16.9.07

Ainda que tardia....

A palavra liberdade, a idéia de liberdade, a busca por liberdade, ou mais, o que é afinal liberdade? No nosso mundo, esse que a gente já pegou meio novo, meio pronto e meio acabado, num ritmo tudo ao mesmo tempo agora. E que evoca o tempo todo em propagandas, em modelos de vida, em questões filosóficas, enfim, em grande parte da nossa vida nos deparamos com milhões de idéias sobre o que se concebe como liberdade.
Enfim, o apelo pode ser desde desejos muito bonitos até propagandas escrotas que colocam liberdade como um subproduto consequente do consumo. O indíviduo livre é aquele que consome.Ponto.

Muito bem, e nisso, a liberdade sugere uma opressão fudida para aqueles que não se encaixam por algum motivo.

Mas e no amor? Por que muito da liberdade hoje propagada, e que se afirma no indivíduo, simplesmente desaparece quando se trata de relacionamentos, a não ser aqueles ditos superficiais e que também se colocam como parte do consumo?

Por que "em nome do amor", convertido em relacionamento "sério", tirânica e sadicamente, pessoas se dão ao trabalho de limitar a liberdade de outra pessoa, que não é ela? Liberdade e relacionamentos são palavras opostas (já dizia o pagode... "o que é que eu fazer com essa tal liberdade, se estou na solidão pensando em você?" hehehe) Não acho obviamente que o amor não seja sincero, nem que as intenções sejam ruins. Mas parece que se quer conhecer o outro tão profundamente que passa ser impossível cogitar que ele faça, ou mesmo pense, coisas não reveladas, no limite, que ele tenha "pedaços" de vida do qual o parceiro não faz parte.
Aí me ocorre a pergunta: E quando é que nessa vida podemos conhecer alguém por inteiro?
Ou melhor, quando podemos deixar de ser indivíduos, para nos tornarmos um casal, como se existisse um fenômeno psíquico e biológico que permitisse tal união plena? Como assim, agora dois são um? Ahn?

Só pensando... falar de fora é sempre fácil. Pensar sobre relacionamentos sem se estar vivendo plenamente um, são apenas confabulações sem aplicação prática...

Mas daí caiu um livrinho de muito tempo atrás na minha mão. Sobre o amor. Quando minha cabeça está assim, normalmente quem socorre e ilumina algumas idéias é a poesia. Mas não hoje... Hoje a poesia não dá conta. A cabeça está fritando demais...

"Há um meio, um desesperado meio, de conhecer o segredo: é o do completo poder sobre a outra pessoa; poder que a obrigue a fazer o que quisermos, pensar o que quisermos, que a transforme numa coisa, nossa coisa, posse são nossa." p. 42

Credo.... horror... assim eu também não quero...

Mas, adiante:

"O outro caminho de conhecer o "segredo" é amar. O amor é a penetração ativa na outra pessoa, em que meu desejo de conhecer é distilado pela união. No ato da fusão, eu te conheço, eu me conheço,conheço a todos - e nada "conheço".

(...)O amor é o único meio de conhecimento que, no ato da união, responde a minha pergunta. No ato de amar, de dar-me, no ato de penetrar a outra pessoa, encontro-me, descubro-me, descubro-nos a ambos, descubro o homem", p.44

Erich Fromm - A arte de amar.


Pois é... talvez essa conversa não deveria ter começado por liberdade. Começar por respeito me parece um caminho mais concreto para a partir daí poder pensar o que é liberdade. Respeito aos sentimentos, à auteridade, ao ser humano, aos desejos... enfim, respeito para com tantas coisas que estão em baixa.

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