28.9.09

Olhos de passagem...

Dei o sinal para descer do ônibus. Trânsito. Chuva. E um ônibus emparelhado junto ao que eu estava. Levantei a cabeça para fora querendo não ver nada... mas encontrei aqueles olhos. No outro ônibus, esse sim lotado. Olhos tão vivos que destoavam dos restos de seres humanos pendurados no ônibus se arrastando para casa. Só ele parecia vivo. Só seu olhar me trazia qualquer grandeza, qualquer alma ou humanidade. E me olhava sério, direto e reto. Desvio o olhar. Não aguento e volto a procurá-lo. Continua lá, mais firme,mais incisivo. Parecia brincar com meu constrangimento. Não queria mais olhar... e olhava. Não queria que fossem tão bonitos, que ficassem tão claros contra a luz, que me interrogassem tanto. Mas queria que durassem para sempre. Sobre mim. Nua para aquele olhar em pleno 875-C Lapa.

O sinal abriu. O ônibus dele acelerou. 575M-10. Foi me abandonando como quem parte numa expedição para o novo mundo... Perdeu-se de mim. Olhos que se perderam no anonimato da cidade. Que eu nunca mais verei, mas que me acompanharam por todo o resto da noite, madrugada e sonhos adentro...

2 comentários:

Lia Kayano Morais disse...

uau... parece até que eu "vi" essa cena... ai que bom ter amiga escritora para me ajudar a lembrar que essa cidade também tem lá sua poesia, mesmo sendo uma poesia triste. amocê

strl disse...

Cath, continue assim!!! Vc é o nosso GPS de Sampa (Guia Poético de Sobrevivência)!!!
Beijo.