19.8.07

Só pensando...

É impressionante como somos "enformados" na universidade de um jeito que passamos a só considerar determinadas coisas e desprezar todo o resto. No auge da imaturidade e do deslumbre com o conhecimento, achamos que encontramos algum tipo de verdade lógica na vida. E dá-lhe vomitar Marx... ele e todos os materialistas históricos que nos sobra tempo para ler entre uma cerveja e outra que rega as acalouradas discussões em torno do tal do povo brasileiro, o agente histórico da revolução....

Primeira questão:

Quem é o tal do povo brasileiro?

É o operário? Não, esse ai, quando tem um registro em carteira e um plano de saúde treme na base... já tem o que perder, lembrando o fim do manifesto comunista...

É o camelô? Não, esse não tem consciência revolucionária. Pode eventualmente se organizar (uma falsa consciência, como diria Luckás), mas seus interesses são por demais individualizados...precisam ainda de muita auto-crítica revolucionária para abandonar esses vestígios de ideologia pequena burguesa.

O estudante?
Háhahahahahaha.... por favor, não me venha com churumelas.... a estudantada ainda tá gritando abaixo a repressão. Isso com um mandato de reintegração de posse da reitoria já expedido e não cumprido. Bater em moleque criado a leite A e sucrilhos é foda. Sem contar que ali todo o mundo é alternativo. Como o nome já diz, ele tem alternativa...se der errado eu volto para o chuveiro quente e para a canja que só minha mãe sabe fazer...

É a Angela, a moça que está ajudando na faxina lá em casa, já que estamos às vésperas de receber mais um pequerrucho nesse mundo doido? Não, acho que ela tá mais preocupada em trocar o celular por um que tira fotos, canta, dança e sapateia. E ainda te diz que você está bonita naqueles dias de carência...

Enfim, ando bem cansada dessas discussões chatas. Cansada de falar. Cansada de ouvir pessoas citando Marx, como os padres citam a Bíblia. Marx, capitulo 3, versículo 2... E disse Marx: Deixai vir a mim os operários porque deles é o Estado!

Enfim... para mim deu.

Ando gostando é de pensar as pessoas a partir de sua subjetividade, seus sonhos, tudo aquilo que a academia despreza porque supostamente não tem objetividade científica. E então me pergunto... Toda essa ladainha surreal, desses jogos partidários de merda, dessa molecada que acha que o materialismo histórico é o elo perdido entre a astrologia e a arte de jogar búzios...O que tem de efetivamente objetivo nisso tudo? Já tá tudo lá, o futuro, o presente e o passado... a gente só precisa aprender a ler nas entrelinhas... Marx e seus amiguinhos do século XIX já previram tudo... a gente é que é burro e não entendeu.

Não quero com isso dizer que nego radicalmente tudo isso. Nem de longe. O que não consigo conceber é como a gente não se liga que muita coisa mudou, que essas diretrizes revolucionárias não servem mais para explicar um tempo em que a velocidade de transformação é bizarra. As tais forças produtivas se desenvolveram de forma bizarra. A tecnologia configura o mundo à sua imagem e semelhança, de forma rápida e rasteira. Fenômenos acontecem e acabam em poucos anos....

A lógica do capital continua sendo sua reprodução. Agora como isso acontece, e o quanto essa lógica já está naturalizada é que é questão. O consumo (seja o de luxo, ou a cópia piorada que os pobres consomem) unificou a todos. As classes se separam, mas o nike fajuto do moleque da favela é esteticamente o mesmo que o original do moleque dos jardins. O catador de papelão que tá entre os carrões no meio da paulista, para todo o trânsito para atender um super celular. A novela diz o mesmo discurso para todos...

Enfim... amargurinhas acadêmicas à parte, o que estou tentando é ler o mundo com outros olhos que não sejam tão condicionados. Tentando ser menos ranzinza, enxergar a realidade a partir da poesia de cada ser humano, e não simplesmente classifica-los em categorias.
Afinal, acho que quem quer humanizar o mundo, tem que começar humanizando o cara que está do seu lado no busão....

2 comentários:

Lia Kayano Morais disse...

só pra vc não dizer que eu nunca deixo um comentário, rsrs. Mas dizer o que, poxa, vc diz TUDO, sua sem graça!

Anônimo disse...

uhuuuuuuuuuu,

que maravilha!

escutar isso de uma historiadora em pleno mestrado!!!
tenho sentido isso a um tempão :(
me incomoda tais citações...
me incomoda as frases feitas e bem colocadas...
me incomoda a falta de sensibilidade... de entender que as respostas vêm no "viver a vida" absolutamente!

compartilho as tuas idéias por serem parecidas com as minhas :)
isso porque eu ainda nem entrei nesse mundo acadêmico, hehe

beijos