28.8.07

Essa eu ouvi hoje dos meus queridos lá do Henfil... em tom de galhofa, claro...

- É, aqui no Henfil, quando a gente conhece os professores de humanas, você pensa: Olha, que legal, professores jovens e que não são chatos.

Aí um dia, você sai mandar um com as figuras e pensa: Nossa, que legal, fumar um com o (a) professor (a)doidona ... que dá hora!

Daí na segunda vez você fala: Nossa, que legal, essa galera é doidona mesmo.

Daí na terceira você já fica só no "legal"....

Depois de um tempo você já dá uma intimada: Que palhaçada é essa? Quando se vai apresentar um, hein?

Hehehe...fiquei imaginando eles na porta do cursinho...

- E ai, vamo aí?
-Vamo... mas vamo na míuda porque senão o professor cola, ele é cabeçudo, daí é foda, já estamos em cinco cabeças e tal...

23.8.07

E lá vamos nós....


"Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias,
a que se deu o nome de ano,
foi um indivíduo genial.


Industrializou a esperança,
fazendo-a funcionar no limite da exaustão.

Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar
e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação
e tudo começa outra vez, com outro número
e outra vontade de acreditar
que daqui para diante,
vai ser diferente. "


Carlos Drummond de Andrade

Eita porra !!!



Uma verdade dita

Uma verdade ouvida

O coração de novo doído

a pontada que parece mesmo uma faca

a rê bordosa

O alívio....

Doer, dói

mas que liberta, liberta!

21.8.07

O povo quer saber...

Muito bem... esses dias atrás, alguém, numa mesa de bar, com aquele ar de "eu tenho informações quentes", e em meio as notícias chavistas de que o camarada está para aprovar a reeleição eterna, me solta a pérola:

-Tem gente lá em Brasília articulando o terceiro mandato do Lula...


Até sonhei com isso...fiquei pensando o que poderia acontecer. No outro dia, me aparece aquele horror que foi a tal da passeata dondocas-fazendo-beicinho auto proclamada "Cansei".

Talvez seja por aí...
Talvez seja pior...

E ai, amigos queridos... vocês, os seis fiéis leitores desse blog poderiam me ajudar a fazer uma previsão política à la João Bidu....

O que vocês acham que vai acontecer nesse país se o camarada Lula ousar tentar tal façanha anti-democrática (tudo bem, pode parar de rir agora...)?
Será o tal do centralismo democrático? hehehe

19.8.07

Só pensando...

É impressionante como somos "enformados" na universidade de um jeito que passamos a só considerar determinadas coisas e desprezar todo o resto. No auge da imaturidade e do deslumbre com o conhecimento, achamos que encontramos algum tipo de verdade lógica na vida. E dá-lhe vomitar Marx... ele e todos os materialistas históricos que nos sobra tempo para ler entre uma cerveja e outra que rega as acalouradas discussões em torno do tal do povo brasileiro, o agente histórico da revolução....

Primeira questão:

Quem é o tal do povo brasileiro?

É o operário? Não, esse ai, quando tem um registro em carteira e um plano de saúde treme na base... já tem o que perder, lembrando o fim do manifesto comunista...

É o camelô? Não, esse não tem consciência revolucionária. Pode eventualmente se organizar (uma falsa consciência, como diria Luckás), mas seus interesses são por demais individualizados...precisam ainda de muita auto-crítica revolucionária para abandonar esses vestígios de ideologia pequena burguesa.

O estudante?
Háhahahahahaha.... por favor, não me venha com churumelas.... a estudantada ainda tá gritando abaixo a repressão. Isso com um mandato de reintegração de posse da reitoria já expedido e não cumprido. Bater em moleque criado a leite A e sucrilhos é foda. Sem contar que ali todo o mundo é alternativo. Como o nome já diz, ele tem alternativa...se der errado eu volto para o chuveiro quente e para a canja que só minha mãe sabe fazer...

