente copiado do blog ombudsmans de botequim (ombudsmansnoboteco.blogspot.com) . Engraçado quando algo incomoda, e naquele momento encontramos ecos pelo mundo.

Eu sou bom de cama, sei fazer café
E ninguém reclama do meu cafuné
Mas... artista é o caralho, é o caralho!

Eu sou bom de bola, jogo com calor
Canto na viola sempre com amor
Mas... artista é o caralho, é o caralho!

Canto no banheiro sem vacilação
Já ganhei dinheiro na televisão
Mas... artista é o caralho, é o caralho!

Gosto de cinema, gosto de dançar
De fazer poemas em papel de bar
Mas... artista é o caralho, é o caralho!

Já entrei na lista de uma tal mulher
Que é capoeirista e tem samba no pé
Mas... artista é o caralho, é o caralho!