16.7.06

E depois faiz o quê?

Sentimentos misturados.... um pouquinho de medo de sentir algumas coisinhas. Conversando com um puta amigo no fim de semana, sabe aqueles que quando você fala determinados nomes e acontecimentos, sabe exatamente do que você está falando? Ele é ator...nos encontramos pouco então dificilmente a conversa não recai sobre o que estamos lendo, em que estamos pirando no momento e com quem andamos nos relacionando...ou não. Falávamos sobre o quanto, muitas vezes, somos profundamente conservadores quanto ao que esperar da vida e do amor. Ele me falava sobre um autor com o qual havia trabalhado em uma cena sua e que questionava justamente os modelos ideais, as idéias previamente elaboradas ou posteriormente explicadas do amor. Ficamos pensando como o amor acontece nas pequenas coisas..... naquelas que não explicamos, aquelas que o mito do amor romântico burguês sufocam e calam. Não existem tipos de gente pelos quais estamos passíveis a nos apaixonar. Essa loucurinha vem dos lugares mais estranhos travestidos nas mais diversas possibilidades.... Vem do nada, arrasa e toma tudo. Daí ser tão difícil de se situar depois, distinguir ou pensar nos porquês depois que sua visão já esta um tanto quanto ludibriada .... Inclusive, desconfio que nisso está toda a graça. Não explicar nada, só sentir tudo.

“Encontro pela vida milhões de corpos; desses milhões posso desejar centenas; mas dessas centenas, amo apenas um. O outro pelo qual estou apaixonado me designa a especialidade do meu desejo. Esta escolha, tão rigorosa que só retém o Único, estabelece, por assim dizer, a diferença entre a transferência analítica e a transferência amorosa; uma é universal, a outra é específica. Foram precisos muitos acasos, muitas coincidências surpreendentes (e talvez muitas procuras), para que eu encontre a Imagem que, entre mil, convém ao meu desejo. Eis o grande enigma do qual nunca terei a solução: por que desejo esse? Por que o desejo por tanto tempo, languidamente? É ele inteiro que desejo (uma silhueta, uma forma, uma aparência)? Ou apenas uma parte desse corpo? E, nesse caso, o que, nesse corpo amado, tem a tendência de fetiche em mim? Que porção, talvez incrivelmente pequena, que acidente? O corte de uma unha, um dente um pouquinho quebrado obliquamente, uma mecha, uma maneira de fumar afastando os dedos para falar? De todos esses relevos do corpo tenho vontade de dizer que são adoráveis. Adorável quer dizer: este é o meu desejo, tanto que único: “É isso! Exatamente isso (que amo)!” No entanto, quanto mais experimento a especialidade do meu desejo, menos posso nomeá-la; à precisão do alvo corresponde um estremecimento do nome; o próprio do desejo não pode produzir um impróprio do enunciado: deste fracasso da linguagem, só resta um vestígio: a palavra “adorável” (a boa tradução de “adorável” seria ipse latino: é ele, ele mesmo em pessoa).”
Fragmentos de um discurso amoroso – Roland Barthes

4 comentários:

Angelamô disse...

Que porção, talvez incrivelmente pequena, que acidente?

jubs disse...

gente: " uma maneira de fumar, abrindo os dedos pra falar", é bem coisinhas e nóis, como o amor é simples e óbvio...adorei!
beijo

Anônimo disse...

que lindo, e poético, e triste...
tão lindo...que chega a doer

Anônimo disse...

Êta vida besta!Né não!?