11.1.08

Sobrevivemos

Penso que todo mundo tem um pouco de sobrevivente da sua própria história. Nessa trajetória de acúmulos de experiências, ou seja, dores e alegrias, por mais que os momentos bons ou ruins passem, algo sempre fica com a gente. Vai nos moldando a existência e nossa forma de enxergar o mundo. O fato é que não é fácil para ninguém lidar com as próprias marcas, acho eu que, disso ninguém escapa.
O que vai sair disso, se pessoas ditas "normais" ou não, além de depender da referência do que é "normal", nem um caminho ou outro demonstra que se lidou bem com todas as informações e tragédias, seja do meio em que se nasceu, ou seja, a estrutura material e familiar, seja das escolhas proporcionadas por essa base que não foi por nós escolhida.
Portanto, parece que temos duas linhas que regem a vida: Uma que não escolhemos, que nos foi dado pela própria idéia de passar a existir em algum lugar e tempo. E outra linha regida por nós mesmos, por nossas escolhas, ainda que também profundamente condicionadas pelos pressupostos anteriores.
Bom, fiquei pensando nisso lendo "O Rio do meio" da moça que citei no post anterior. Tranquilo de verdade ninguém é. Mesmo aquele sujeito mais enquadrado, bestinha, que parece não ter cerébro a não ser um comprado em uma liquidação, também tem seus questionamentos e crises. Podem não ser as que considero mais profundas, mais isso é um critério meu, também criado a partir da minha vida.

Pois é, mas de verdade, apesar de saber que todos possuem um universo particular, me encantam os guerreiros. Acho que é porque tenho me sentido mais fraca do que de costume, mais suscetível, uma sobrevivente não tão digna, não tão esperta.
E admirando os guerreiros, tenho cada vez mais raiva de gente que anda com sua ferida exposta como se aquilo fosse o seu orgulho de existir e por isso, tivesse que ser desculpado por todos de todas as suas atitudes escrotas.
O sofrimento não é apenas o seu ser. É sua máscara. Sua justificativa para tudo.
Não sei se em todos os meios, mas tenho a impressão que no mundinho fflch, convivemos muito com gente louca para ser louca (citando a companheira Juju). Em geral são egoístas, acham que sua dor é maior do que a de todo mundo, são barriguinhas e desagrádáveis. Querem ser diferentes pelo sofrimento. E assim também se acham melhores. Pairam sobre uma humanidade, que consideram medíocre.
Por vezes também me sinto um pouco como esse tipo de gente. Mas penso nisso justamente porque não quero ser assim. A minha dor não pode me dar o direito de causar a dor no outro.
Me esforço. Tento não ser o que abomino. Aproveitar e aprender tudo o que der de situações quase surreais de tão absurdas e sem sentido.
A verdade é que desisti de entender.
Por hora, me contento em tentar não ser igual.

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