17.12.07

Sobre a melancolia...

"Quando eu penso em escrever, logo me vem algo ligado ao plano da melancolia. Então, pensei por um momento se isso seria vitimização. Se o culto a melancolia seria apenas fonte de inspiração íntima, ou se a melancolia é mesmo algo que me constitui. Afinal, o que é a melancolia senão uma brecha dentro de nós preenchida por um nada que de tão significativo não sabemos o real sentido. Eu não sou melancólico, eu acho. Mas eu trago a melancolia em mim. Dentro de algum lugar, tenho uma brecha preenchida por uma lava branca e inexplicável e que, volta e meia, emerge e me transborda. Na verdade, acho que todos temos. Mas o exercício de investigá-la, na tentativa de entender sobre ela o que representa em nós, ainda que saibamos nunca ser possível atingir tão complexo nível de auto-conhecimeto, nos faz um pouco tristes e maduros. Permitir-se à melancolia é saber reconhecer que ela existe, nos constitui, e é inevitável. A maturidade é pouco isso. Saber dosar parcelas saudáveis de dor sem que elas possam nos tomar por completo o tempo todo. É a busca por saber medir o quanto cada coisa pode e deve nos render de efeito. Mas a maturidade, ainda assim, não pode nos fazer absortos na racionalidade, e esse será mais um limite a ser administrado. Isso está ligado ao lance de que a maturidade não pode nos embrutecer diante dos fenômenos que nos cercam, pois, afinal, poucas são as verdades universais. O amor, por exemplo, é algo que maturidade alguma poderá suprir por completo. Ela poderá até criar um mecanismo de preenchimento sintético para aquela brecha, que temos, destinada ao amor, mas a artificialidade não suprirá a complexidade orgânica. E a falta da prática amorosa nos fará completamente melancólicos, e, logo, pouco maduros. Tenho amores tão grandiosos em mim. E eles ora me fazem mais melancólico, ora me distraem dela." P. Salvetti in: palavra do olhar.

Querido,,, O tempo passa e continuo me lendo em você.