É a Angela, a moça que está ajudando na faxina lá em casa, já que estamos às vésperas de receber mais um pequerrucho nesse mundo doido? Não, acho que ela tá mais preocupada em trocar o celular por um que tira fotos, canta, dança e sapateia. E ainda te diz que você está bonita naqueles dias de carência...

Enfim, ando bem cansada dessas discussões chatas. Cansada de falar. Cansada de ouvir pessoas citando Marx, como os padres citam a Bíblia. Marx, capitulo 3, versículo 2... E disse Marx: Deixai vir a mim os operários porque deles é o Estado!

Enfim... para mim deu.

Ando gostando é de pensar as pessoas a partir de sua subjetividade, seus sonhos, tudo aquilo que a academia despreza porque supostamente não tem objetividade científica. E então me pergunto... Toda essa ladainha surreal, desses jogos partidários de merda, dessa molecada que acha que o materialismo histórico é o elo perdido entre a astrologia e a arte de jogar búzios...O que tem de efetivamente objetivo nisso tudo? Já tá tudo lá, o futuro, o presente e o passado... a gente só precisa aprender a ler nas entrelinhas... Marx e seus amiguinhos do século XIX já previram tudo... a gente é que é burro e não entendeu.

Não quero com isso dizer que nego radicalmente tudo isso. Nem de longe. O que não consigo conceber é como a gente não se liga que muita coisa mudou, que essas diretrizes revolucionárias não servem mais para explicar um tempo em que a velocidade de transformação é bizarra. As tais forças produtivas se desenvolveram de forma bizarra. A tecnologia configura o mundo à sua imagem e semelhança, de forma rápida e rasteira. Fenômenos acontecem e acabam em poucos anos....

A lógica do capital continua sendo sua reprodução. Agora como isso acontece, e o quanto essa lógica já está naturalizada é que é questão. O consumo (seja o de luxo, ou a cópia piorada que os pobres consomem) unificou a todos. As classes se separam, mas o nike fajuto do moleque da favela é esteticamente o mesmo que o original do moleque dos jardins. O catador de papelão que tá entre os carrões no meio da paulista, para todo o trânsito para atender um super celular. A novela diz o mesmo discurso para todos...

Enfim... amargurinhas acadêmicas à parte, o que estou tentando é ler o mundo com outros olhos que não sejam tão condicionados. Tentando ser menos ranzinza, enxergar a realidade a partir da poesia de cada ser humano, e não simplesmente classifica-los em categorias.
Afinal, acho que quem quer humanizar o mundo, tem que começar humanizando o cara que está do seu lado no busão....

14.8.07

E dizem que isso é a comunicação

As novas formas que surgem dia a dia para a manutenção do moedor de carne movido a consumo, cada dia mais eficientes e precisas, ainda conseguem me assustar. Não pela sua maneira de ser em si. A doideira já é tanta que elas somente se somam.. Quem pensava que existiriam muitas pessoas que passariam boa parte de sua vida presente com um telefone, daqueles que até pouco tempo atrás eram exclusividade da Madona? E pior, atendendo outras muitas pessoas que estão pouco a pouco aprendendo a também fazer tudo pelo telefone e pelo computador, de forma que o contato humano, se houver algum, seja necessariamente mediado por uma máquina. Uhuulll.... chegou galera, é o futuro...
Bom, além de colaborar para a consolidação de uma classe média gorda, enclausurada no seu apezinho financiado pela caixa e escrota, o fabuloso mundo do telemarketing, emprega mocinhas e mocinhos sem experiência no mercado, afinal operar uma daquelas máquinas e decorar sete falas exige uma super qualificação. Daí a função social da empresa que gentilmente oferece uma primeira oportunidade e a chance de que esses jovens aprendam uma profissão, como se fosse um estágio. Isso justifica que sua remuneração seja em torno de 400,00 para uma jornada de seis horas diárias, seis dias por semana. É quase um investimento no futuro.
Agora pense só o universo que se cria entre todas essas pessoas que se encontram todo dia e se sentam lado a lado para persuasivamente dizer:
-A senhora acabou de ganhar um cartão de crédito adicional para qualquer pessoa de sua família!!!
- Eu não tenho família. Inclusive vou cancelar o cartão porque ele só era usado para comprar remédios para o meu pai que faleceu esta manhã.
- Muito bem, nesse caso a senhora pode dar de presente para um amigo.
-Eu não tenho amigos.
-Namorado!
- Então me arranja um namorado.

