28.7.08

Ansiedade

Passei o dia pensando em ansiedade... Muita gente reclama da mesma coisa, fala sempre dela, e sempre de uma forma ruim, negativa. Como algo que atravanca a vida. Se o mercado oferecesse produtos que combatem a ansiedade em prateleiras de supermercado como faz com os iogurtes para quem tem prisão de ventre, esse seria com certeza a mercadoria da vez...
Bom, para isso existe o mercado de auto-ajuda, e tudo pode ser facilmente encontrado até em postos de gasolina.
Enfim, eu também sinto a ansiedade como uma limitação que geralmente impulsiona grandes cagadas da vida.
Ansiedade demais descontrola, faz a gente meter os pés pelas mãos em situações ridículas, principalmente naquelas aventuras que envolvem paixão. Sabe aquela boa e velha grudada no celular, angustiada por um toque com nome específico? Pois é, ansiedade. Esperar com o celular na mão, não faz a menor diferença ( a não ser que você acredite que está transmitindo energias que sensibilizarão o ser amado). Ele vai ligar ou não, independente do seu desejo...
Não estava pensando em amor especificamente. Mas quando se pesquisa a palavra no google, só aparecem sites de psicologia e mensagens piegas de amor (geralmente com rosas no fundo). Só estava confabulando tudo isso, para pensar se ela é mesmo tão ruim. A ansiedade vem também do desejo, uma das nossas mais humanas características. De amar, de fazer direito, de ter momentos felizes.
Tenho medo de toda essa normatização, na qual não podemos ser loucas. Temos que ser sempre centradas e normais. Ora, como ser sempre assim? Como não sair do eixo nunca?
Só a base de muitos ansiolíticos. As tais bandejas de iogurte.
No onda das tendências orientalizantes pensadas como contra-ponto a essa merda de "provisório permanente" que é a modernidade, claro que sempre queremos um certo equilíbrio e paz. Mas isso são momentos de ilusão e bem estar. Precisamos de coisas que aliviem a tensão e nos acalme porque o mundo é imbecil e sem lógica. Só não dá para ser ansioso, quem não vive nesse mundo. Não dá para consertar só o indivíduo. É falso e imoral. Mais sensato é talvez aprender a se perdoar quando a ansiedade nos causar momentos desagradáveis e ressacas morais. Como está registrado no aforismo escatológico da Encantadora de gatos, a questão é como se lida com a merda, já que fazê-las é inerente a nossa condição.
Ah, além dos poemas cafonas, dos remédios e dos conselhos de auto-ajuda, também achei um poema bonito do Cruz e Souza. Nada como os poetas para universalizar nossas angústias particulares.
Ansiedade
Esta ansiedade que nos enche o peito
Enche o céu, enche o mar, fecunda a terra.
Ela os germens puríssimos encerra
Do Sentimento límpido, perfeito.
Em jorros cristalinos o direito,
A paz vencendo as convulsões da guerra,
A liberdade que abre as asas e erra
Pelos caminhos do Infinito eleito.
Tudo na mesma ansiedade gira,
Rola no Espaço, dentre a luz suspira
E chora, chora, amargamente chora...
Tudo nos turbilhões da imensidade
Se confunde na trágica ansiedade
Que almas, estrelas, amplidões devora.

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