12.11.07

Contenção

Sempre fico meio triste quando acabo um romance... É besteira, mas durante um tempo, eles viram meus amigos, meus companheiros de vida e busão. Começo a viajar como tal figura se sairia em x situação. Aprecio alguns valores dos personagens e detesto outros, prometendo sempre não fazer igual. Enfim, por meio do mundo criado pela narrativa do romance, acabo por entender um pouco mais minha própria narrativa...

Hoje o Martin Eden me abandonou. Fazia exatamente um mês que divídiamos angústias. Tentei economizar as últimas páginas, reduzi o ritmo de leitura, me afastei durante uma fase de leituras obrigatórias, li um outro romance mais curto no meio... Mas não deu. Hoje fiquei ansiosa para saber como ele solucionaria a vida que ele se esforçou tanto, todo o livro para conseguir.

E foi uma tristeza só ...

Tudo o que ele queria não passavam de coisas vazias. O amor que ele achava que sentia, na verdade era a idealização criada sobre uma mulher "pálida e burguesa", egoísta e que o abandonou quando ele mais precisava. Quando a fama chegou, quando ele se tornou "rico, bonito, famoso e solteiro", a imbecil voltou, confirmando a menina idiota e mimada que sempre foi e a idéia de que a pessoa amada por ele, na verdade, nunca existiu.

Sempre admirei e respeitei bastante os suicidas. Principalmente os suicidas ditos "vitoriosos". Eles escolheram, não tem porque não ser um decisão digna como as outras...

No outro romance que intercalou as aventuras do rapaz em questão, existia o Miguel que ficou comigo só alguns dias... Ele era quase um suícida. Passou a vida sofrendo por achar que amava e se casou com uma mulher que sempre gostou de outro. Preparou a partida para uma segunda - feira, e só então se deu conta de que a data foi escolhida porque era depois do futebol de domingo... E então desistiu.

Miguel não era um suicida. Era só um infeliz incapaz de lidar com o amor. No fim, se descobre que sua mulher o amava muito. Ele é que só era capaz de acreditar no que lhe alimentasse o pessismo.

Mas o Martin Eden não buscava motivos para ser infeliz. Ao contrário. Lutava com todas as patinhas por coisas que acreditava que lhe fariam feliz. Era pobre, fudido e queria ser escritor e ganhar dinheiro só para poder casar com a imbecil que não foi capaz de nada para lhe retribuir todo o amor que ele lhe destinava. Dizia que o amava, mas não bancou o universo diferente e mal visto ao qual ele pertencia. E, não aceitar o universo do outro e pior, tentar mudá-lo, é gostar de alguém que não existe.
Enfim, o vazio foi maior do que o gosto nas coisas que possuía a sua volta: dinheiro, fama, mulherada pra todo o lado...

Mas esse mundo não é feito de Martin Edens e sim de Migueis.

E a pergunta que me ficou na cabeça: Até quando o futebol de domingo vai continuar segurando essa vida?

Respeito realmente os suicidas. Acho sinceramente bem fácil entender os que se vão... Interessante realmente é entender como, nesse mundo, tantos ficam ...

Qual é o futebol de domingo de cada um?

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