E desata a chorar dizendo que vai se matar. Imagine a cara da mocinha do outro lado lembrando que no curso haviam lhe dito para ser insistente, que a maioria das vendas antes de se realizarem, haviam passado por negativas do cliente. Mas ninguém tinha lhe ensinado a lidar com suicidas....

Ou então pense um sábado de manhã. Sem ressaca, mas devidamente compensada por uma gripe. Não tenho telefone fixo na minha casa, mas não estava lá. Por ocasião da vida, esses dias atrás me lembrei de umas das coisas que eu mais detesto em telefone fixo: aquelas pessoas chatas que ligam e desligam na sua cara sabe deus por que... Para celular é caro, agora no fixo não pega nada ficar te atormentando.... e dá para ligar de orelhão, já que o intuito não é comunicar, mas sim te fazer espumar...
Bom, eu, não na minha casa, ainda meio dormindo e com o telefone tocando. Atendo. Escuta meio segundo a voz e desliga na minha cara. Faz isso por mais 5 vezes seguidas.
Eu já espumando, toca de novo. Atendo de novo, mas dessa vez quero sangue....
- Escuta, vai se foder, para de ligar aqui. Se você quer falar com alguém fala logo ou então...
- Bom dia senhora, aqui é Luciana da Net Virtua...
-Ai, desculpa moça, é que estavam ligando aqui e...
-A senhora entrou em contato com nosso serviço de atendimento e...
-Eu? Eu não.... mas eu não moro aqui também... peraí vou passar o telefone.
-Net Virtua agradece senhora.

Nossa, ela nem alterou o tom de voz com a confusão que eu fiz. Fiquei pensando com quantas malucas como eu, que atendem o telefone daquela forma, esses trabalhadores se deparam por dia. Eles se relacionam com máquinas e como máquinas se portam. Não sabem o contexto do que está acontecendo do outro lado da linha, mas nem se surpreendem. Nem quando recebem um foda-se já de cara.
E aposto que eu não fui nem comentada no horário de lanche, porque alguma outra moça deve ter recebido uma ligação de um passa mal que queria aumentar os canais pornôs de sua assinatura, e parecia se masturbar enquanto falava, perguntando como eram os programas que ele estava comprando e....
Parece bizarro?
Bizarro é o mundo. Isso aí é só uma suposta ilustração.

8.8.07

A mente quieta, a espinha ereta e o coração tranquilo

Sequindo os conselhos da companheira Raquel...
Quando a vida gira mais rápido do que nossa cabeça acompanha, o melhor é parar, respirar, tomar uma cerveja, e tentar ver claramente tudo o que está acontecendo.
Perguntar algumas vezes para nós mesmas:

-Mas que porra é essa agora?

Depois de constatado que é apenas sua vida, tentar não dar tanta importância assim...
Depois repetir algumas vezes o mantra:

- Ainda vou rir disso, ainda vou rir disso, ainda vou rir disso....

E ainda, se for o caso, consulte uma seleção musical apropriada para ajudar a pensar...

Vai lá Tom Zé...só sua confusão me redime.


HAPPY END

(TOM ZÉ - ANTONIO PÁDUA)

Você fala que sim,
que me compreende;
você fala que não,
que não me entrega
que não me vende
que não me deixa
que não me larga.

Mas você deixa tudo
deixou
você deixa mágoa
deixou
você deixa frio
deixou
e me deixa na rua
deixou.

