19.10.09

Babilônia 1000 grau!

Na Babilônia o tempo é esse: você sai de casa disposta a ter um dia absolutamente corriqueiro, medíocre e normal e eis que um motoqueiro quase te atropela na calçada para levar sua bolsa. Vale dizer que na terrinha quando alguém é assaltado, e não meramente furtado, vira notícia do jornaleco local. Aqui, a rapazeada nem olhou para o lado. Por um momento eu estava longe de casa sem nada, a não ser o bilhete único que ficou no bolso. Poder voltar para casa já é um adianto.
Eu andava distraída. Tinha um moço na cabeça. Devia estar com um ar de lesa, olhando para o céu tentando enxergar alguma coisa para além do concreto e vupt... o motoqueiro malandrão leva tudo. Meu lenço, meu documento e a porra de um livro que tinha me dado um certo trabalho para achar. Minha carteira. Eu não tinha um centavo, um cigarro ou a cara de pau suficiente para serrar o Belmont do velhinho na porta do bar. Fodam-se os documentos.Quem precisa de documento quando se está em São Paulo? Documento não é nada. O importante é o dinheiro. Queria meus cartões de banco e não minha identidade!?!?
Sem cidadania e sem celular. Levaram e nem me deixaram negociar o chip. Previsão: passar alguns dias sem telefone meditando e buscando o caminho do desprendimento. Ninguém me ligará. Eu só posso ligar para os poucos números que minha pequena memória armazenou. Nenhuma surpresa. Nenhum dos recadinhos que vinham perturbando minha paz e meu coraçãozinho.A agenda que acumulou histórias se foi. Nenhum número com marcas de lágrimas.
Na carteira, excepcionalmente, tinha um dinheiro que uma parceira tinha me entregado um dia antes. Saldo final: Setenta e cinco reais a menos, alguns números de telefones que já deviam ter ido embora e agora forçosamente foram e uma deliciosa sensação de relembrar a tranqüilidade que o mundo pós celular tirou da humanidade.

Francamente foi de graça.

4 comentários:

Lia Kayano Morais disse...

no meu ímpeto egoísta eu queria que vc não ficasse desfrutando dessa tranquilidade por muito tempo e comprasse logo outro celular. Mas imagino que meu número de pizzaria você decorou, né? Ah, e gostei de saber que vc viu um saldo positivo nessa história. Catogoria Pollyana, nota DEZ! Beijos de amor.

Angelamô disse...

Poxa que saco, hein?
Nem pra deixar o chip?

Deu pra xingar de fidaputa pelo menos?

bj

strl disse...

Cath, vc é D+!!!
A esperança de todos os que adotaram essa merdalópole para viver!
Vc deixa no chinelo qualquer monge Zen com menos de cem anos de meditação!!!
Que bom saber que vc existe e que nós também temos uma chance de ser feliz nessa cidade.

Bjs

Anônimo disse...

Vamo atrás desses pipoca?!
Ainda que eu prefira seu estilo: "Não devo, não temo, me dá meu copo e já era..."
Mas, ó: Nóis tá aqui dentro, mas demorô, truta, liga nóis.

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