23.2.07

Carnaval no barril de pólvora.....



Minha gente...o Rio de Janeiro é realmente lindo.... Não é a toa que aquele pessoal endinheirado da bossa nova só queria saber de beber um visqui e olhar pro mar.... E cada vez mais me convenço que moro na cidade mais feia, cinza e insalubre do mundo.
Além da paisagem, descobri que, lindamente, os cariocas são otemos em seu habitat natural. Gentis, simpáticos, de braços para o mundo e não odeiam loucamente os paulistas. Pelo contrário, apenas nos acham neuróticos e feios, brancos e com barriga. No fundo, o carioca tem pena da gente e por isso é até solidário....
Mas além de tudo, passar o carnaval em um barril de pólvora é no minímo uma experiência interessante. Tem muita coisa para pensar o tempo todo. Enquanto no bloco toca o bom e velho “chegou a turma do funil.... todo mundo bebe, mas ninguém dorme no ponto...”, ao lado tem um gringo passa mal achando que realmente chegou na Babilônia colorida e com muito sol. São detestáveis e onde eles chegam, em lugares com atrativos para eles, para a gente só resta duas posições: odia-los ou se comportar idiotamente como os tais, tratando todos os pretos que vendem cerveja como seus escravos do subdesenvolvimento que deveriam agradecer pela mão estendida via consumo. São os imbecis que vem para cá procurar as belas putas cariocas e pisar em muleques pretos que se esgueiam para recolher uma latinha entre as pernas brancas.
Em outros lugares, o carnaval é dos cariocas e, nós, turistas, somos apenas o detalhe. Aí é um sururu lêlê! Divertido, esbórnia, como todo carnaval deveria ser.
Além do carnaval em si, a distribuição espacial da cidade merece bem algumas cervejas de discussão.

No Rio, a praia,enquanto espaço público, horizontaliza as relações e permite maior harmonia entre as classes.

Hahahahahaha

Essa é a maior chacota da era. Os espaços, apesar de públicos e abertos, deixam bem claro quem é quem. Quem serve e quem é servido. Nós e eles. Sempre.
O fato é que a ideologia dominante, aquela que prega trabalho, seriedade e mais trabalho, funciona muito. Apesar do famoso jeitinho, da corrupção praticamente inerente as relações e presente em tudo ( já que tudo parece facilmente negociável), a galera quer muito trabalhar. De qualquer jeito. Se realmente, como apregoam os sociólogos positivistas que associam diretamente pobreza e barbárie, todos os pobres que não tivessem acesso a lenda da oportunidade, fossem se tornar traficantes, ladrões ou arrastadores de criancinhas para fora de carros.... meu irrrmão, aí a galera ia ver o que é a chapa ixquentar.
Se realmente o ser humano fosse um ser estúpido, sem escolhas e absolutamente determinados apenas por seu meio material, o barril de pólvora já tinha explodido e de um jeito muito feio. As favelas, os rastilhos de pólvora, estão incrustados dentro dos limites da cidade onde o dinheiro circula de fato, e não nas rebarbas como em São Paulo. São focos de miséria no meio da fartura ostensiva. Ou seja, a contenção (repressão policial e pensamento único baseado em uma moral escrota e burguesa) é muito eficiente, porque dado o grau de diferenciação social convivendo em espaços muito próximos.... Bom, fica a cargo do leitor pensar o que poderia ser o mundo (ou simplesmente o Rio) sem a rede globo e suas novelas que mostram os dramas da elite carioca e a subserviência dos empregados sem vida própria, limpos e felizes por terem a oportunidade de serem serviçais daquela gente tão bonita...
Ou apenas, sem o caveirão que metralha pessoas como se fossem pombas.

Um comentário:

Anônimo disse...

Um fato que me intriga bastante é aqueles sobrevôos na cidade maravilha que passam na televisão... Como eles conseguem não mostrar as tantas favelas?! E já ouço a voz ao fundo: "Higiene, meu caro, higiene...".

Ainda em tempo: já seria um absurdo metralhar pombas...

beijo del
>>>i_2>>>