Você jura, jura,
jurou,
você me despreza
prezou,
você vira a esquina
esquinou
e me deixa à toa
tô, tô, to.

Você passa mal
toma Sonrisal
se engana, mas vai em frente
pra mim não tem jeito
não tem beijo final
e não vai ter happy end
e não vai ter happy end
e não vai ter happy.

1.8.07

E se ?

Quando eu era criança, lembro que minha mais frequente viagem era me pensar sendo outra pessoa... qualquer outra. Pirava muito com isso. E se eu fosse ela, como eu pensaria, como eu veria o mundo, se seria mais feliz tendo outra vida que não a minha. Como seria ser aquela menina bonita, que o pai era um funcionário da CESP, chegava do trabalho e brincava com ela, morava em uma casa pequena, tinha vestidos bonitos que a mãe dela fazia? Ou ser uma prima que morava em um sítio e cuidava dos cavalos todo dia... Ou ser menino, isso sim parecia encantador, mais livre e com a quadra para eles na educação física. Nunca gostei de jogar vôlei na grama... Nunca gostei de vôlei na verdade...

Depois de grande, do alto dos 10 ou 11 anos, a piração virou outra. Gostava de inventar outra história para a minha vida. Já que eu nunca saberia o que é ser outra pessoa, sentir e viver como um outro, resolvi sentir diferente sendo eu mesma. Passava horas tentando pensar como eu poderia ser se minha história fosse outra. Quais seriam meus sonhos durante a madrugada. Meus medos. Minhas reações... Batia a cabeça tentando esquecer tudo e começar de novo. Outra história, outra vida.

Claro que nunca consegui. Nem se eu esquecesse do antes, do já passado, ainda existiria sempre o presente, o cotidiano, a vida a ser levada para lembrar. As amarras não se desfaziam, parecia que eu nunca ia me livrar de nada. As noites seriam sempre ruins, os pesadelos sempre os mesmos.

Então um dia eu me apaixonei por História. Comecei a achar fabuloso que as coisas tivessem acontecido de um jeito e agora acontecessem de outro. Lembro até da matéria manjada: Ditadura militar. Meu professor doidão contava da luta contra o governo, de como eles não se conformavam com a situação.E dizia que agora eramos uma democracia na qual o povo votava e tudo, mas que antigamente as pessoas viviam com medo de tudo, não pensavam que um dia ia ser diferente. E assim a história passou a me consolar.

Se eu não podia mudar como tudo tinha sido até então, decidi que iria mudar dali para frente.

Cresci e sai de Piedade. Como eu sempre quis. Achei que assim deixaria para trás coisas ruins, que eu não queria mais lembrar. Seria uma chance de tentar começar de novo. Outra vida, outras pessoas, ninguém me conhecia, eu não era a filha de fulano de tal. Eu não era ninguém! Pela primeira vez achei que tinha conseguido não ser ninguém.

Mais um engano.

Não podemos prescindir de nossa memória sem deixar de ser o que somos. Nossa história é a forma como o passado invade o nosso presente por meio da lembrança, e que nos constitui como ser. Ele nos formou. Nunca poderiamos tirar um pedaço de nossa vida, sem nos tornarmos outra pessoa.

Ou seja, por mais que eu fuja, os sonhos de noite ainda são os mesmos. Não dá pra fugir da gente. Nem passar a vida tentando ser o que não se é.

Talvez tentar ser melhor. Mas essa construção já tem uma base, uma fundação.

E essa não afunda, não some. Nem com um maremoto. Nem estando longe. Nem sabendo que agora, porque eu quis, a vida mudou. Mas lá no fundo, quem eu era me espreita, me observa, me lembra de tudo mesmo se eu não quiser lembrar. Ela não desapareceu, nem vai desaparecer.

Mas agora, eu já aprendi um pouco mais a lidar com ela.

E não acordo mais chorando...

Só de vez em quando.