11.7.06

Jirlene

Ji trabalha comigo. Na verdade Jirlene. Faxineira. Veio de Alagoas mocinha para trabalhar. Encontrou um traste, que antes de casar não era tão traste.
-Senão eu não tinha casado, não e?
-É.
Adorável namorado machista que se transforma em maldito marido machista. A posse quase de brincadeirinha, bonitinha, joguinhos de amor. Confirmada explicitamente, mudado o sobrenome, também a violência torna-se explícita. Os empurrões, as ameaças. O casamento não é mais uma opção de amor e realização social. É agora de pressão social e medo. Não podem largá-los Não os amam e não podem largá-los. E minha cabeça limitada pela minha condição, tem dificuldade de pular o muro.
-Mas você trabalha..... já disse que ele não dá nada nem para você e nem para sua filha....
-É, mas ele não sai de casa, diz que eu tenho outro.
- Sai você.
_ Tem a Greice....
- A Greice tem nove anos..... aos poucos ela entende....
- Ela diz que eu vou achar outro homem. Ela fala assim: Mãe, e se você achar outro homem, e ele mexer comigo?
Frio no estômago. Ela tem nove anos. De onde ela tirou essa idéia?
- Ji, presta atenção nela. De onde ela tirou isso? Você não acha que ela vai estar melhor só com você. Você mesmo disse que o traste é um inútil, peso morto, um estorvo para quem você é obrigada a lavar, passar e cozinhar.
- Eu tô vendo dois cômodos perto da minha irmã. Ia ser bom porque ela me ajuda, pode ficar com a Greice. O dinheiro que eu pago a moça onde a Greice fica, pode pagar quase inteiro o aluguel.
- A Greice fica na casa de outra pessoa? De quem? Tem homens lá?
Bateu o sinal. Ji sai correndo para limpar a lousa. Vou para sala de aula. Pensando na Greice. Linda, com um cabelo bem comprido, morena....Pensando coisas ruins. Vontade de chorar... e de ter grana para pagar o aluguel delas. De sentar e contar uma história para a Greice, triste, porém pedagógica. Torcer para que tudo seja só paranóia, que ela não entenda essa história. E que a dela seja mais bonita.

Nenhum comentário: