5.2.07

Quando se tem que ir....


Pois é... apesar do olhar que sorri na paisagem, essa foto, o indivíduo em aparente harmonia com o mundo que o cerca, me lembrou despedida, desencontro. Lembro quando chorei, da janela de um ônibus, apenas com o adeus de uma senhora que se despedia de um casal com duas criancinhas, e que enfrentariam, com muitas e muitas malas, tantas horas de viagem quanto eu. Apenas não consegui pensar que eles estavam de férias como eu. A senhora chorava e eles, ficaram na janela até a curva que definitivamente limparia as lágrimas da paisagem. Pensei que o casal parecia estar se mudando, procurando algo em algum outro lugar, já que ali não havia. Procurando emprego provavelmente, porque pessoas amadas estavam ali. A senhora chorando na saída da rodoviária, e eu chorando por todos aqueles que precisam deixar sua casa, sua cultura e seus amores, para buscar dinheiro, a suposta oportunidade de vida melhor e que geralmente não se realiza, apenas mais uma ilusão dentro dos muitos mitos de ascensão e mudança de vida.
Pensando um pouco nisso, e na máxima do mundo globalizado que é ver bolivianos, sendo explorados por coreanos em São Paulo, fui até a Cantuta, feira de imigrantes bolivianos. Vi comidas típicas, músicas tradicionais, pessoas se encontrando.... mas principalmente vi tristeza, acanhamento, dificuldade de lidar com a língua.... vi apenas estrangeiros deslocados e mal recebidos, mal tratados em meio as placas que anunciavam facilidades para fazer ligações e enviar dinheiro para casa. Enviar dinheiro? Daqui?
Muito mais triste e desolador do que imaginar as dificuldades que atravessam a vida dessa gente, é pensar que essa merda, muito provavelmente, ainda é melhor do que as condições de vida da qual saíram.
O maldito do dinheiro separa famílias não em nome de uma nova forma de ver o mundo, de novos valores de libertação, mas em nome da sobrevivência que ainda assim, permanece humilhante e indigna.
E enquanto isso, do alto da miséria humana que controla o mundo, permanece a proliferação da ideologia de que agora, não existem mais fronteiras, de que o mundo é livre para que circulemos por ele em busca das melhores oportunidades. Enquanto nas rodoviárias, só se vê sonhos ludibriados e fronteiras cada vez mais claras e impostas. Segregados não apenas pela origem de seus rostos e costumes, mas essencialmente, pela miséria que grita em todo o seu ser.

2 comentários:

Futebol e Resistência disse...

percebe nesses adeuses uma pergunta: há deuses?

Anônimo disse...

gozado....tenho a mesma sensação todas as vezes q estou na rodoviária, desde q saí da minha cidade......as mesmas cenas, as mesmas lágrimas...